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A bem da Nação

SÃO TOMÉ

 

 

21 de Dezembro, o dia que a Igreja dedica a São Tomé. “O que quis ver para crer”!

 

No Evangelho de S. João, 11.16, quando Lázaro morre, os discípulos resistem à decisão de Jesus para que retornem à Judeia, onde os judeus tentaram apedrejar Jesus. O Mestre está determinado, mas é Tomé que toma a palavra final: "Vamos todos, pois poderemos morrer com Ele".

 

Sabe-se muito pouco sobre as vidas dos apóstolos, grande parte delas são lendas não comprovadas historicamente. Mesmo os nomes por que são conhecidos provocam muita controvérsia.

 

Sabe-se que Tomé, chamado Didimo, pelos gregos, é uma palavra de origem aramaica, Tau'ma (תום),que significa gémeo.

 

Chamar-se-ia Judas, há quem o confunda ou misture com Judas Tadeu, irmão de Tiago, Tiago Menor, o que terá ido catequizar para a Península Ibérica. Tiago, Iacob, vem do hebraico Ia`qôb, “aquele que segura o calcanhar de seu irmão gémeo”. Tiago e Tomé eram gémeos?

 

Depois da morte de Cristo, quando os apóstolos tiraram à sorte quanto às suas respectivas missões, Tomé terá afirmado “qualquer que seja a Tua vontade, Senhor, assim o farei”, mas teria acrescentado que só para a Índia não iria! De pouco lhe valeram as orações! A tradição diz que São Tomé evangelizou os Partos, Medas e Persas e, talvez em tempo, Tomé, que seria um construtor experimentado, encontrou-se contratado por um comerciante indiano, Aban, que o levou para trabalhar no novo palácio de Gondophares, um Parto, mais tarde identificado como Gudnaphar, um rei indiano mencionado num primeiro texto cristão. Este texto está nos Actos de São Tomé, de que chegaram até aos nossos dias versões completas em siríaco e grego. Existem ainda muitos fragmentos preservados do texto em que diz que o apóstolo tenha mesmo assistido de facto à corte do rei, na cidade de Taxila, às margens do rio Hindus, Punjab, quase no limite norte da península, onde hoje fica Islamabad, no Paquistão.

 

Lenda do palácio de São Tomé para o rei Gudnaphar

 

Jesus tinha dito aos discípulos que deviam levar a sua mensagem para as pessoas de todo o mundo. Agora, aqui, estava Tomé na Índia muito longe de casa e onde nunca tinha querido estar! Tomé andava pelas ruas da cidade de Takshasila, no Punjab, de onde o rei Gudnaphar governava o Império. Tomé precisava de trabalho e perguntou se havia trabalho para um construtor, para que pudesse trabalhar com madeira e pedra.

 

Foi ouvido por um dos homens do rei: você é um construtor de Jerusalém? Que sorte! Meu mestre, o rei Gudnaphar quer um palácio construído bem como o Palácio do rei Solomão em Jerusalém. Você é o homem de que precisamos; então, Tomé foi levado perante o rei. - Diga-me o que é que você pode fazer, disse Gudnaphar.

 

- Em madeira, Vossa Majestade, posso fazer arados, jugos, saldos e polias, remos e mastros e navios. Em pedra posso fazer pilares, templos e palácios.

 

- Você é realmente o homem para o trabalho, disse o Rei encantado.

 

Gudnaphar levou o seu novo construtor para o lugar a algumas milhas da cidade onde o seu novo palácio devia ser construído. A terra estava coberta de árvores e algumas em área pantanosa.

 

- Quero que inicie imediatamente e me construa um palácio tão bonito como o famoso Palácio do rei Solomão.

 

- Posso construir um palácio, Vossa Majestade, mas não poderei começar até Novembro. Vou ter que terminar em Abril, no entanto.

