«SYLLOGISMUS INVIDIA» - 1
Em ordinário, a língua falada pela ordem comum, a língua vulgar, não especificamente erudita, no nosso caso, o português, o título acima é «O silogismo da inveja». E porquê o título em latim? Por três razões, a saber: porque silogismo é «coisa» que vem da Antiguidade Clássica; porque a inveja é «coisa» muito mais antiga do que a dita Antiguidade Clássica; porque eu quero fugir o mais rapidamente possível do que é ordinário e a inveja é-o, claramente.
Inveja é substantivo mas hoje refiro-me ao adjectivo invejoso que é aquele que não quer que os outros tenham aquilo que ele próprio não tem.
Com esta simplicidade se chega à razão primeira da filosofia marxista. O marxista não quer que os ricos o sejam pois os pobres não conseguem enriquecer. E na visão marxista – estava a dita filosofia a nascer no século XIX, já lá vão quase 200 anos – os ricos eram os causadores da pobreza alheia. Solução? Acabar com os ricos.
Portanto, a inveja é o que está na base da filosofia marxista e para se ser um bom militante marxista tem que se ser um refinado (no sentido de politicamente formatado) invejoso. Tudo o resto são roupagens cujo objectivo consiste em tapar a sua ominosa nudez transformando a genética ordinária em virtuosa estirpe.
Até aqui, tudo semântica mas daqui em diante, «pia mais fino».
Diabolizado o lucro, tanto Lenine como os seus pragmáticos seguidores morderam o anzol que tudo lhes levaria a perder. Sem lucro não há poupança, sem poupança não há investimento, sem investimento não há progresso, sem progresso não há esperança e sem esperança não há sistema político que vingue sustentadamente nem sequer munindo-se de Polícias políticas, de costumes ou outras… Eis o silogismo da inveja que nem as tropelias contra os Direitos Humanos conseguem perturbar eternamente por serem contrárias à essência humana.
E o silogismo conduziu ao ponto mais do que ridículo – e, contudo, dramático para milhões de vítimas – de o determinismo histórico que previa o triunfo do marxismo sobre as ruinas do capitalismo se ter revelado ao contrário da (falsa) profecia com a glória das sociedades livres e socialmente previdentes sobre as ruinas do totalitarismo soviético.
Mas, entretanto, enquanto o pau foi e voltou, em nada folgaram as costas e sobre a Guerra Fria ainda não foi tudo dito. Sem a pretensão de pôr um ponto final sobre esse período da História de que eu próprio sou «documento coevo», direi algo no próximo texto, o do imperialismo soviético.
(continua)
Março de 2021
Henrique Salles da Fonseca