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A bem da Nação

O CERTO É QUE ESTAMOS ALIVIADOS

 

Pensar que o Orçamento passou em Bruxelas dá-nos uma sensação de beatitude por nos “encontrarmos” já a “virar a página da austeridade”, mesmo que, como manda o ministro, tenhamos que andar de transportes públicos o que não é desdouro, os comboios permitindo pôr leituras em dia. (Velhos tempos aprazíveis, esses em que o trabalho longe de casa me fazia apanhar o comboio da linha, o que era prático e de recurso para um assentar de noções de última hora, que as tarefas caseiras impediam tantas vezes de aprofundar. Doutras vezes, só o olhar pela vidraça deleitava, vendo o mar ou o rio ou os monumentos e os sítios aparentemente deslizando em sentido contrário). Mas não deixa de ser curiosa a similitude de comentários na questão dos “aconselhamentos” ao povo impaciente, de Passos Coelho e de António Costa, o primeiro aconselhando a partir para o estrangeiro, em busca de solução momentânea das dificuldades, o segundo aconselhando os transportes públicos na questão do encarecimento da gasolina. Mas a Costa, os parceiros da amizade perdoarão as descargas impacientes, a “boutade” de Passos ficará para sempre gravada nas suas ironias, sem se lembrarem de que a emigração foi sempre recurso nosso, pelos mais variados motivos, e não necessariamente “a salto” nem com mala de cartão.

 

O certo é que o Orçamento passou e a Oposição deve ficar contente por isso, sem guerra de palavras. No fundo, do que o país precisa mesmo é de gente que trabalhe, com inteligência e aplicação, embora as mudanças que o Ministério da Educação prepara para a escola, me pareçam novo fogo de vistas para massacrar os alunos e torná-los cada vez mais apanhados pela carruagem do tempo, sem pausas para curtirem a sua mocidade. Refiro-me a nova carga horária que se propõe para os alunos do nono ano, prolongando-lhes o tempo de escola, embora facultativamente.

 

Mas é o artigo de João Miguel Tavares que transcrevo, bastante justo, sem muita esperança na extinção da tal austeridade, TINA e TINinhA aparentadas nas mesmas exigências que, se faziam acusar do governo anterior de servilismo à UE, pelos peritos da esquerda, não deixarão de lhes merecer o mesmo apodo, a serem justos, pois que a arrogância inicial à Varoufakis de Costa e Cia. não pode deixar de descambar em obediência à Tsipras.

Berta Brás.jpgBerta Brás

 

A TINA e a TINinhA

João Miguel Tavares.jpgJoão Miguel Tavares

Público, 09/02/2016

 

Há um famoso paradoxo filosófico que se pode formular assim: se eu substituir a lâmina de uma faca, e de seguida o seu cabo, ela ainda é a mesma faca? Numa perspectiva ontológica, a questão não é simples. Mas numa perspectiva meramente utilitária, o que interessa é haver faca e ela continuar a cortar.

 

O orçamento de Estado do actual governo é como a faca do paradoxo: um orçamento que entrou em Bruxelas disposto a “virar a página da austeridade” e saiu com mil milhões de euros de austeridade em cima ainda pode ser considerado o mesmo orçamento? A resposta ontológica é “não”. Se compararmos o programa original de grupo de trabalho de Mário Centeno e o Frankenstein orçamental que ele se viu obrigado a defender (com evidentes dificuldades) na sexta-feira, só mesmo com testes genéticos aprofundadíssimos será possível encontrar vestígios de um pai comum. Mais. Quando António Costa afirma que, “ao contrário do que muitos desejavam, a Comissão Europeia não chumbou o primeiro orçamento do governo”, importa repor a verdade: ai chumbou, chumbou. O esboço do primeiro orçamento foi chumbadíssimo. Aquilo que a Comissão não chumbou foi a última versão desse orçamento, carregadíssima de impostos e com as metas revistas, que já pouco tinha a ver com o original.

 

Mas tudo isto interessa muito pouco a António Costa – afinal, ele é o rei do pragmatismo. Desde que se continue a chamar “orçamento” e passe em Bruxelas e em São Bento, por ele está tudo bem. Evidentemente, não é um “tudo bem” sério, como se verificou nas suas declarações de sábado, ao ser confrontado com o aumento colossal de impostos indirectos nos combustíveis e no tabaco. Nesse momento, a demagogia de Costa elevou-se à estratosfera, ao aconselhar os portugueses a “fumar menos” e a “usar transportes públicos”. O que ele se esqueceu de acrescentar é que se os portugueses começarem a fumar muito menos e a usar muito mais transportes públicos, então as receitas destes impostos caem a pique e o governo tem de encontrar medidas alternativas para compensar a queda na receita.

 

Oh, sim, António Costa virou a página da austeridade – só que na página seguinte encontrou a mesma austeridade de que se prometeu livrar. Enfim, não é bem a mesma austeridade. A austeridade da direita era feita de impostos directos. A austeridade da esquerda privilegia os indirectos. Não é já a TINA – é a irmã gémea, a TINinhA.

 

Mas agora vêm as boas notícias: se o novo orçamento tem tudo para correr mal em termos económicos, dada a manifesta ausência de uma perspectiva de futuro e de um caminho sustentável para as finanças públicas, a sua aprovação em Bruxelas, ainda que com reservas, é uma boa notícia política. A ninguém aproveitava uma crise neste momento. Se o regoverno de António Costa conseguiu instalar-se, há que o deixar regovernar. A frente de esquerda tem de poder praticar todas as suas espectaculares políticas de crescimento e tem de lhe ser dado tempo para elas falharem (mais uma vez). Ora, este orçamento é suficientemente mau para que todos percebam onde essas políticas nos levam (mais uma vez); mas não suficientemente mau, graças à intervenção da Comissão Europeia, para obrigar a um novo resgate em 2018. Nesse sentido, não vale a pena dramatizar, porque poderia ter sido bem pior – bastaria Bruxelas ter engolido a matemática à portuguesa. Como não engoliu, o regoverno merece agora uma folga, para poder namorar com a TINinhA.

MAIS UM DAQUELES

Alberto Gonçalves.jpg

 

Alberto Gonçalves, um herói dos novos tempos, na determinação dos seus princípios, na coragem com que os afirma, certamente que arrostando os insultos, tantas vezes obscenos dos tais “patriotas” dos novos tempos, aqueles para quem a designação “pátria” continua a limitar-se ao povo esmagado, à maneira sensível das personagens de Gorki, pelo menos as de que me lembro do livro “A Mãe”, lido nos tempos impressionáveis da juventude. Foi uma obra que até parece ter motivado os russos para a execução em bloco da realeza reinante, em função, é certo, de futuras ditaduras russas igualmente de grande rigor executivo, embora de pendor mais proletário, pelo menos enquanto se não consolidou a aristocratização dirigente, fruto das naturais ambições de contínua melhoria do status pessoal. Essas ideologias também por cá estão em pleno destaque, frisando uma ditadura do proletariado não só através dos chefes sindicais, como através das greves e das marchas reivindicativas que, aliás, os sindicatos e os partidos próprios impõem. E o país vai esmorecendo, com as exigências dos benefícios sociais constantes, como direitos próprios e sem estímulo ao trabalho, na inveja dos “ricos” – a suprimir - segundo Alberto Gonçalves, «os ricos que trabalham no sector privado, os ricos que auferem mil euros, os ricos que fumam, os ricos que bebem, os ricos com carro, os ricos com filhos, os ricos sem filhos, os ricos com conta bancária, os ricos que comem tostas, os ricos que pagam os feriados, os ricos que pagam IRC, os ricos que pagam os juros da dívida, os ricos que pagam um manicómio com a capacidade de atrair investimento do Butão, os ricos que vão pagar um isolamento orgulhoso e triste.» Faltou acrescentar os que usam gravata, que nos meus tempos de outrora distinguia, sobretudo, o “doutor”, e que os Varoufakis de hoje desdenham democraticamente, causando diminuição na venda do produto.