 

- Isso seria um trabalho rápido com efeito, disse o rei, mas não pode trabalhar durante o Inverno. Você deve começar agora... enquanto o tempo está bom.

 

- Não tenho medo de nada, disse Tomé.

 

O Rei concordou e quando finalmente viu os planos do palácio que Tomé desenhou, ele sabia que seria um palácio que valia a pena esperar. Como Novembro se aproximava, o rei Gudnaphar enviou uma grande soma de dinheiro a Tomé para que ele pudesse empregar trabalhadores para começar limpando as árvores e para comprar as melhores madeiras e pedras para construir o seu maravilhoso palácio.

 

Mas assim que Tomé recebeu o dinheiro começou a andar pelas aldeias pobres nas proximidades, dando o dinheiro para alimentar os que tinham fome, ou a doentes para medicamentos; Tomé pagava casas para os desabrigados e certificou-se que órfãos, viúvas e idosos fossem devidamente cuidados.

 

Os meses foram passando, o dinheiro começou a esgotar-se, mas não havia sinal de qualquer palácio.

 

 

FGA-S.TOMÉ 1.jpg

Moeda com o “retrato” do rei Gudnaphar - I séc. d.C.

 

Gudnaphar enviou mais dinheiro para Tomé comprar ouro para as paredes, mármore para o chão, prata para as lâmpadas; e Tomé foi dando todas as coisas para as pessoas pobres das aldeias. Como Abril chegou, o rei partiu para ver o seu novo palácio construído para ele em tempo recorde por Tomé de Jerusalém. Gudnaphar não poderia pensar em mais nada. Você pode imaginar o choque quando ele chegou ao lugar onde deveria estar o seu palácio: viu as árvores ainda todas de pé e o solo pantanoso, mas não via nenhum sinal de um palácio.

 

Perguntou a um transeunte se ele tinha visto Tomé. O rei gostaria de falar com ele. - Quer dizer, Tomé, que tem dado dinheiro para os pobres e famintos, que cuida dos doentes e encontra casas para os desabrigados? Ele não come nada mesmo, só pão e água e viaja de aldeia em aldeia para falar às pessoas sobre Jesus.

 

- Isso é tudo muito bem mas eu não vejo nem sinal do meu palácio.

 

- Mas você não viu a felicidade nos rostos das pessoas por aqui, respondeu o homem.

 

Tomé foi logo encontrado pelos soldados do rei e levado perante ele. E quando o rei exigiu ver seu novo palácio, Tomé respondeu calmamente: - Você certamente verá o palácio que construí. Mas não é um palácio terreno. É um palácio nos corações dos povos, um palácio celestial que você não vai ver nesta vida.

 

Rei Gudnaphar ficou decepcionado e irritado. Ordenou que Tomé, o construtor, fosse levado para a prisão.

 

- Você tem-me feito de bobo e desperdicei meu dinheiro, disse Gudnaphar. Você vai morrer de uma morte horrível. Sua pele ficará pedaço por pedaço e então você vai ser queimado vivo.

Tomé foi levado embora dizendo: - Nada temerei, só acredito em Deus.

 

Naquela mesma noite, o Príncipe Gad, irmão do rei, de repente adoeceu seriamente e nas primeiras horas da manhã morreu. A sua alma foi levada para o céu onde os anjos lhe disseram que ele poderia escolher um palácio celestial para viver. Gad, Príncipe, olhou para todos os belos edifícios e logo percebeu que um era mais magnífico do que todo o resto.

 

- Gostaria de passar para sempre num palácio assim, disse Gad.

 

- O palácio foi construído para seu irmão Gudnaphar, por Tomé o pedreiro, que se importou com os pobres com o dinheiro de reis, disseram os anjos.

