REFLEXÃO COLONIAL - 2
Hoje refiro-me às famosas 800 toneladas de oiro que as casas fortes do «Banco de Portugal» ciosamente guardavam ao 25 de Abril de 1974.
E a questão é a de saber como foi possível juntar tamanha fortuna.
Que eu saiba, por três causas.
- A política de entesouramento de Salazar como antídoto para eventuais situações de bancarrota como aquela que o levara ao poder. E esta política passava por três vectores: o estrito controlo da despesa pública de modo a sempre conseguir superávirtes nas contas do Estado; estrito controlo da dívida externa pública (Salazar não descansou enquanto não a domou); estrito controlo da dívida externa privada, nomeadamente pelo controlo administrativo do comércio externo e pela gestão rigorosa das demais componentes da Balança de Pagamentos;
- Todo o movimento cambial de Portugal e das colónias passava peloBanco de Portugal» e a todas as parcelas do espaço eram exigidos superávites cambiais sendo que o desenvolvimento era apenas aquele que o equilíbrio das contas públicas e os superávites cambiais permitissem;
- A avidez sulafricana por mão de obra moçambicana para as minas de oiro, conduziu ao estrito controlo dos «magaíças» pela Autoridades portuguesas de modo a impedir o tráfico humano, nomeadamente pelo controlo de passaportes (assim como controlo dacyiloscópico para ultrapassar a falsificação dos passaportes) e garantia de pagamentos dessa mão de obra pelas entidades patronais mineiras. Paralelamente, o Estado Sulafricano pagava periodicamente ao Estado Português uma certa quantidade de lingotes de oiro pela cooperação desenvolvida em todo o processo.
Eis como se amontoou tão pesada herança; eis como num ápice no Largo do Carmo em Lisboa em 1974 se foram os dedos e ficaram os anéis.
Fevereiro de 2022