 

E a diatribe sobre o “castigo dos ricos” é uma pequena definição que mereceria ser recortada – como, aliás, todo o artigo – e reproduzida por toda a imprensa não manipulada por sectarismos obtusos e vilipendiosos da tolice nacional. Um artigo, para mim, “o máximo dos máximos”, para usar um recurso de superlativação ao modo salomónico do “Cântico dos Cânticos”. Por ser corajoso. Por ser suficientemente erudito, sintético e crítico. Por defender valores e sentimentos sem se deixar intimidar pelas opiniões contrárias, dos tais para quem a anarquia e a licença representam o nec plus ultra da modernidade e da virtude.

 

Lembro um filme que revi ontem, e que revejo sempre que a televisão o mostra, nos canais próprios. É com Roberto de Niro, no papel de um oficial do exército cego que se faz acompanhar por um jovem estudante num fim de semana em Nova York, antes de se suicidar. O jovem, sensível e bom, (Chris O’Donnell), tudo arrosta para o tornar feliz e o fazer perder a ideia do suicídio. O jovem frequenta uma instituição escolar que o catapultará para a Universidade se ele denunciar uns colegas prevaricadores. Durante o seu julgamento e o do filho do pai importante, como únicos que presenciaram o desacato dos colegas, contrariamente à pusilanimidade do “filho de papai”, o jovem Charlie (Chris O’Donnell) mantém-se firme no seu estatuto moral que o impede de denunciar os colegas, apesar da ameaça de expulsão. Mas Frank Slade (Al Pacino), entretanto aparecido na sala do julgamento, ergue-se em veemente defesa do seu jovem protegido, lembrando a extraordinária força moral por este revelada, contrariamente ao colega do “parecer que viu” indeciso, mas apesar de tudo denunciante. Um filme que, ao contrário da doutrina moderna que, na defesa da liberdade anti dogmática, relativiza todos os conceitos, pondo verdade e mentira no mesmo cesto, se atreve a defender o conceito moral como princípio fundamental da racionalidade humana.

 

Também Alberto Gonçalves se não acobarda perante os vendedores de banha da cobra, vendedores de pseudo-patriotismos, sempre aptos a erguer a férula contra a governação «à direita», perante a complacência dos que fingem acreditar que não é a pátria que eles atingem mesmo, nas tintas para essa. De toda a maneira, o risonho A. Costa promete mundos e fundos e isso é um dado que nos aquece a alma, ansiosos pela inversão do provérbio “São mais as vozes que as nozes”. Costa promete, sempre rindo, contente de si, as nozes em número superior às vozes. E nós gostamos.

 

Berta Brás.jpg Berta Brás

 

Os patriotas que vão acabar com a pátria

 

Um inglês célebre afirmou que o patriotismo é o último refúgio dos pulhas. Esqueceu-se de acrescentar que às vezes é o primeiro. Duzentos e tal anos depois, há aqui uma espécie de governo e uma espécie de maioria tão empenhados em arruinar-nos quanto em acusar de deslealdade os críticos da empreitada. É o velho método "gonçalvista" do "quem não está connosco está contra nós", naturalmente aliado ao velho método salazarista da aversão à malévola influência "estrangeira".

 

A ideia, hoje e ontem, é a de que as alucinações do PS e da extrema-esquerda, desculpem a redundância, passariam incólumes na "Europa" se não fosse a acção subversiva e o espalhafato da cáfila de "vende-pátrias" (termo curiosamente utilizado há meses pelo Avante!). Aliás, um conselheiro de Sua Ex.ª, o Senhor Primeiro-Ministro, esticou há dias a corda e a cabecinha para chamar precisamente isso aos "vendidos" que discordam desta vergonha: traidores, quase de certeza ao serviço da Alemanha.

 

Não admira que os jagunços do dr. Costa se prestem a tal papel. Admirável é haver jornalistas dispostos ao mesmo. No i, uma senhora com carteira profissional, Ana Sá Lopes, deixou fluir a imaginação e até lembrou a "quinta coluna" nazi, os míticos infiltrados de Berlim que, supostamente, derrotariam a partir do interior a Inglaterra na II Guerra. Nas televisões, vêem-se diversas glosas à tese por parte de comentadores isentos, liderados por Pacheco Pereira em matéria de isenção. Em alvoroço, garantem-nos que somos controlados por entidades não eleitas. E nem sequer se acalmam se lhes dermos razão e os recordarmos do 4 de Outubro.

 

Tudo isto a propósito do Orçamento do Estado e das respectivas exigências da Comissão Europeia. A troika, se quiserem chamar-lhe assim, reclama no fundo que gastemos de acordo com o que produzimos, ou só um pouco acima. O governo e a extrema-esquerda, se quiserem distingui-los, insiste na existência de uma alternativa à "austeridade". Por acaso, como qualquer chefe de família perceberá, existem várias: o empréstimo a longo prazo, o roubo a curto prazo, o suicídio ou uma mistura dos três antecedida de ruidosa fanfarronice, género agarrem-me ou eles espancam-me.

 

Na semana anterior, o berreiro preparou o caminho. O horror suscitado em Bruxelas pelo rascunho de OE elaborado por rascunhos de economistas provocou, cá dentro, uma divertida pândega. Para consumo interno, o PS atacava a "direita" e o BE e o PCP avisavam o PS de que não tolerariam desvios à linha justa. Para consumo externo, sujeitos anónimos ameaçaram a "Europa" com referendos, "bombas atómicas" e outras armas cujo impacto era proporcional à brutal irrelevância dos guerrilheiros. Os que, por fé ou infantilidade irreversível, acreditaram nas bravatas depararam-se com uma autêntica demonstração de patriotismo: maluquinhos convencidos de que Portugal é tão maravilhoso que a União não vive sem ele. Após engraçadas correcções e vexames (de que o elogio da sra. Merkel a Passos Coelho nas barbas do dr. Costa constituiu a punch line), a CE lá tolerou o OE e os maluquinhos correram a proclamar o fim da "austeridade" e a agitar euforicamente o consentimento dos senhores da Europa, de súbito promovidos de tiranos do capital a avaliadores consagrados.

 

A realidade? O recurso a um arremedo da estratégia do inspirador Syriza, com os espectáveis resultados do Syriza. Através do Hélder Ferreira, que escreve no Diário Económico e que Pacheco Pereira apresentou na Quadratura do Círculo como exemplo das vozes que ultrapassam os limites (tradução: insultou os patriotas, pelo que é outro insanável traidor), soube que a negociação grega foi considerada a mais desastrada de 2015 pela Harvard Law School. Não é para menos: começa-se por falar grosso com aqueles de que se depende e termina-se a aceitar tudo e um par de botas de modo a não se ser escorraçado. Pelo meio, avança-se com esmero rumo à miséria.

 

Na prática, a "vitória" diplomática do dr. Costa traduz-se no castigo dos ricos, os ricos que trabalham no sector privado, os ricos que auferem mil euros, os ricos que fumam, os ricos que bebem, os ricos com carro, os ricos com filhos, os ricos sem filhos, os ricos com conta bancária, os ricos que comem tostas, os ricos que pagam os feriados, os ricos que pagam IRC, os ricos que pagam os juros da dívida, os ricos que pagam um manicómio com a capacidade de atrair investimento do Butão, os ricos que vão pagar um isolamento orgulhoso e triste.

 

O PS apenas ganhou na medida em que aguentou no poder a criatura que manda naquilo. O PCP ganhou porque satisfez as clientelas da função pública. E o BE ganhou porque continuou a desgastar o PS. Evidentemente, perdemos todos: com os seus inúmeros defeitos, receios e desvios, a "austeridade" de PSD-CDS tinha um fim; o "tempo novo" do governo e da extrema-esquerda (peço perdão pelo pleonasmo) é o próprio fim, mas não o da "austeridade". Os patriotas de agora são os que, em prol da sobrevivência imediata, afundam deliberadamente o país de acordo com delírios pessoais. O último a fazê-lo acabou na cadeia. O candidato actual à proeza anda à solta, para desgraça dos traidores, que são muitos. Somos.

