SHALOM – 4
Já disse mas repito: segui minuto-a-minuto a guerra dos 6 dias mas a imagem que me ficou gravada foi a do reencontro dos judeus com o Muro das Lamentações junto a que eles estavam impedidos de rezar há várias gerações. Pareceu-me algo como a refundação do Estado de Israel.
E se nesta visita a Jerusalém me lembrei de muitas coisas, outras houve que me foram lembradas pelo nosso guia «José por um dia». Por exemplo, lembrou-nos que o Papa Paulo VI, apesar de convidado pelo rei Hussein da Jordânia[1], teve que fazer um desvio de centenas de quilómetros para visitar o Monte Sião e a sala do Cenáculo porque os muçulmanos, interpostos numas ruelas entre esses dois marcos fundamentais da cultura judaico-cristã, impediram que ele percorresse essa escassa centena de metros. Em compensação, o Papa João Paulo II conseguiu fazer a sua peregrinação sem desvios absurdos e foi ao Muro das Lamentações fazer as suas orações deixando, à maneira dos judeus, uma mensagem escrita numa das ranhuras que os séculos fizeram entre as pedras.
Foi nesta visita ao Muro das Lamentações que usei um quipá pela segunda vez (a primeira foi na visita que fiz à Sinagoga de Budapeste) e não me senti perturbado por o ter feito. Sobretudo quando sei que o quipá judeu tem exactamente o mesmo significado que o solidéu cristão e o cofió muçulmano: - Lembra-te homem que vais só até ao cimo da tua cabeça e que daí para cima é Deus.
Local de grande significado para os judeus, tinha algumas dezenas de crentes a rezar e por isso me deixei ficar um pouco para trás para ter a certeza de que os não perturbava. Estar no local, próximo do muro, foi suficiente para me lembrar de que são felizes os que têm fé, de que o imperialismo dogmático é causa de muita desavença e de que muito provavelmente a generalização da infelicidade tão insistentemente transmitida pelos telejornais resulta da perturbação de multidões infelizes por falta de fé.
Fisicamente estafados, saímos do recinto em direcção à porta de Sião e o autocarro rumou a Belém.
Abril de 2014
[1] - Para saber mais sobre a peregrinação de Paulo VI à Terra Santa, v. p. ex. http://pt.custodia.org/default.asp?id=2048&id_n=24165