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A bem da Nação

SHALOM – 6

 

 

Creio que em hebreu «beth» significa «casa» e «lehem» significa «pão». Se não é assim é porque é exactamente ao contrário mas o Google Translator não me ajudou nada pois escreve o hebreu nos caracteres hebraicos e nisso eu sou analfabeto. De qualquer modo, o nosso guia «José por um dia» disse-nos que Bethlehem significa «casa do pão» no sentido de que se tratava de terra fértil. Admitamos, pois, que nos tempos bíblicos, Belém, então uma pequena aldeia, tenha sido fértil. Contudo, eu só lá vi pedras e mais pedras tanto nos montes como nos vales.

 

Foi em Belém que há cerca de quatro mil anos Jacob enterrou Raquel e foi lá também que David nasceu e onde Samuel o ungiu. Mas o que mais celebrizou a cidade foi o nascimento de Jesus e foi para visitarmos a Basílica da Natividade que lá fomos, mais do que para celebrarmos figuras do Antigo Testamento.

 

Acontece que a Basílica da Natividade se situa na parte alta da cidade a que se tem acesso por uma rua com alguma inclinação e que habitualmente não dá acesso a autocarros de peregrinos. Mas o nosso motorista, sendo palestiniano, foi a pé «conversar» com o polícia de plantão que se compadeceu de nós, os velhinhos, permitindo que subíssemos motorizados. Mas o regresso teria que ser a pé! Muito bem, para baixo todos os Santos ajudam.

 

E como não podem ver uma camisa lavada a um pobre, lá estava uma mesquita bem à frente da Basílica da Natividade e nós, já mais ou menos habituados, também ali tivemos que ouvir a gravação do muezzin a chamar os muçulmanos para a oração. Forte marcação esta que os muçulmanos fazem aos lugares mais sagrados da cristandade. E nós, bonzinhos, deixamos.

 

 Basílica da Natividade - porta minúscula para impedir que os inimigos entrem a cavalo

 

Do presépio original nada resta de tão revestido por decorações, arquitecturas de várias épocas e novos pavimentos. Apesar de tudo, a visita ao local é emotiva e inspiradora fazendo-me lembrar o Evangelho Segundo S. Lucas onde diz que...

  • Subiu também José da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém (porque era da casa e família de David), a fim de se alistar com Maria, sua esposa, que estava grávida. E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz a seu filho primogénito, envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura porque não havia lugar para eles na estalagem. - Lucas 2:4-7

 

 Local do nascimento de Jesus

 

E ao sair da Basílica, estando ainda o muezzin a chamar os retardatários, dirigimo-nos a pé até à central de camionagem lá ao fundo da rampa onde o nosso autocarro nos esperava. Não valerá a pena referir o estado degradante de muitos dos carros com que nos cruzámos nem um ou outro saco de lixo que alguém se esquecera de recolher porque, chegados à camionagem, ouvimos berraria tão grande que deu para imaginar alguma hecatombe natural ou quiçá artificial. E o que era? Eram dois polícias que se disputavam razões de tal modo vinculadas a cada um que o pior seria imaginável se algum deles puxasse da arma no coldre. E nem a presença de um grupo de estrangeiros os demoveu da defesa das causas respectivas ou lhes sugeriu alguma moderação no timbre da argumentação. Desconhecendo o vernáculo local, não posso testemunhar sobre a adjectivação usada mas, pelo tom, imagina-se como as mãezinhas estariam a ser molestadas. Como querem eles dar-se ao respeito se a própria «autoridade» se comporta de modo tão original? Comparados com aquilo, os nossos «secos e molhados» são uns inocentes aprendizes. Não sei como aquilo acabou nem quero saber. Apenas temo que se trate de um modo cultural que, felizmente, nada tenha a ver com outras Nações.

 

Dali ainda fomos a uma loja de «recuerdos» bem perto da fronteira mas não me dignei sequer sair do autocarro. E foi dali mesmo que assisti ao regresso a casa dos palestinianos autorizados a trabalhar em Israel. Ordeiros, vinham a pé da fronteira ou em mini-buses sendo estes acolhidos por «sinaleiros» ao estilo dos nossos arrumadores de automóveis com jornal enrolado numa mão para que a sinalética seja mais evidente. E, como cá, os motoristas tinham espaço de sobra para arrumarem ou manobrarem as viaturas; mas lá esticavam o braço com qualquer coisa na mão que os «sinaleiros» esbracejantemente agradeciam.

 

Belas moradias nesta zona de Belém mas ficando todas a não menos de 10 metros do muro de cimento. Nem todos por ali são «sinaleiros».

 

Eram horas do regresso a Haifa onde nos aguardava o hotel flutuante, o nosso barco «La belle de l’Adriatique». A viagem far-se-ia pela auto-estrada que já percorrêramos nessa manhã mas, entretanto, vimos por fora as muralhas de Jerusalém e lembrei-me...

 

Abril de 2014

 

 Henrique Salles da Fonseca

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