TESTAMENTO

 

Em busca do artigo de Alberto Gonçalves, parei na última página do DN de Domingo, 7/2, num tema sobre o Carnaval, julgando tratar-se de alguma chochice habitual de trocadilho sobre as máscaras permitidas por essa altura, mais reais, todavia, no resto do ano, ocultos os cinismos sob a fachada da naturalidade enganosa, ou realçados sem qualquer necessidade de ocultação, na liberdade da plenitude democrática. Não se tratava disso. O artigo de João Taborda da Gama - Carnaval, um glossário pessoal com o ante título “Dentro do Género”, não tinha quaisquer intenções beliscadoras dos foliões do Carnaval, lembrando, com requinte, as partidas pregadas hoje e ontem com os instrumentos do engenho humano, cada ano mais enriquecido pelo empenhamento mercantil. O requinte de um descritivo de violência e arte no uso dos meios para causar o dano alheio nesses dias de permissividade licenciosa surge, assim, em serena abundância de pormenor que provoca um riso aberto, senão mesmo a gargalhada divertida. João Taborda da Gama deixa aos filhos – como herança - as suas experiências de longa data, sem intenções moralizadoras, aluno que foi, certamente, amante de tropelias, que quase beatifica os seus excessos pela serenidade e humor com que os revela, e que nos merecem um bravo, sem dúvida, pela graça do seu descritivo.

 

Carnaval, um glossário pessoal

João Taborda da Gama.jpgJoão Taborda da Gama

DN, 7/2/16

 

Bombas das grandes - cartuchos de papel com cerca de quatro centímetros de altura e meio de espessura, encimadas por um rastilho cilíndrico unido ao cartucho por uma guita. Para detonar, juntar a cabeça de um fósforo (muitas vezes chamado de forfe) à ponta do rastilho, colocar o polegar da mesma mão que segura o fósforo na base da bomba, a fazer noventa graus, e raspar a lixa da caixa de fósforos (os novatos tentam detonar com isqueiro, sem qualquer efeito que não seja derreter o rastilho). Na falta de fósforos podem ser detonadas usando a pólvora de outra bomba disposta numa superfície plana em linha (tipo cocaína) a acabar na ponta do rastilho da bomba deitada, e com o isqueiro acender a pólvora. Uma vez começando a arder o rastilho a explosão segue-se em três ou quatro segundos. Sugestões de utilização: duas pessoas acendem uma bomba ao mesmo tempo, cada um a sua e a última a largar ganha; atirar para halls de prédios, caixotes de lixo (normalmente a tampa abre), sarjetas, debaixo de latas de tinta vazias viradas de cabeça para baixo (podem atingir um quinto andar), mas nada bate a bomba-cagalhão, colocada no centro de um dito de cão, com pessoas a passar ao lado.

Bombinhas chinesas - pequenos petardos vermelhos com 2 mm de espessura, com fio de rastilho, vendidos à unidade, ou em fieiras de algumas dezenas. Pouco impacto. Podem rebentar-se aos pares, entrelaçando os pavios. Se acaso algum pavio sair torna-se difícil voltar a por. Neste caso sugere-se dobrar a bombinha ao meio até expor a pólvora e chegar fogo, pois faz um bonito efeito. Podem ser rebentadas na mão, devendo antes trincar-se o fundo e segurar pela ponta, abaixo do vinco criado pela mordedura de modo a reduzir o impacto. Há uma taxa de quebra, algumas vêm chochas. Pode tentar rebentar-se uma fieira inteira, mas muitas acabam por se desprender sem rebentar. Ideal para enfiar dentro de um cigarro, retirando o tabaco necessário e voltando a encher (colocar o rastilho virado para a ponta do cigarro). Quando rebentar pode dizer-se "fumar mata".

Estalinhos - explosivos embrulhados em papel com uma esfera metálica no meio. Deve dar-se torção extra antes de atirar ao chão para aumentar a explosão (atenção para não romper o papel). É vexatório atirar ao chão estalinho que não estala. Pode atirar-se mais do que um. Pode atirar-se contra a parede. É escusado tentar reunir o conteúdo de dois estalinhos no invólucro de um só.

Farinha – atirar a um metro para um melhor efeito. Pode ser usada logo depois de ovo, numa sequência mão esquerda - mão direita, fazendo o que se chama "um bolo". Não calcar demasiado a farinha na mão pois impede a mesma de se espalhar condizentemente (é irrelevante ter ou não fermento).

Garrafinhas de mau cheiroampolas de vidro com líquido com aroma de enxofre. Colocar nas entradas das portas, atirar para repartições de finanças, segurança social, mercearias. Podem ser usadas em salas de aula, mas sugere-se que não na própria, pois há docentes que obrigam todos os alunos a ficar até ao fim da aula, com o cheiro. Podem ser colocadas debaixo dos capachos da entrada, o que torna o odor mais leve mas mais indetectável.

Limas - recipientes de estearina (cera) em forma de uma pequena pera enchidos de água e projectados como os ovos (v. Ovos). Fazem-se derretendo as barras de estearina ao lume, enchendo o molde de alumínio, agitando e arrefecendo; é preciso cuidado ao desenformar; encher de água e tapar com um pingo de cera. Desconhecidas no continente, mas muito usadas em Ponta Delgada, S. Miguel, Açores (sugere-se a visualização, no youtube, de "batalha de limas").

Ovos - atirar ovos exige uma técnica especial. O lance longo requer pontaria, à distância, muito dificultada pela forma do ovo; o lance curto, tipo afundanço, mais difícil, é mais espectacular, mas comporta o risco de identificação pela vítima e de reacção (deve ser feito em corrida, no cocuruto, aproveitando os cinco segundos em que a vítima procura perceber o que lhe aconteceu, levando as mãos à cabeça, cheirando). Ao esmagar o ovo não deve exercer-se demasiada força para não fazer com que o conteúdo do ovo seja projectado para os lados e não para a cabeça da vítima. Podem usar-se ovos podres, enterrados durante três semanas (duas precauções: o Carnaval tem data móvel; os ovos podres ficam mais frágeis, podendo partir-se na mão, ou desintegrar-se no ar no lance longo). Reacções expectáveis: "deves ser rico", "tanta gente com fome e tu a desperdiçar ovos". Pode ser usado conjuntamente com o lance de farinha (v. farinha). Não há qualquer vantagem na utilização de ovos biológicos.

Papelinhos - relevantes apenas se enfiados na boca de alguém desprevenido que parece sufocar ao mesmo tempo que expele confettis, fazendo um bonito efeito tragi-cómico.

Raspas - tiras de cartão com pinga de explosivo tipo lacre. Deve separar-se apenas uma pinga, rasgando a tira com cuidado para não retirar o cartão debaixo da pinga adjacente. Depois, como o nome indica, raspa-se na parede (de preferência algo rugosa), o explosivo começa a explodir, e coloca-se entre as mãos, fazendo castanholas. Deixa cheiro característico. Característicos são também os riscos que deixa nas paredes e que normalmente enfurecem os habitantes dos respectivos prédios.

Serpentinas - lançar agarrando na ponta de dentro e não na de fora. Simular alegria ao atirar, dizendo por exemplo yeeeahi (divertimento imbecil que deixa no fim uma sensação de frustração). Podem fazer-se acordeões com serpentinas de duas ou mais cores (igualmente triste).

PS – Este texto insere-se no estado de espírito "não vá um gajo morrer amanhã e não deixar nada do que aprendeu aos filhos".

 

E já que estamos no Carnaval, e se fala de alunos, não propriamente como o “Cancre” de Jacques Prévert, distraído e sensível à natureza, mas dos também sem talvez grande apetência para o estudo embora com rapidez de observação e de raciocínio desmistificador dos critérios do “magíster dixit” - em que provavelmente João Taborda da Gama se enquadrou - transcrevo um pequeno texto, encimado pelo quadro da Gioconda e saído num exame de francês de nível 2 em 2013, de diálogo facilmente perceptível, revelador de como a opinião pública (na voz ingénua das crianças) é muitas vezes baseada no preconceito e na moda, embora, no caso da Gioconda, me pareça que ela merece mais o galardão do que as figuras recortadas de Picasso:

 

«LA JOCONDE»

 

Gioconda.png

 

«Rafael: Mesdames et messieurs, nous voici devant le tableau le plus célèbre du monde: La Joconde !

