TEMPOS MODERNOS...
... E NÓS NO CENTRO DELES
Durante muito tempo, descrevemos e analisámos a realidade social em termos políticos: a desordem e a ordem, a paz e a guerra, o poder e o Estado, o rei e a nação, a República, o povo e a revolução. Depois, a revolução industrial e o capitalismo libertaram-se do poder político e transformaram-se na base da organização social. Foi então que substituímos o paradigma político pelo paradigma económico e social: classes sociais e riqueza, burguesia e proletariado, sindicatos e greves, estratificação e mobilidade social, desigualdades e redistribuição, passaram a ser as nossas mais comuns categorias de análise.
Actualmente, dois séculos depois do triunfo da economia sobre a política, estas categorias sociais tornaram-se algo confusas e deixam na sombra uma grande parte da nossa própria experiência de vida. Temos, portanto, necessidade de um novo paradigma pois já não podemos regressar ao paradigma político sobretudo porque os problemas culturais assumiram uma tal relevância que a ciência social não pode deixar de se organizar à sua volta.
É, pois, neste novo paradigma que temos que nos colocar para conseguirmos definir os novos actores e os novos conflitos bem como as representações do sujeito e das colectividades para, então, deixarmos que surja perante os nossos olhos uma nova paisagem.
A busca do centro desta nova paisagem conduz-nos de imediato à informação que resulta duma revolução tecnológica cujos efeitos sociais e culturais deixam marcas bem visíveis por toda a parte. Mas o mais importante é a ausência de qualquer determinismo tecnológico nesta sociedade da informação, o que claramente nos separa da sociedade industrial onde a divisão técnica do trabalho não era dissociável das relações sociais de produção. A grande flexibilidade social dos sistemas de informação faz agora surgir uma situação totalmente nova.
Alain Touraine
In Un nouveau paradigme – pour comprendre le monde d’aujour’hui,ed. Fayard, 2005, pág. 9 e seg.
Tradução – Henrique Salles da Fonseca