NATAL
Natal já tem traz de porta
Logo cai na quartafêra;
Vença nos armá presepio
E aranjá candêa cera.
Nôs tem sagrada familia,
Pastor, vacca tem bastante;
E tem também três Rê mago
Montado na elephante.
Nôs tem Minino Jesús,
Sam José com Nossiôra;
E tem bastante pastor
Com dez ou doze pastora.
Mandá fazê unga estrado
D' altura de nosso pêto;
Armá presepio de riba
Logo pôde olá bemfêto.
Nôs dipois de missa-gallo,
Vamos sandê todo luz;
Chomá gente de vizinho
Cantá Minino Jesus.
Na Macau padre Manuel
Com mas dôs ou três sium-sium
Chega festa de Natal
Canta: gorung, gorungung
Aqui Adeste fidelis
E venite e más venite;
Como eu non sábe latim
Ai senti que non tem chiste.
Padre Manuel na Macau
Fica na rua de Pala
Já fazê unga presepio
Que ocupá metade sala.
Sua lapa qui bonito...
De fóra inchido de fula.
Minino Jesus na pala
No meio de vaccas e mula
Nossiôra e Sam José
Ali perto dozelado,
Cobri corpo de sua filo
De frio quasi gelado.
A' riba de lapa unga anjo
Aguando desce de ceo
Co´unga letréro escrevido
— Gloria in excelsis Deo. —
Tem uma estrélla na ceo,
Qui bonito vôs olá !
E tem três rés que, de longe,
Bota óculo, observá.
Sim, padre Manuel fallá
Qui aquelle são três rés-magro
Mas eu senti bem de gordo
Tudo costa bem de largo.
Unga ré são portuguez
Otro moro, tem turbante;
Otro cafre beco grosso,
Corpo inchido diamante!
N'unga canto de presepio
Inchido de arve de côoco;
Macaco subi, descê.
Igual como jugá sôco.
Rê Herode com sua tropa
Com espada, chuça e lança,
Corê como diabo solto
Mata tudo criança-criança!
De tanto ancuza que tem,
Que eu agora já esquecê;
Mas tem unga crueldade
Eu de medo já tremê!!
Vôs olá p´ra tudo rua,
P'ra tudo canto e travessa
Inchido criança macho
Tudo morto sem cabeça.
Vae tudo vanda ouvi choro
Tudo mãi berrá, dá grito;
Sam José com Nossiôra
Fuzi com Jesus p'ra Egypto
Padre Manuel são capaz,
Elle tem bastante gêto;
Agora não pôde olá
Presepio assim bemfêto.
Filippe M. de Lima
(poeta macaense)