Mona: Bah ! il est plutôt petit, et puis on ne voit pas grand-chose… Juste cette dame, là, avec son drôle de sourire.

Nabi: Il y a marqué Mona Lisa ici. Alors « la Joconde » ça veut dire quoi? C’est son métier?

Rafael: Ce portrait représente, peut-être, l’épouse de Francesco del Giocondo, ce qui lui valut le surnom de Joconde.

Nabi: Qu’est-ce qu’elle fait, la dame, les bras croisés?

Mona: Peut-être qu’elle attend son amoureux.

Rafael: Mais non, on ne sait pas ce qu’elle fait.

Nabi: Ah bon! Bah ! Si on sait rien. pourquoi elle est célèbre?

Mona: C’est peut-être parce que Léonard de Vinci est connu pour ses inventions. Il a même dessiné les premiers avions.

Nabi: Au Moyen-Âge?

Rafael: Mais non! À la Renaissance. Regardez la technique de Vinci: il a utilisé le «sfumato», ce qui donne des contours imprécis aux objets. Et puis le tableau est surtout connu, car le sourire énigmatique de la Joconde et ses yeux qui ont l’éclat de la vie ont contribué à son incroyable notoriété.

Mona: Bon, je vais sourire, moi aussi, comme ça, je serai célèbre.

Rafael: T’es bête! Ce tableau, on vient le voir parce que… Bah! Parce que tout le monde veut le voir, voilà !

Mona: Bon, alors le vrai mystère c’est qu’on ne sait pas pourquoi il est si célèbre au fond, ce tableau.

 

In «Une minute au musée» (remanié)

 

Berta Brás.jpgBerta Brás

TOMATINA

 

Creio que o texto que me chegou aos olhos, enviado pela minha filha Paula, se poderia prestar a uma peça musical rivalizando com a sonatina, tão cheia de doçura, alegria e colorido é a fotografia do tomate que foi acrescentada ao texto do email e que infelizmente não tenho artes de traduzir, a parte central, mais branca, formando a tal cruz branca e vermelha como a que levámos outrora nas bandeiras das caravelas, embaladas pelo marulhar das ondas, ora mais desastrado ora mais embalador e pacífico. Ao proibirem os tomates como alimento do povo que Maomé, afinal, azedou, só porque aqueles possuem cruz interna, quando cortados ao meio, os radicais islamitas revelam-se excessivamente extremistas, impeditivos de uma boa comida, vitaminada e saborosa, necessária às energias humanas. Julgo que os muçulmanos prevaricadores, apreciadores do fruto, sem reservas metafísicas, ao contrário do nosso amado Alberto Caeiro, para quem as coisas e Deus se embrulhavam no mesmo sentido panteístico, se poderão sempre defender das acusações, no caso de comerem tomates, explicando, com muitos gestos e muitas palavras, em algaraviada justificativa, que comeram os tomates pequeninos inteiros - como eu fazia quando era criança, arrancando-os de um tomateiro que rebentara na nossa horta de aluguer - e os maiores cortados em quartos e mais partes, destruidoras da tal cruz simbolicamente alusiva a Cristo, numa salada apetitosa e de cruz extinta, salada que o próprio Maomé se não importaria de tragar, para a sua missão de valente empunhador de espada maometana.

 

Julgo que este seria um bom motivo de concerto para os criadores musicais, resultante, se não em sonatina, pelo menos em tomatina ou saladina, se não com violino, pelo menos com concertina.

Berta Brás 2.jpgBerta Brás

 

Tomates interditos!!!!

 

OS TOMATES ESTÃO INTERDITOS PELOS MUÇULMANOS RADICAIS

 

Um grupo de muçulmanos extremistas começaram a incitar todos os muçulmanos do Mundo inteiro para nunca mais consumirem tomates, dado terem sido classificados como “alimentos cristãos” porque, quando cortado em duas metades, o seu interior tem a forma de uma cruz.

 

Vejam a mensagem difundida nas redes sociais islâmicas:

Comer tomates é interdito porque os tomates são cristãos. O tomate louva a cruz em vez de Deus e diz que Deus compreende três pessoas (em referência à Santíssima Trindade). Na Palestina há um mullah que teve uma visão do Profeta Maomé chorando, e prevenindo todos os muçulmanos para que parem de comer tomates. Se não divulgarem esta mensagem é porque o diabo vos impediu.

 

Eis o objecto do delito, ou melhor, o objecto do delírio. (…)

TOMATE CRUZ.jpg

 

UNISSEXO ADOPTIVO

mariage-gay.jpg

 

Sou uma pessoa feliz quando reconheço valores no meu país que não só revelam clara inteligência argumentativa, como uma formação moral de que a sociedade em que vivemos não nos tem proporcionado grande expectativa de proliferação, o conceito de liberdade em função de uma igualdade sem regras sendo o patrocinador da desordem e indisciplina que se reflecte nas famílias, nas escolas, nas assembleias de expressão vária. É o caso deste artigo de João Miguel Tavares – “Sobre a adopção gay” – que, ao defender Cavaco Silva na sua rejeição primeira do alegado diploma da camarilha governativa, demonstra um bom senso e uma nobreza de atitude que admiro, e também pela coragem de opinar contra uma corrente que tem por hábito desfeitear o presidente, e especificamente neste caso da rejeição presidencial - no seu intuito de serem mais bem apuradas as determinações para a adopção, em defesa dos interesses das crianças. Também eu achara justas as palavras do presidente, mas calara o meu parecer, tal a onda de opositores manobrando raiva e troça, entre os quais os consagrados pela opinião pública, como Ricardo Araújo Pereira convicto da sua enorme capacidade buriladora de dichotes.

 

De facto, o defeito maior que noto em Cavaco Silva é a sua velhice, que o faz arrastar demasiado a sua exposição, já um pouco cansada, mas considero sempre justas e bem formuladas as suas razões, e tal foi o caso do seu veto inicial ao documento gay, tal como o foi o seu discurso último de homenagem a Guterres. Recordo Salazar e a sua voz irritantemente aflautada, quando já velho, e todavia sempre de pensamento enérgico, de defensor que foi da sua pátria e “alia”. A voz de Cavaco não é aflautada, mas já excessivamente arrastada em pausas que absorvem um pouco o valor dos seus argumentos, todavia mais sérios do que os de Marcelo, o qual, de repente, aparenta ser um fogo-fátuo sem grande consistência de pensamento, ele que de tudo falava e tudo sabia, com bastante coerência, nas suas conversas com Judite de Sousa, onde dominava por não ter opositor, é certo.

 

Quanto ao tema que João Miguel Tavares defende – uma discussão séria e sem histerismos sobre o tema da adopção de crianças por casais homossexuais - também acho que deveria haver um consenso geral de discussão de valores e preservando as sensibilidades infantis que cedo confrontarão os seus casos com os das outras crianças. Concedendo que até poderão ser tratadas com mais carinho do que nas famílias conceituadamente “legais”, não obsta a que se sintam um dia uma aberração anti-natura, como descendentes de dois seres do mesmo sexo.

 

«A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à injustiça em todo o lugar», expressão de Martin Luther King, (1929-1968),( pastor protestante e activista político norte-americano»), é um aforismo com que o Público encima a mesma página do artigo de J. M. Tavares. Exemplificando, diria que a injustiça da adopção gay é também uma ameaça de proliferação dessas adopções infelizes, embora a infelicidade exista também nas famílias ditas “normais”. A mim repugna-me uma lei que defende essa anomalia, na indiferença pelo sofrimento da criança, quando compreender a sua situação de filho de dois pais ou de duas mães, e apenas debruçada sobre o bem-estar dos adultos, que constroem esse bem-estar segundo um jeito epicurista de “carpe diem” dos novos tempos.

