OS SINTÉTICOS
Se em vez de nos perguntarmos o que é a metafísica nos perguntarmos qual é a função do metafísico, chagamos à conclusão que o metafísico é a realidade viva e a metafísica não passa duma abstracção.
Há metafísicos mas a metafísica não existe.
Mas os metafísicos desenvolvem uma função central na sociedade: são os unificadores, os sinópticos, os sintéticos, os resumidores da totalidade da experiência e da totalidade do saber de uma determinada época; podem estar orientados para a unidade do ser, do sentido, do conhecimento, do valor ou do método; vivem neste mundo como os restantes homens mas respondem a outros impulsos.
Em certo sentido, estes sinópticos vêem mais, a saber, as tendências unitárias que escapam aos outros, contemplam o todo com olhar novo e partindo de pontos de vista inesperados; por outro lado, vêem menos pois deixam de lado pormenores que se encontram à margem da sua concepção. O seu tema é criar os pressupostos intuitivos e conceptuais, o sistema de coordenadas e esquemas que servem para tornar possíveis as novas doações de sentido da vida humana e da existência.
Precisamente numa época como a nossa em que as Igrejas perderam extensamente o poder sobre os homens, poderia o metafísico exercer uma função salvadora. É seu tema realizar actos fundamentadores de sentido e de valor dividindo o ser, superando a aparência, desprezando o que não é essencial para atingir o essencial. Tem que reconsiderar, fixar e, talvez, transmutar os valores, que se interrogar se não sobrevalorizámos o ser e os valores exteriores à custa do fundamental.
O sintético tem que dar à acção novos objectivos não para transformar o mundo não em sentido extrinsecamente revolucionário mas com o fim de possibilitar uma alteração no mundo do homem, baseada numa revolução do modo de pensar.
Fritz Heinemann
In A FILOSOFIA DO SÉCULO XX, ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 7ª edição, 2010, pág. 360 e seg. (com adaptações)