Meditando sobre a questão do pedido de adesão da Guiné-Equatorial à CPLP, concluo por uma posição favorável.
Porquê?
Por várias razões histórico-políticas e realistico-imaginativas...
Historicamente, fomos nós, os portugueses, os primeiros europeus a desbravar aquela região do Golfo da Guiné e, portanto, temos toda a legitimidade para estabelecer laços preferenciais de cooperação com qualquer um daqueles países. Sucede que, entretanto, fomos substituídos em todos eles por outras potências coloniais ficando a Lusofonia ultrapassada pela francofonia e pela anglofonia. A castelofonia não vingou no Golfo da Guiné, pura e simplesmente, pelo que não apresenta qualquer sinergia real ou potencial. Em termos de estratégia de cooperação internacional, a Guiné-Equatorial só poderia optar pela francofonia ou pela anglofonia com todos os inconvenientes que teria que enfrentar por ser mais fraco do que qualquer dos países regionalmente membros dessas tais fonias correndo quiçá riscos na manutenção da sua soberania nacional. Ou se mantinha isolada no contexto internacional ou optava pela Lusofonia.
1ª Conclusão: a adesão à Lusofonia é do interesse da Guiné-Equatorial e é mesmo a sua «tábua de salvação» (para a população nacional tanto lhe faz aprender português como 1ª língua estrangeira como lhe faz aprender francês ou inglês pois no dia-a-dia continuará a falar as línguas indígenas).
Do lado do mundo lusíada, que problemas temos se aceitarmos a adesão de um país riquíssimo em matérias-prima pelas quais temos a maior apetência? Dir-me-ão que se trata de um país em que prevalece uma ditadura, onde não são respeitados os Direitos do Homem, em que não há Sindicatos livres, em que a política de protecção do Ambiente é letra morta. O meu silêncio só será entrecortado por suspiros de nostalgia relativamente à situação angolana... Mais: a convivência com o mundo lusíada só poderá gerar influências benéficas com vista a alguma democratização do regime político desse país.
2ª Conclusão: a adesão da Guiné-Equatorial à CPLP só peca por tardia.
Admito que para a arrogante Espanha esta adesão da Guiné-Equatorial à esfera de interesses do desprezível Portugal e da Lusofonia possa ser um vexame histórico e que, portanto, tudo faça para que tal não aconteça; admito que para a sôfrega França esta adesão da Guiné-Equatorial ao mundo lusíada seja uma facada na estratégia de reconstituição duma imperial francofonia (França não abandonou a cobertura do CFA pelo seu Banco central enquanto Portugal não fez algo de equiparável e perdeu a emissão monetária na Guiné-Bissau); admito que também a Grã-Bretanha esteja sequiosa do petróleo da Guiné-Equatorial.
3ª Conclusão: todos os motivos apontados justificam a preferência que a Lusofonia deve dar à adesão da Guiné-Equatorial à CPLP.
O resultado mais prosaico da minha meditação: um pouco mais de petróleo não incomodará os nossos interesses estratégicos…
Andam alguns dos "iluminados" da nossa praça apoquentadíssimos porque a Guiné Equatorial vai pertencer à Comunidade dos Povos de Lingua Portuguesa (CPLP), muito incomodados por ser uma ditadura. Não se incomodaram nada quando as ditaduras cleptocráticas angolana e moçambicana entraram para a Comunidade, mas, claro, a gente sabe que há ditaduras boas e há ditaduras más...
Se nós tivéssemos estadistas e não "políticos" e se os comentadores não se enleassem na micropolítica e tivessem um mínimo de conhecimento histórico, talvez vissem essa entrada de outro modo.
Sem alardear grandes sabedorias e revelações - despropositadas aqui e agora - sempre direi o seguinte: parte substancial do estado que vai entrar é constituído historicamente por territórios (ilhas de Fernando Pó e Ano Bom) que foram portugueses cerca de trezentos anos... Descobertas por Fernando Pó em 1471, foram cedidas à Espanha em 1778.