 

Berta Brás.jpgBerta Brás

 

Sobre a adopção gay

João Miguel Tavares.jpgJoão Miguel Tavares

Público 28/01/2016

 

Eu tenho um sonho: que um dia, ao tratarmos de assuntos tão importantes e complexos quanto o aborto ou a adopção de crianças por casais homossexuais, consigamos elevar o debate público dois ou três patamares acima do nível cavernícola. O “nível cavernícola” é simples de detectar: por regra, qualquer posição que considere estas matérias como óbvias e naturalmente evidentes – seja para as acolher de braços abertos, seja para as rejeitar de olhos fechados – tem boas possibilidades de padecer de cavernicolismo. As reacções ao veto de Cavaco do diploma da adopção gay vieram demonstrá-lo mais uma vez.

 

Seja qual for a nossa posição em relação à adopção de crianças por casais homossexuais, é muito difícil negar razão a Cavaco em dois pontos. Primeiro, quando ele afirma que, “independentemente de um juízo de fundo sobre as soluções legislativas”, seria importante “assegurar que uma alteração tão relevante numa matéria de grande sensibilidade social não entre em vigor sem ser precedida de um amplo e esclarecedor debate público”. Cavaco tem inteira razão: esse debate, de facto, não existiu, o que é tanto mais incompreensível quanto a questão da co-adopção, muito mais restrita e consensual, deu origem a inúmeras polémicas e trocas de argumentos.

 

Mais grave ainda, porque profundamente desonesto, é o segundo ponto para que Cavaco chama a atenção: a adopção gay não tem a ver com o superior interesse da criança. O diploma combate uma discriminação existente entre casais homossexuais e heterossexuais e esse combate é, sem dúvida, legítimo. Mas é de uma total desonestidade intelectual confundir isso com o direito de os miúdos a serem adoptados. A co-adopção por casais homossexuais é uma luta pelo interesse superior da criança, na medida em que já existem laços afectivos estabelecidos. A adopção por casais homossexuais é uma luta pelos direitos da comunidade LGBT. Não quer dizer que essa luta não seja justa, mas é uma vergonhosa instrumentalização da criança invocar o seu “superior interesse” a propósito desta alteração à lei, como ouvi em Novembro e como voltei a ouvir agora, após o veto presidencial. Se não há falta mas excesso de candidatos à adopção (a não ser para miúdos com graves problemas de saúde), o que é que os direitos das crianças têm a ver com isto?

 

É uma pena que as crianças portuguesas não tenham associações e deputados a lutar pelos seus direitos com o mesmo empenho que o PS e o Bloco colocaram na luta pelos direitos da comunidade LGBT ao longo dos últimos anos. Eu sou a favor da adopção por casais homossexuais, porque entendo que é no terreno que se deve avaliar cada família e concluir se ela tem, ou não, condições para acolher uma criança. Acredito que num mundo ideal qualquer miúdo deve crescer com uma figura materna e uma figura paterna ao seu lado, mas penso que a dinâmica mimo-autoridade pode ser perfeitamente alcançada dentro de um casal homossexual. Mais do que isso, existem casos terríveis, envolvendo crianças abusadas, em que a figura paterna adquire uma dimensão de tal forma ameaçadora que a criança poderá crescer muito mais feliz e equilibrada num ambiente exclusivamente feminino. O mundo é um lugar complicado e a sua diversidade deve ser vista como uma riqueza, e não como uma ameaça. Mas até por isso, deveríamos estar todos a discutir com argumentos uns bons furos acima do nível cavernícola, jamais utilizando as crianças como armas de arremesso nas lutas de cada um.

 

SÓ MESMO POR BRINCADEIRA!

 

Quando era criança, costumava brincar aos médicos, às donas de casa, às lojas, com as amigas da vizinhança e colegas da escola que nesse tempo íamos chamar às casas de cada uma, numa liberdade de espaço que dificilmente hoje é concedida às crianças, não só por receio do mundo, mas também porque a interacção se faz por via telefónica ou através do skype. Eram brincadeiras de ficção, que metiam bonecas, uma balança feita pelo meu pai, arroz de areia, bacalhau das folhas das árvores. É certo que recordo também outras brincadeiras mais reais, que incluíam bolas ou as andas que o meu pai talhara com o podão, dos galhos das árvores do passeio, nas épocas da poda, que os trabalhadores da Câmara deixavam algum tempo espalhados em torno das árvores, andas que o meu pai construiria mais tarde com pregos e madeira aplainada, com as quais percorríamos os nossos espaços, como o fazem, em maior amplitude hoje, os rapazinhos nos seus skates. Mas o tempo das mercearias foi talvez anterior, brincadeiras de ficção em que as contas não tinham que bater certo, limitadas ao “quanto custa?” E ao “custa tanto” dos nossos cálculos espontâneos.

 

Lembrou-me esse passado de brincadeira e de cálculos arbitrários o artigo de Alberto Gonçalves «Uma experiência chamada Portugal», de tal modo este consegue sintetizar – com a indignação que o caso merece – o que se passou com o rascunho do OE enviado à Comissão Europeia, e a resposta desta, ao descrevê-la como «horrorizada com tamanho caldo de inépcia, trafulhice, alucinação e certificada desgraça», tendo devolvido «o papel acompanhado de uma carta que se esforça por manter a polidez protocolar embora não esconda certa falta de paciência para as artimanhas de burgessos.»

 

Mas não foi por brincadeira, foi mesmo a sério, que o OE foi esboçado, por um governo engasgado, e que vai tentar refazer os cálculos furados, pressionado pelo compromisso perante a Europa, entalado pelos compromissos com a esquerda da sua aliança irresponsável, esquerda astuciosa que não quis ser governo, pois no cais é que está bem, chefe da estação encarregado apenas do apito, bem refastelado no cais, enquanto o maquinista tenta orientar a locomotiva para não haver descarrilamento ao longo do percurso.

 

Alberto Gonçalves descreve magistralmente o caso. Só nos resta a indignação.

 

E entretanto, a Europa – e nós, por arrastamento servil e vil – vai rebaixando-se abjectamente ao Islão, tapando as suas estátuas por respeito à “pudicícia (!?)” islamita. Parece, de facto, ficção. Bem haja Alberto Gonçalves que o desmascara brilhantemente.

 

Berta Brás.jpgBerta Brás

 

Uma experiência chamada Portugal

Alberto Gonçalves.jpgAlberto Gonçalves

DN, 31/1/16

 

Se bem percebi, o alegado governo que nos caiu em cima enviou à Comissão Europeia um rascunho do Orçamento do Estado, o qual, segundo quem sabe do assunto, ganharia em ter sido produzido por dois cangurus munidos de uma "folha" de Excel. A CE, horrorizada com tamanho caldo de inépcia, trafulhice, alucinação e certificada desgraça, devolveu o papel acompanhado de uma carta que se esforça por manter a polidez protocolar embora não esconda certa falta de paciência para as artimanhas de burgessos.

 

O dr. Costa e os serviçais do governo reagiram através da desvalorização da carta, até porque, garantiam eles, as objecções da CE prendem-se com ligeirezas técnicas e, por favor não se engasguem, "não têm relevância política". Em simultâneo, um teórico do "costismo" (o equivalente em sofisticação ao atendedor de chamadas do professor Bambo) acusou a CE de "tentar tramar o governo português". A acreditar nos socialistas, o Conselho Económico e Social, o Conselho das Finanças Públicas, a Unidade Técnica de Apoio Orçamental, quatro agências de rating, a UEFA e um vizinho meu também aderiram à conspiração.

