SHALOM – 1
Gentio designa um não judeu. Para que um homem gentio, não descendente de Abraão, possa ser incluído no povo judeu, deve, antes do mais, aceitar ser circuncisado ficando então a ser considerado igual a qualquer nacional, com os mesmos direitos e obrigações que todos os demais israelitas. Outras acepções para o termo: pagão; não civilizado.
Custa-me crer que a circuncisão possa ter qualquer valor teológico mas como também penso que a fé não se discute, limito-me a permanecer do lado de fora de tal discussão e correr o risco de que me considerem não civilizado.
Não civilizado, gentio, pois, me confesso. Mas sempre fui um grande admirador dos judeus e foi com emoção que segui minuto-a-minuto a guerra dos 6 dias e a do Yom Kippur e que li com paixão sobre outras façanhas da causa sionista como a aventura do navio Exodus, etc....
E foi precisamente no Exodus que pensei quando La belle de l’Adriatique, o navio do meu cruzeiro no Mediterrâneo oriental, zarpou de Limassol e rumou a Haifa.
Para que não restem dúvidas sobre a evolução ocorrida desde 1947 até agora, notem-se as diferenças entre os dois navios.
EXODUS – 1947
LA BELLE DE L’ADRIATIQUE – 2014
É claro que não me refiro à evolução que ocorreu na engenharia naval.
Escusado será dizer que não fomos inamistosamente escoltados por qualquer navio de guerra e escusado também será dizer que não tínhamos qualquer manifestação popular cantando hinos de glória à nossa chegada.
"Exodus 1947" – A verdadeira história
Chegada a Eretz Israel
Quando, naquele 18 de Julho, completamente avariado, o navio, puxado por um reboque, chega ao cais, no mastro tremulava a bandeira sionista. Os britânicos, à espera do navio "inimigo", estavam, naquela sexta-feira, em alerta total. Haviam fechado o porto, ao qual somente tinham acesso militares e polícias ingleses ou jornalistas da imprensa internacional. No cais viam-se tanques, policias e militares sendo 500 homens da Artilharia britânica. Ao lado do cais, aguardavam três navios-prisão: "Ocean Vigour", "Runnymede Park" e "Empire Rival". Os ingleses queriam fazer do "Exodus 1947" o exemplo para desencorajar, de uma vez por todas, a entrada de judeus na Terra de Israel. Mal sabiam que logo descobririam que a coragem e determinação que os guiava eram infinitamente mais fortes que o poderoso Império Britânico. O fogo de Auschwitz moldara-os em aço...
Os judeus de Eretz Israel também aguardavam aquele navio. Mas, impedidos de se aproximar, milhares foram até à barreira militar inglesa e, a plenos pulmões, cantaram o Hativka, o Hino da Esperança, as vozes ressoando por todo o porto. Desde a noite anterior, toda a então Palestina estava em alerta.
In http://www.arqshoah.com.br/bibliografia/218/
Ainda dentro do navio, tivemos a receber-nos umas sisudas funcionárias da imigração ou da segurança do Estado de Israel que bem podiam aprender alguma cortesia com os «colegas» de índole turca que nos tinham recebido na fronteira de Nicósia. Tendo recebido antecipadamente toda a informação sobre quem éramos ou deixávamos de ser, não se compreende tanta carrancudice. Quase imitavam os ingleses naquele mesmo local em 1947. Pensam, pelos vistos, que todos somos inimigos até prova em contrário. Já vi modos mais corteses de receber amigos.
Ao desembarcarmos cinco minutos depois (o tempo de descermos da sala no segundo deck em que as funcionárias dos passaportes nos receberam até à escada do portaló), fomos novamente confrontados com a foto no passaporte e todos os jovens (apenas os membros da tripulação que nos deviam acompanhar aos autocarros e pôr os auriculares a funcionar) tiveram que passar pelo pórtico detector de metais; nós, os turistas propriamente ditos, fomos dados como metalicamente inocentes. Salvo alguma prótese típica da terceira idade...
O guia do grupo do meu autocarro chamava-se «José» porque aquele era o Dia do Pai.
E lá fomos, Sol nascente, a caminho de Jerusalém e de Belém...
Março de 2014