Trocadas por território no Brasil, a troca foi tida como traição pelos habitantes, que se revoltaram, e de tal modo, que os espanhóis só no final do século XIX, conseguiram ocupar efectivamente as ilhas, aceitando que os revoltados "portuguesistas" se mantivessem praticamente independentes, elegendo um conselho de cinco membros que os governou ao longo dos anos...
Nestes mesmos territórios, os habitantes têm a "Fá de Anbó" - fala de Ano Bom, crioulo português - como meio de comunicação. Além de outras tradições arreigadamente portuguesas.
Sabemos bem que as ditaduras vão e vêm, os povos ficam para além das contingências e dos acidentes. Se os opinadores soubessem um mínimo de história, seriam mais comedidos nas suas opiniões.
Assim, ao contrário do Professor Rebelo de Sousa e de outros, tenho muito orgulho que os de Ano Bom e Fernando Pó reentrem na Comunidade da Língua do País que há trezentos anos os abandonou e traíu...
Meditando sobre a questão do pedido de adesão da Guiné-Equatorial à CPLP, concluo por uma posição favorável.
Porquê?
Por várias razões histórico-políticas e realistico-imaginativas...
Historicamente, fomos nós, os portugueses, os primeiros europeus a desbravar aquela região do Golfo da Guiné e, portanto, temos toda a legitimidade para estabelecer laços preferenciais de cooperação com qualquer um daqueles países. Sucede que, entretanto, fomos substituídos em todos eles por outras potências coloniais ficando a Lusofonia ultrapassada pela francofonia e pela anglofonia. A castelofonia não vingou no Golfo da Guiné, pura e simplesmente, pelo que não apresenta qualquer sinergia real ou potencial. Em termos de estratégia de cooperação internacional, a Guiné-Equatorial só poderia optar pela francofonia ou pela anglofonia com todos os inconvenientes que teria que enfrentar por ser mais fraco do que qualquer dos países regionalmente membros dessas tais fonias correndo quiçá riscos na manutenção da sua soberania nacional. Ou se mantinha isolada no contexto internacional ou optava pela Lusofonia.
1ª Conclusão: a adesão à Lusofonia é do interesse da Guiné-Equatorial e é mesmo a sua «tábua de salvação» (para a população nacional tanto lhe faz aprender português como 1ª língua estrangeira como lhe faz aprender francês ou inglês pois no dia-a-dia continuará a falar as línguas indígenas).
Do lado do mundo lusíada, que problemas temos se aceitarmos a adesão de um país riquíssimo em matérias-prima pelas quais temos a maior apetência? Dir-me-ão que se trata de um país em que prevalece uma ditadura, onde não são respeitados os Direitos do Homem, em que não há Sindicatos livres, em que a política de protecção do Ambiente é letra morta. O meu silêncio só será entrecortado por suspiros de nostalgia relativamente à situação angolana... Mais: a convivência com o mundo lusíada só poderá gerar influências benéficas com vista a alguma democratização do regime político desse país.
2ª Conclusão: a adesão da Guiné-Equatorial à CPLP só peca por tardia.
Admito que para a arrogante Espanha esta adesão da Guiné-Equatorial à esfera de interesses do desprezível Portugal e da Lusofonia possa ser um vexame histórico e que, portanto, tudo faça para que tal não aconteça; admito que para a sôfrega França esta adesão da Guiné-Equatorial ao mundo lusíada seja uma facada na estratégia de reconstituição duma imperial francofonia (França não abandonou a cobertura do CFA pelo seu Banco central enquanto Portugal não fez algo de equiparável e perdeu a emissão monetária na Guiné-Bissau); admito que também a Grã-Bretanha esteja sequiosa do petróleo da Guiné-Equatorial.
3ª Conclusão: todos os motivos apontados justificam a preferência que a Lusofonia deve dar à adesão da Guiné-Equatorial à CPLP.
O resultado mais prosaico da minha meditação: um pouco mais de petróleo não incomodará os nossos interesses estratégicos…