 

No que toca aos partidos comunistas que de facto mandam no circo, e que nem com a queda do muro aproveitaram para fugir do hospício, instigam o dr. Costa a enfrentar a "Europa dos interesses" com, engasguem-se à vontade, firmeza. Catarina Martins avisa que a CE "está a assaltar-nos", mas na verdade o arranjinho que a dra. Catarina integra é que o fez em Outubro - e agora julgasse ser igualmente fácil assaltar os contribuintes alemães. Para distinguir o PCP do Bloco, o sr. Jerónimo repete a lengalenga do Bloco.

 

De seguida, o dr. Costa, cuja fluência na própria língua de facto levanta interrogações acerca da comunicação com estrangeiros, voltou à carga com redobrado delírio, mais a consideração de que as previsões do governo são "conservadoras e realistas" e a denúncia de que Passos Coelho - o "senhor primeiro-ministro", nas palavras do alegado - enganou Bruxelas.

 

Entretanto, há infelizes que com as melhores intenções vão à televisão comentar a "situação" como se a "situação" merecesse comentários. É, evidentemente, uma trabalheira inglória: nada que saia das infantis cabeças que nos governam (força de expressão) exibe um pingo de racionalidade e pode ser levado a sério. Séria só a desgraça em que concorrem para nos deixar, de que eles escaparão com típica impunidade. E que nós pagaremos com típica resignação e, desconfio, sofrimento inédito. Portugal é hoje uma experiência, à escala real, para averiguar quanto tempo um país resiste nas mãos de transtornados. Eis uma previsão conservadora e realista: pouco.

 

Sexta-feira, 29 de Janeiro

 

Vestidos de preconceitos

 

Sinceramente percebo que o primeiro-ministro italiano, além de esconder o vinho, tenha encaixotado as deusas e os guerreiros despidos dos Museus Capitolinos para a visita do presidente iraniano. Afinal, quando se convive com patrocinadores do terrorismo internacional (ou da resistência ao "sionismo", para não cairmos no "racismo" e na "xenofobia") é aconselhável que alguém, nem que sejam as estátuas, se cubra de vergonha.

 

Além disso, a cautela foi menos religiosa do que patrimonial. Em várias cidades europeias, os acontecimentos da passagem de ano provaram que certas culturas (dizer quais é "racismo" e "xenofobia") reagem com natural efervescência à nudez alheia. Algumas pessoas (atenção ao "racismo" e à "xenofobia") tomam uma orelha destapada como um convite a bacanais de consentimento unilateral. Imagine-se a excitação do sr. Hassan Rouhani na presença de criaturas, ainda que de mármore, em pelota integral. E é melhor não imaginar os danos que o homem infligiria à arte clássica se, para cúmulo, tivesse bebido. No fim de contas, a sensatez impôs-se, as esculturas salvaram-se, a honra dos castos manteve-se e tudo acabou bem.

 

Excepto o que promete acabar mal. É que as sábias mesuras de Roma infelizmente ainda não contaminam todas as autoridades do continente. Há dias, o preconceito levou à detenção na Eurodisney de um inocente com duas armas e um exemplar do Corão. Na sua pequenina escala, o episódio traduz o recorrente desrespeito pelas tradições do Outro, incluindo a matança de transeuntes.

 

Numa dimensão superior de intolerância - "nazi", importa acrescentar de imediato - temos a Finlândia e a Suécia, que gostariam de deportar milhares de imigrantes (caso os apanhassem). Temos a Alemanha, que começa a ceder à incapacidade dos eleitores em verem os refugiados como a massa dócil que enfeita interlúdios na SIC Notícias e na TVI24. E temos a habitualmente desumana Dinamarca (lembrar os cartoons de Maomé), que para desanimar novos refugiados pondera confiscar parte dos bens aos actuais.

 

A propósito de tal ultraje, o nosso PS, atento, chamou o embaixador dinamarquês ao Parlamento com carácter de urgência. Decerto vai exigir-lhe a abertura total das fronteiras, a participação em 16 vigílias ecuménicas e uma confissão de amor imoderado ao lendário islão moderado. Na próxima semana, o PS convocará o representante local da Disney e reivindicará que vista um par de calças ao Pato Donald. Nem toda a Europa enlouqueceu. O "racismo" e a "xenofobia" não podem vencer, excepto o "racismo" e a "xenofobia" deles: como na história dos nus, é questão de cortesia. Brindemos, sem álcool, à harmonia universal.

TRAIÇÕES, HIPOCRISIAS, CINISMOS, DE TUDO UM POUCO

 

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Sempre associei maçonaria a nomes como Garrett, Herculano, Pessoa, gente que eu admirava pelo bem que significaram no nosso país, como construtores de catedrais próprias, de vitrais deixando passar a luz da sua sabedoria e da sua arte. Por outro lado, o saber que ela se constituía em sociedades secretas continha para mim algo de misterioso e perverso, de rituais assustadores, caras tapadas como lera em Agatha Christie, creio que em “Os Sete Relógios”, ou que os jornais por vezes deixavam transparecer, em que os mundos esotéricos constituíam também temas de preocupação ideológica desses grupos da carpintaria do mundo e das vidas, por vezes despojadas de egoísmos próprios em prol do bem comum. Mas nada sabia e nada sei. Este artigo de Duarte Justo foi uma surpresa para mim, sobre um nome há muito conhecido e que não associara a práticas altruístas, a não ser em favor desses africanos de que se mostrou camarada, posteriormente à distância, juntamente com outros amigos seus que o ajudaram a alcandorar-se nos pontos cimeiros a que o conduziu o muito saber e provavelmente a escadaria ornamentada da sua catedral maçónica. Gostei de saber.

 

O texto de António da Cunha Duarte Justo "PAZ, PANQUECAS E ALEGRIA" é, aliás, bastante esclarecedor a respeito das práticas maçónicas, com forte tendência actual não para a elevação social, como o era no tempo dos liberalismos, mas para a ascensão própria, agora que a democracia já igualou misteriosamente as sociedades, e cada um defendendo-se justamente num salve-se quem puder material, mesmo que de via maçónica.

 

Só uma pequena ressalva para os “portugueses atraiçoados”, identificados por Duarte Justo exclusivamente com os “retornados”, designação grosseira que não só afecta os portugueses que no Ultramar ajudaram a construir Portugal, e que não esperavam a designação da parte de alguém com pruridos de saber e de bom proceder, igualando-se às gentes de cá, de iracúndia menos sábia e educada, mas afecta, igualmente, aqueles portugueses que, não tendo sido “retornados”, amaram a sua pátria pluricontinental apreendida na instrução primária, juntamente com as noções morais e cívicas necessárias à sua formatação humana.

 

Berta Brás.jpgBerta Brás

PASSADO, PRESENTE E FUTURO

 

passado-presente-e-futuro.jpg

 

 

O tempo passa a correr, Janeiro acabou, um artigo de Alberto Gonçalves me escapou, que reponho antes do desta semana, tão prazeroso é para mim guardar estes pequenos frescos sobre o nosso mundo torcido, como ferro de carruagem após descarrilamento.

 

Que é de descarrilamento que se trata, em despenhadeiro de ravina, diria mesmo de fiord, caso os houvesse por cá, e caso não sentisse quanto devem ser ainda mais arrasadores e sem esperança os momentos que se vivem lá pelas bandas do Médio Oriente e tantos outros sítios dum mundo descontrolado, que exigem solidária contenção no nosso lamuriar. Apesar de tudo, o ridículo é algo de humilhante e o saber desmascará-lo algo de profundamente didáctico, caso fôssemos sensíveis a ensinamentos de inteligência e bom senso. Não é assim por cá. Mas os textos aí estão, vivos e acutilantes, como bichas de rabear, comentário este puramente figurativo, que nada significa mas com que apetece agradecer ao autor dos textos, que nos fazem, hélas! prever uma continuação visceral nesta colossal carreira do asnático e da vaidade de um “finis patriae” da nossa constância fatalista.

