Faz hoje 81 anos que foi promulgada a “lei das Espigas” na URSS, em 7 de Agosto de 1932, que proibia qualquer apropriação da propriedade socialista, mesmo umas espigas de trigo para comer e que matou de fome e de frio milhões de pessoas na Ucrânia e no Kazaquistão.
Esta fome, intencionalmente provocada por Staline é chamada de Holodomor (exterminação pela fome).
Quando vemos uma paisagem grandiosa ou o Sol que nasce incendiando o céu, quando somos fustigados pela tempestade e o trovão estala de súbito com o relâmpago que rasga a escuridão, quando estamos sós no silêncio do deserto ou na imensidão do oceano, quando ouvimos o murmúrio das nascentes e o canto dos pássaros na primavera, quando, rodeadas pela fragrância das flores, as árvores curvam carregadas de frutos e as fêmeas amamentam as crias, quando estamos perante todas as maravilhas da natureza, pensamos por vezes: Quem fez isto? Quem ensinou as coisas a serem o que são? Como é que isto acontece, sempre igual e sempre diferente? E quem sou eu?
Perante a pequenez do nosso entendimento e a dimensão do mistério, nasce naturalmente no nosso coração um sentimento de respeito e admiração pela vida, a percepção da sacralidade e da religiosidade da existência, mesmo que não lhe chamemos assim ou que nem disso tenhamos consciência.
Então, ao virar da esquina de um grande edifício de pedra, encontramos um homem vestido de negro, com um livro na mão, que nos diz que o mundo foi criado por um Deus todo poderoso, que sabe tudo, está em toda a parte e ditou um Livro com as leis às quais nós, suas criaturas, devemos obedecer. O homem de negro faz todas as perguntas e dá todas as respostas e é o único capaz de compreender o Livro e de nos guiar na obediência às suas regras.
Entramos sem querer numa caverna escura, onde já não há encantamento mas apenas medo, onde todo o prazer é pecado e todo o amor é culpado. O Livro chispa maldições e ameaças, terrores e infernos, todo o existir é tristeza, arrependimento, expiação, sacrifício, morte, almas penadas rodeando uma lamparina de azeite e a promessa de um paraíso no além, onde jorra o mel e o leite…
Cá fora, ainda corre uma brisa fresca e perfumada, o céu ainda é azul, o sol ainda brilha, a lua e as estrelas ainda cintilam, o coração livre ainda canta e dança, enquanto a inteligência nua contempla com gratidão o rio da vida que corre em direcção ao mar.