SILOGISMANDO...
Pensar é acto absoluto; saber é relativo.
Como animal amestrado, pode-se saber sem ter pensado; ser pensante pode saber muito ou pouco mas não pode prescindir de um sistema de raciocínio mais ou menos sofisticado mas sempre implicando uma (alguma) lógica.
O que não se basear nalgum sistema lógico é ilógico e, como tal, absurdo. Absurdo no âmbito de um determinado sistema de lógica mas, eventualmente, não noutro sistema porque a lógica não é não é absoluta senão no sistema em que se integra. É, pois, relativa.
Tudo, matéria interessante, sem dúvida que exige reflexão, que exige algum esforço de raciocínio dentro de algum sistema de lógica, de identificação de conceitos absolutos e de outros apenas relativos. Um esforço de síntese, de concentração.
Nós, ocidentais, estamos de tal modo formatados na Civilização Aristotélica que não concebemos outros sistemas de raciocínio mas, na verdade, eles existem. Basta lembrarmo-nos de todas as Civilizações não-Aristotélicas. Diferenças essas de sistemas lógicos que podem gerar conflitos.
A nossa busca da fronteira entre o relativo e o absoluto assemelha-se muito à abstração das particularidades, à pureza de conceitos e requere concentração e, até, isolamento – mas, de preferência, sem os exageros da clausura nem dos anacoretas. E não será tão pouco conveniente tentar alcançar o nirvana, essa forma utópica de nihilismo mental, exactamente porque é o oposto do que pretendemos, o pensamento superlativo. Pelo contrário, exige uma presença total, um uso pleno das capacidades mentais da pessoa estatisticamente normal, igual aos demais mas sem nada que a distraia.
Então, silogismando, se o progresso da Humanidade se consegue com a pureza do raciocínio cuja formulação exige concentração, por que gostamos tanto de música, essa arte que nos distrai do sentido maior do pensamento?
Porque o belo, nas suas formas lúdicas, dá prazer aos sentidos e deve dar sentido honesto aos prazeres e também porque nem só de pão vive o homem.
Novembro de 2021