 

Enquanto o rei Gudnaphar ainda deitado, sonhando com seu irmão, o Príncipe Gad, este apareceu diante dele e disse-lhe que o maravilhoso Palácio que Tomé tinha construído para ele estava no céu. O rei compreendeu e saltou da cama para acordar seus guardas com ordens para deixarem Tomé livre imediatamente. A partir daquele dia Gudnaphar deu generosamente dinheiro aos pobres e continuou a construir o seu palácio no céu.

 

 

Uns historiadores dizem que ele foi recompensado pelo rei, outros que terá sido açoutado. Pela lenda, as duas situações podem ter acontecido!

 

Dali Tomé enceta a sua segunda jornada pela Índia, tendo chegado a um dos portos na região de Cranganore, como Cochim, hoje distrito de Kerala, bem no sul da Índia, onde fez muitas conversões e ainda hoje uma comunidade se diz descendente dos cristãos da Síria e são também chamados de Nasranis, que em malaio significa “seguidor de Nazaré”, de Jesus e Nazaré.

 

Daqui Tomé atravessou todo o Sul e foi estabelecer-se na Costa Leste, Costa do Coromandel, em Maliapor, na altura longe da cidade de Madras, hoje Chennai, vivendo na mesma humildade, numa caverna. Converteu muita gente à Boa Nova, e até hoje a caverna e o morro onde viveu e foi martirizado, se chama o Monte de S. Tomé e é venerado por multidões.

 

 

FGA-S.TOMÉ 2.jpg

Monumento em frente da igreja de São Tomé, em Chennai

 

Foi morto por lançadas que um rei, invejoso do sucesso da sua pregação, mandou matar.

 

Sepultado na mesma caverna, teria sido transladado para Edessa, hoje Orfa – ou Urfa – na Turquia perto da fronteira com a Síria. São João Crisóstomo (347-407) assinalava o seu túmulo como uma das quatro sepulturas conhecidas dos apóstolos. Na primeira metade do século VI um viajante chamado Cosme, num livro que escreveu sobre as suas peregrinações diz que encontrou uma igreja de cristãos com clérigos e um bispo ido da Pérsia. Certamente aqueles de que reza a primeira viagem de Vasco da Gama que diz ter encontrado os “cristãos de São Tomé”.

 

Quando os portugueses lá chegaram, ainda existia um pequeno templo,e os brâmanes asseguravam que lá se encontravam os ossos do Santo. Em 1522 D. Duarte de Menezes, governador da Índia mandou reconstruir o templo que havia sido feito séculos antes. Ao abrirem os alicerces encontraram uma tumba de pedra com ossos que foram tomados como relíquias de São Tomé e, inclusive, um pedaço de uma das lanças com as quais fora morto com o sangue ainda coagulado.

 

Hoje tem uma imponente igreja.

 

 

FGA-S.TOMÉ 3.jpg

Basílica de São Tomé, em Chennai, construida pelos portugueses em 1896

 

Um facto recente e muito curioso foi quando do tsunami de Dezembro de 2004 que devastou toda aquela região: o templo que guarda suas supostas relíquias ficou imune às ondas gigantescas que destruíram todas as construções adjacentes, tendo permanecido intacto.

 

Uma antiga tradição afirmava que um poste fixado pelo apóstolo limitaria até o fim dos tempos as águas, que jamais o ultrapassariam. Este poste existe até aos dias actuais e localiza-se exactamente na porta principal da igreja que guarda as suas supostas relíquias. Isto deixou os sacerdotes hindus desconcertados e os mesmos prometeram não mais perseguir e discriminar os cristãos daquelas regiões.

 

São Tomé ainda é honrado em Taxila num festival anual no começo de Julho, celebrado por milhares, celebrando a passagem dos seus ossos através de Taxila no seu caminho para Edessa (actual Saniurfa na Turquia).

 

Além disso, é o Padroeiro dos arquitectos da Índia e de outros.

 

 

21-Dez-2014, 1942 anos após o martírio de São Tomé.

 

Francisco Gomes de Amorim 

Francisco Gomes de Amorim

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