 

Berta Brás.jpg Berta Brás

 

O braço esquerdo da barbárie

Alberto Gonçalves.jpgAlberto Gonçalves

DN, Janeiro 19, 2016

 

A fim de justificar o voto em Marisa Matias, a jornalista do Público Alexandra Lucas Coelho começa por louvar o empenho da eurodeputada nas "relações com Síria, Líbano, Egipto e Jordânia", nos "direitos dos refugiados" e no combate à "violência contra os territórios palestinianos ocupados". De seguida, destaca a "coragem pessoal" necessária para se ser candidata à Presidência da República "num país machista como Portugal". Nem por um instante Alexandra Lucas Coelho repara no ligeiro absurdo que é resistir ao "machismo" caseiro e deixar-se fascinar por culturas em que o mero "machismo" seria um alívio para as mulheres. Por isso é que o feminismo anda pelas ruas da amargura.

 

Em compensação, na passagem de ano foi outra coisa a andar pelas ruas de diversas cidades europeias. As primeiras notícias falavam em bandos de indivíduos que assaltaram, agrediram e violaram as senhoras que lhes apareceram pela frente. As segundas notícias, escassas e tímidas, notavam que os indivíduos eram, na quase totalidade, de origem árabe e, nalguns casos, asilados recentes. As terceiras notícias transmitiam os conselhos da presidente da câmara de Colónia, onde os agressores chegaram a mil e as agredidas a cento e tal: ou as fêmeas guardam um "braço de distância" de possíveis atrevidotes ou não se venham queixar. As últimas notícias davam conta da posição (sem trocadilhos) de diversos movimentos feministas, os quais naturalmente tomaram o partido dos violadores sob o pretexto de que estes, na medida em que pertencem a uma "minoria", já são discriminados o suficiente.

 

O estatuto minoritário desses infelizes é apenas questão de tempo e demografia. Quanto à discriminação, não percebi. Por sorte, uma feminista alemã explicou: as pessoas centram-se nos (insignificantes) delitos cometidos por muçulmanos porque são racistas e esquecem-se que os ocidentais também abusam das mulheres. Na minha ignorância, desconhecia que hordas de cristãos, ateus e animistas alemães costumavam violar dezenas de concidadãs por recreação. E que recusar a selvajaria à solta em certas sociedades é "racismo". E que ocultar crimes é a melhor forma de alcançar a harmonia.

 

De qualquer maneira, o importante é que o feminismo militante se apressou a organizar manifestações. Contra tarados? Era o que faltava: contra a "islamofobia", o grande perigo desta história. Pelos vistos, é possível que alguns europeus não apreciem o estupro das respectivas esposas e desatem a adoptar atitudes fascistóides. Ou no mínimo a suspeitar que quem embrulha a cônjuge em farrapos tende a interpretar mal a liberdade da cônjuge alheia. Há biltres capazes de tudo. E tudo depende de nós.

 

Por mim, logo que termine de admirar a "coragem pessoal" da dona Marisa, que se arrisca a sofrer piropos e horrores similares às mãos (salvo seja) do marialva lusitano, tenciono sair por aí a berrar apelos à concórdia universal e ao extermínio do homem branco, razão de todas as tragédias. E a mulher branca não pense que escapa: daqui a apedrejarmos as galdérias que atraem e transtornam as vítimas da "islamofobia" é um passo. Ou um braço.

 

O BOM

Sound and vision

Na morte de David Bowie, que venerei na adolescência e quase esqueci após um concerto fracote em 1990, os obituários repetiram o mito da "inovação". De facto, o mérito dele consistiu em farejar "tendências" e transformá-las em matéria digerível pelas massas. Pelo meio, houve poses, talento e a esporádica jóia. Hunky Dory, de 1971, é uma abençoada colecção de canções, e uma rara ocasião em que o "conceito" não afoga a substância. Nada mau, embora não tão bom como dizem.

 

O MAU

O desrespeitinho

Ricardo Costa, irmão de um PM sem votos nem vergonha, pergunta na televisão ao candidato presidencial Vitorino Silva: "O que é que você está aqui a fazer?" Resposta: "Estou aqui porque a SIC me convidou." Não tenho simpatia por "Tino" de Rans ou ilusões sobre os "homens simples", mas pior que a boçalidade óbvia de uns é a soberba infundada de outros. Ricardo Costa podia ter dedicado a arrogância a pelo menos mais seis ou sete candidatos. Não o fez, e essa cautela é o retrato de um País triste.

 

O VILÃO

Um estadista

Com a classe e a subtileza que o celebrizaram, o dr. Costa acusa a "direita" de estar "raivosa" porque "o Governo não só existe como também funciona". Então não? Após entregar a educação ao ministro Mário Nogueira e os transportes ao ministro Arménio Carlos, atirar para o contribuinte novo desastre da banca, demolir qualquer hipótese próxima de investimento estrangeiro e encaminhar o País rumo ao Terceiro Mundo, o Governo funciona. Sucede apenas que, como a cabeça do dr. Costa, não funciona bem.

 

Os pupilos do senhor reitor

Alberto Gonçalves

DN, Janeiro 26, 2016

 

Não me interessa saber se Sampaio da Nóvoa se licenciou em teatro, ou rendas de bilros. A julgar pelas suas intervenções públicas, a única coisa que estudou na vida foram as cantigas concorrentes ao Festival RTP nos anos 70, sobretudo as letras de Ary dos Santos. À época, uma pessoa ouvia aquilo e perguntava: de que diabos estão para ali a falar? Ninguém respondia. O mesmo desconforto é suscitado no século XXI pela retórica do candidato presidencial, a qual partilha o tom presunçoso, saloio, desconchavado e em última instância infantil de versos como "Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia" ou "Meu irmão, minha amêndoa, meu amigo".

 

Não há apenas o anatómico "Tudo no meu corpo é Minho, todo o meu corpo é Norte". Há também a vinícola imagem do "saca-rolhas" que "puxa" por um "país sem amarras", decerto ajudado pelos "cavalos-potência do conhecimento". Há o presidente "que tem na cabeça o mapa do futuro" e é "das palavras e das causas" e, talvez a horas impróprias, "quer acordar Portugal". E há as verdades indesmentíveis da "democracia que se faz na democracia" e do "cada pessoa aqui presente será um de nós". E o apelo desesperado a não sei o quê que devemos agarrar "com as mãos inteiras e com o coração inteiro". E há a misteriosa aversão a certo tipo de recipientes, já que o prof. da Nóvoa detesta "caixas de pensamento", "caixinhas de formalismos" e "caixas clássicas" (?). Nesta linha, exige que se pense "fora da caixa" e agradece "contributos fora da caixa". Literalmente, o homem não dá uma para a caixa.


Donde a necessidade de nos perguntarmos que espécie de gente, entre a população adulta, é capaz de levar a sério semelhante colectânea de pateguices. Agora a resposta existe, e é fácil: gente igualzinha ao prof. da Nóvoa. No site oficial da candidatura, diversas "personalidades" que presumo célebres (não conheço 95%) explicam o que as leva a apoiar tão patusca figura. Dúzia e meia de exemplos chegam e sobram para se perceber com quem estamos a lidar.


Um cavalheiro apoia-o "pela sua humanidade". Outro porque "é um presidente de futuro". Outro ainda porque ele "faz a diferença que [sic] Portugal necessita para se reencontrar". E não esqueçamos os que votam no prof. da Nóvoa "pela sua leveza", por "incorporar a irreverência do artista, que usa as palavras como matéria-prima essencial", "pela forma como fala da liberdade e do sonho", por ser "um homem ousado que nos trás [sic] alegria e esperança", por ser urgente "ver a cultura tratada como merece", por possuir "uma ampla mundividência", porque "com ele o futuro tem futuro", porque resiste ao "austeristarismo" [sic], porque nos resgatará do "pântano anímico", porque "dá lugar a amplos horizontes", porque é "um amante de livros e bibliotecas", porque é "uma luz", porque regenera a "nação, apoucada e traída por arteiros e serviçais de uma Europa plutocrata", porque é contra "as políticas fascizantes", porque "é Abril na presidência", etc. A terminar, o meu depoimento preferido, o da jovem que quer, "como quer a juventude, perder a vergonha em deixar brilhar os olhos. Os olhos querem brilhar, o coração quer bater", eira de milho, luar de Agosto, quem faz um filho fá-lo por gosto, lá lá lá.

