CONVERSAS SOLTAS – 6
Cenário – Lisboa, esplanada ribeirinha ao Tejo.
Personagens – Beltrana, Fulano e eu
* * *
Beltrana – Bom dia! Podemos sentar-nos à sua mesa?
Eu – Claro que sim! Não vos vi chegar, estava aqui no telemóvel a ver se diziam alguma coisa mais acerca do ilustre defunto de ontem.
Fulano – E do de hoje?
Eu – Hoje, quem?
Fulano – O Cruzeiro Seixas. Morreu com 100 anos. Uma bonita idade.
Eu – Não lhe conheço a obra. Li algures, já não sei quando, que é (era) surrealista. Vou ter que ver no meu amigo que sabe tudo.
Beltrana – Você tem um amigo que sabe tudo?
Eu – Tenho. Chama-se José Google da Silva mas toda a gente o trata só por Google.
Beltrana – Ah Ah! Acho que também o conheço…
Fulano – E sobre o Arquitecto dizem alguma coisa?
Eu – Não tive tempo de encontrar. Mas ele, o que era, era Engenheiro Agrónomo. Aquela da Arquitectura Paisagística foi uma maneira de ele instituir um “curso superior” de jardinagem.
Beltrana – Acha mesmo?
Eu – Acho. Não me parece que aquela temática tenha uma componente científica relevante que a eleve para além de uma ou duas «cadeiras» opcionais de «formação estética» no curso de agronomia. A componente científica é agronómica; esta arquitectura é estética. É este gasto de energias, este «faz de conta» que nos tenta enganar com gatos por lebres que não nos deixa sair da cepa torta. A quem querem enganar?
Fulano – O negócio das propinas…
Eu – Não, não creio. Trata-se de propinas públicas, não devem constituir negócio de tal modo atraente que justifique a criação de cursos fantasma. Era pura perspectiva doutoral. Mas, apesar disso, o ilustre defunto foi uma pessoa importante. Não esqueçamos que foi ele que levou o Ambiente para o Governo e foi a partir dele, primeiro Secretário de Estado do Ambiente, que nasceu a Política portuguesa do Ambiente com todas as qualidades e defeitos que lhe conhecemos.
Beltrana – Defeitos?
Eu – Sim, todos sabemos como andam por aí à solta os radicais ambientalistas que sobrepõem os passarinhos ao homem.
Beltrana – E não acha que o ambiente deve ser protegido?
Eu – É claro que sim mas não deve haver exageros nem mentiras como as que antecederam a Conferência do Clima em Copenhagen em que os cientistas foram apanhados a combinar a inversão dos gráficos das temperaturas para «provarem» o aquecimento global. Mas o ilustre defunto não teve nada a ver com isso, era um homem sério que se batia pelas causas em que cria. Os fundadores das políticas não podem ser responsabilizados pelos erros cometidos pelos sucessores. Gonçalo Ribeiro Teles foi um homem de bem que merece o louvor da Nação.
Fulano – Muito bem, está chegada a hora de irmos andando.
Eu – Vamos todos andando…
Novembro de 2020
Henrique Salles da Fonseca