RECUPERAR A INDÚSTRIA ALIMENTAR
É alarmante que os governos sucessivos desde a rendição de Cavaco Silva a Bruxelas (o início do fim, por muito que a Direita direitinha goste de apontar o dedo e atribuir as culpas aos socialistas) nunca tenham ponderado sequer uma autonomia alimentar para Portugal, uma rápida pesquisa acerca da proporção dos alimentos que importamos devia alertar qualquer cidadão consciente.
O dado que mais me chocou foi o de Portugal actualmente importar 80% do peixe que consome. Note-se, um dos países com uma das maiores zonas marítimas do mundo importa 80% do peixe que come (o mais ridículo, ou irónico se quiserem, é que parte desse pescado que importamos foi pescado nas nossas águas por franceses, espanhóis ou ingleses que depois nos vendem o “nosso” peixe fresco ou já limpo e enlatadinho, para não nos cansarmos muito), se isto não é de bradar aos céus e exigir, ainda mais em tempos de fome, a cabeça dos responsáveis, não sei o que será.
Vejamos agora os cereais, em tempos uma das maiores produções açorianas, ao ponto de em tempos os Açores não só terem sido apodados de “celeiro de Portugal” como, sendo tão abundante, se chegou a produzir whisky açoriano. Tal é uma mera memória dos nossos avós, pois actualmente importamos também já 80% dos cereais que consumimos.
A valer-me de dados que encontrei nos arquivos do DN Online, importamos também 50% da carne de vaca que consumimos (aparentemente a vaca que nos chega congelada ou empacotada num líquido suspeito que tresanda a fígado lá de longe, do Brasil e da Argentina, é mais competitiva que a produzida nos Açores). Nos produtos agrícolas é que ainda nos vamos safando, bem ou mal só importamos 30% do que consumimos, embora sinceramente eu duvide dos números oficiais (deve ser porque quando vou aos hipermercados só encontro fruta espanhola ou colombiana). Que importemos 100% do nosso açúcar também me deixou um tanto ou quanto suspeito, é que nos Açores ainda se produz açúcar, mas talvez não entre para a estatística.
A recuperação da nossa indústria alimentar além de reforçar a nossa soberania nacional (quase inexistente) e de ser o factor mais relevante para a autarcia e independência de qualquer país que se queira soberano seria também, assim o quisesse o Estado, a oportunidade de empregar centenas de milhares de portugueses. Já imaginaram? Reconstruir a frota pesqueira, recuperar a lavoura, fazer renascer a indústria transformadora, por si só não empregaria e alimentaria toda a nação?
Lisboa, 7 de Fevereiro de 2013