NÁUFRAGOS DO MEDITERRÂNEO
As repetidas imagens televisivas da catástrofe dos náufragos do Mediterrâneo, fome, sede, abandono e morte, impressionam o mundo inteiro e especialmente a Europa. Vagas sucessivas de homens, mulheres e crianças, vindas sobretudo dos países norte-africanos e do Médio Oriente, deixam tudo, arriscam tudo, até a prisão e a vida e, sem as mínimas garantias de segurança e de sucesso, entregam-se nas mãos de traficantes sem escrúpulos e tentam a sorte. Fogem de guerras, de ameaças, da fome e da ausência total de esperança.
Não faria o mesmo qualquer um de nós se vivesse nas condições de vida das terras de origem destes refugiados e imigrantes?
Perante a crueza das reportagens e a quantidade inusitada de vítimas, a consciência colectiva impressionou-se e os organismos da União Europeia, com bastante celeridade, procuraram responder a este magno problema. Quais as principais medidas acordadas pelo Conselho da Europa para o efeito? Perseguir e punir os traficantes e procurar travar a partida, a partir da origem; melhorar a coordenação dos países da UE; não deixar cair todo o peso sobre a Itália; aumentar o financiamento comunitário para dotar dos meios necessários os diversos organismos envolvidos.
Serão positivas estas medidas? Certamente. Mas serão suficientes? Não, certamente! São medidas pontuais, de circunstância, muitas delas policiais e de “primeiros socorros”. É preocupar-se com os furúnculos e não olhar para o cancro...
Esta crise, colectiva, não pode resolver-se com medidas pontuais e conjunturais. É preciso olhar de frente o problema e ter a coragem de o atacar na sua origem e nas suas raízes.
Enquanto não se trabalhar seriamente pela paz, dentro dos diversos países e entre os vários países; enquanto não se fizer mais pelo desenvolvimento destas países mais pobres donde a esperança de vida desapareceu; enquanto não se levar à séria que os bens deste mundo não são só para alguns mas para todos os humanos; enquanto não se alterar as leis, abrindo progressivamente as fronteiras à imigração legal; enquanto não se avançar por este caminho que incomoda a consciência, insensível e egoísta, as medidas acordadas não passam de paliativos...
Não há força neste mundo capaz de suster o legítimo anseio pela paz, pela justiça,, por uma vida humana digna desse nome.
In «Editorial», BROTÉRIA, Abril de 2015, pág. 317 e seg.