Se, catastroficamente, viesse a realizar-se, o tempo Nóvoa, perdão, novo seria isto. E isto é um manicómio a céu aberto.

 

O BOM

Espectacular
O sonho de sociólogo de Augusto Santos Silva é assistir a um espectáculo de Tony Carreira. Há coincidências espantosas: o meu é assistir a um espectáculo de Augusto Santos Silva. Principalmente aqueles realizados no ministério dos Negócios Estrangeiros e que incluem, logo a abrir, a compra de um faqueiro por 100 mil euros ou de um serviço Vista Alegre por 43 mil. Por azar, são restritos a convidados. E a segurança à entrada é severa com quem, como eu, não possui consciência social.

 

O MAU

Um fantasma

Durante anos, referi-me por diversas vezes a Assunção Cristas como a "ministra da UDP". Notório exagero: a senhora é apenas uma socialista comum, do género que castiga com multas os "excessos" dos mercados. Numa entrevista, aliás, a dra. Assunção confessa partilhar com a esquerda o valor da liberdade, prova cabal de que não sabe o que isso é. Não espanta a sua chegada à liderança do CDS. Espanta que, num País assombrado pela ideia da "direita", a direita nem sequer exista.

 

O VILÃO

Manter o nível

O Podemos espanhol distingue-se pelos dreadlocks de um deputado e o rabo-de-cavalo do líder. O rabo-de-cavalo veio apoiar a candidata do Podemos português. E disse que Marisa Matias é "uma pessoa normal". Dez segundos depois disse que ela tem "algo mágico": "nós, pessoas normais, caminhamos – a Marisa avança". Ou seja, não disse coisa com coisa. Logo, integrou-se perfeitamente na campanha das "presidenciais", uma coisa indigna de eleições para o condomínio.

EM DEFESA DA MASSA

 

Ainda o artigo de António da Cunha Duarte Justo:

 

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«NOVE MILHÕES DE EUROS COM DELEGADOS SINDICAIS»

 

Fiz as contas, dividi 9 000 000 de euros por 28 delegados sindicais, mesmo sem a calculadora e deu-me 32 000 E, mais coisa menos coisa, por cabeça, mas pensei logo que estava a levar a referência muito à letra, pois os 9 000 000 também devem incluir a renda do edifício sindical, mais as mulheres da limpeza, os detergentes e o café da máquina, além das garrafinhas de água, desconheço a marca, para molhar as palavras sindicais, o que, descontado aos 9 000 000 reduz substancialmente os vencimentos pessoais. Seguidamente a estas deduções, compreendi as razões por que os sindicatos da Educação não se extinguem – nem os demais, de resto - pois a pretexto de defenderem os interesses dos professores e elementos auxiliares, os delegados sindicais não deixam de constituir uma boa mina para si próprios, o que é de inteira justiça, como coisa praticada por todos os responsáveis na distribuição dos bolos, segundo a fórmula “quem parte e reparte e não fica com a maior parte ou é tolo ou não tem arte” e não é nunca esse o caso, pois, oferecendo a côdea, mais vistosa e dura de roer, aboletam-se com o miolo, em duradoura degustação de comprazimento e benefício próprio. António da Cunha Duarte Justo refere quanto pela Alemanha as coisas divergem, os síndicos acumulando o seu trabalho sindical com o trabalho docente, o que não se passa cá, a docência sendo coisa complicada, e muito sujeita às pedradas dos teóricos que preferem estudar por outros teóricos em vez de virem à praça experimentar as teorias.

 

Mas é preciso separar as águas. Se os tais síndicos acumulassem docência e sindicato, acumulariam dois vencimentos de desproporção vexatória, não só porque o mais ínfimo em vencimento é reconhecidamente o mais afanoso, mas também porque seria redutor da aura teorizadora sindicalista que apela muito à greve por via da massa pecuniária, por não lhe importar a massa escolar.

Berta Brás.jpgBerta Brás

ESPERTAS SÃO ELAS

MAS TAMBÉM ELES

 

Mandou-me a Conceição Sarmento o e-mail seguinte, que me avivou recordações de lendas, de bruxedos, de superstições, acudindo-me sobretudo as das mourinhas encantadas, solitárias guardiãs de tesouros, ora maléficas, ora infelizes, trazidas pelos mouros seus pais ou maridos dos países do norte africano, nas hordas de outrora. Porque agora também há hordas, canalizadas para a doce Europa, vindas do norte e do leste, a infiltrar-se e a instalar-se, e a ser objecto de repúdio ou de ternura virada um dia em lenda, guardiãs dos tesouros, numa Europa sobre que lançaram maldição, como ela já vai percebendo através dos Almançores de agora. E também são donas de tesouros, como nunca foram os que cá estão. É o que conta a história do Imã Buziane, sábio do culto muçulmano, com as suas tradições e o doce acolhimento do Sistema francês, a qual história, se não virar lenda aos nossos olhares deslumbrados e invejosos, poderá virar anedota, em que os parolos somos sempre nós. Ou as vítimas, não tarda que o decifremos.

Berta Brás.jpgBerta Brás

 

A história do Imã Bouziane

 

Imã.jpg O senhor Imã Bouziane não trabalha, sendo um sábio do culto muçulmano.

 

O Imã Bouziane é polígamo, e:

- Declarou em 1993 à Prefeitura a sua segunda esposa.

- A Prefeitura aceitou que a sua segunda esposa se juntasse a ele em França sem lhe emitir a autorização de residência. As crianças nascidas da segunda esposa são francesas. Assim, ela não tem documentos e não pode ser expulsa.

-O Imã Bouziane tem hoje 16 filhos, 8 de cada mulher.

1) A segunda esposa não é considerada como tal.

Ela é considerada pela C.A.F. (Caisse d'allocations familiales) como um “parente isolado".

Por essa razão ela passa a ter direito ao A.P.I. ‘l'allocation de parent isolé”, ou “subsídio monoparental”, que atinge os 707,19 € para uma família monoparental com um filho, ao qual se soma mais 176,80 €por filho suplementar => (7 x 176,80 mais).

Seja um total de 1.944,79 €

2) Todos os meses ela recebe pelos seus 8 filhos 978,08 € de subsídios familiares.

3) Como ela tem 2 filhos com menos de três anos, tem direito ao A.P.J.E. (Allocation Pour Jeune Enfant) de 161,66 € x 2, ou seja, mais 323,32 €.

4) Como família monoparental, tem ainda direito a 305 € de subsídio de habitação.

5) Com 8 filhos ela não trabalha, o que faz com que o seu marido e muçulmano exemplar aprove sem dúvida que toda a mulher muçulmana «tem o direito de não trabalhar com os homens porque ela poderia ser tentada pelo adultério…" RMI (Revenue Minimum d’Insertion) ou Rendimento Mínimo de Inserção para uma 417,88 € + 167,15 € / criança ou seja, um total de 1.755,08 €.

6) Ela tem 4 crianças em idade escolar:

Subsídio ou Bolsa escolar anual => 257,61 € X 4 = 1.030,44 €, o que dá um montante mensal de mais 85,87 €.

No total, a Sra Bouziane n° 2 recebe 5.296,14 € / mês

O Sr. e a Sra Bouziane n°1 :

Com os seus 8 filhos atingem os 978,08 € de subsídios familiares todos os meses

+ 2 Subsídios para – crianças < 3 anos = 323,32 €

+ Subsídio habitação 305 €

+ Rendimento Mínimo Inserção Casal 626,82 €

+ 8 Filhos (1.337,20 €) => ou seja 1.964,02 €

+ Subsídio escolar para 4 filhos => 85,87 €.

No total, o Sr. E a Sra Bouziane n°1 atingem 3.651,29 € / mês

TOTAL : 8.947,43 € / mês

Medite, enraiveça-se e grite, ... Mas sobretudo continue a trabalhar duro, porque é preciso pagar!!!

 

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