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A bem da Nação

SOLENES ORNATOS

Este texto esteve para se intitular «Trompe l’oeil» ou   «Eppatant les innocents» mas lembrei-me de que já somos poucos os que sabemos francês e, vai daí, fiquei-me por algo   mais directo.

* * *

Então, já que o princípio não é como devia ser, vai tudo às avessas e começo pela conclusão:

Conclusão – As Divindades não se deixam enganar e mal vai quem o tente.

* * *

As vestes antigas eram de outras modas e não faria sentido que a nossa actual Primeira Dama se apresentasse num qualquer acto público vestida como a D. Urraca o faria se por cá andasse. Não faltaria quem dissesse que a solenidade se transformava numa mascarada.

Dizem as pinturas antigas que tanto homens como mulheres de elevada condição usavam aquilo a que hoje chamamos saias e o povo usava tangas.  Os sacerdotes egípcios usavam um «chapéu» alto, cilíndrico e que à frente ostentava uma cobra, o símbolo da Divindade invocada nas respectivas solenidades.

Claramente, todo o aparato vestimental tinha como propósito convencer os fiéis de que aquela pessoa assim paramentada possuía o poder de comunicar com a Divindade, o que estava vedado ao comum dos mortais. E os fiéis acreditavam nessa mediunidade.

Hoje, sabemos que essas Divindades do politeísmo eram falsas e que não podia haver mediunidade com algo que, afinal, era falso. Mas as pessoas impressionavam-se com as solenidades, a simbologia de gestos, vestes, ornatos e preces.

* * *

Nos primeiros anos deste século, morreu uma das minhas inquilinas cujo único familiar era o Patriarca de uma Igreja de rito ortodoxo a quem tive que transmitir a infausta notícia e perguntar qual o destino a dar ao recheio do apartamento. Temas bem prosaicos para um Patriarca. Fiz-me anunciar com alguns dias de antecedência para que Sua Eminência tivesse tempo de pensar em assuntos tão vulgares e no dia aprazado compareci no templo uns minutos antes da hora combinada e não me fizeram esperar: abriu-se uma porta igual a qualquer porta de casa antiga na parte alta de Alfama, em Lisboa. Depara-se-me uma sala relativamente pequena e apenas iluminada por três ou quatro velas. O suficiente para me aperceber de um vulto mediano envergando uma veste longa negra e com decorações (bordados?) doirados. Na cabeça, um gorro do feitio dos cofiós, negro e com decoração doirada. Tive alguma dificuldade em me adaptar à escuridão e foi no último instante que retive alguma manifestação de surpresa (alguma gargalhada) pelo espectáculo que inesperadamente se me deparava. Logo me imaginei num cerimonial de veneração a Amon ou Zaratustra mas contive-me e comportei-me com o respeito devido a fé alheia. Tratámos dos assuntos que lá me tinham levado, despedimo-nos cerimoniosamente e regressei ao século XXI.

* * *

Creio que o misticismo não carece de balandraus, gorros nem casulas ou tiaras. Mais creio que todo esse «décor serve apenas para impressionar (enganar) os inocentes mortais pois Deus e os Santos de altar não se deixam enganar.

Bem sei que a todo o cerimonial religioso cumpre o respeito pelas Divindades invocadas e, às gentes cumpre um formalismo igualmente respeitoso pelo que, não aceitando indumentárias desrespeitosas, também creio que os celebrantes e a assembleia de fiéis deviam trajar com formalismo da época e sem ornatos enganadores. A fé não se confunde com balandraus.

A conclusão está no quase início do presente texto.

8 de Setembro de 2022

 

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