QUEM TAL DIRIA...???
O título deste texto esteve para ser «A atracção dos opostos» mas, pensando mais um pouco, achei que a essência do Poder autocrático gera solidariedades curiosas. Em alternativa, parece melhor enquadrar o texto num conjunto a que chamo «Curiosidades da História».
Então, o facto histórico que recentemente me foi contado por quem «in illo temporae» teve acesso à correspondente informação no exercício das suas funções quando cumpriu o Serviço Militar Obrigatório, consistiu na vigilância que os Serviços Secretos portugueses antes de Abril de 1974, a PIDE, exerciam sobre certos refugiados lestian em Portugal (opositores ao comunismo no seu país) a troco de informações dos correspondentes serviços secretos lestianos sobre os movimentos do Dr. Cunhal e de outros comunistas portugueses que andassem refugiados pelo lado de lá da Cortina de Ferro.
Não teço agora comentários à qualidade das informações transmitidas de lado a lado nem sobre a relevância que cada receptor (e inerente tratamento) deu às ditas informações. Apenas constato que umas não impediram a passagem do Império Português para a tutela do homólogo soviético assim como, no sentido contrário, não impediram a queda da Cortina de Ferro. O que me interessa, isso sim, é constatar uma colaboração – que considero totalmente absurda – entre serviços secretos de lados opostos da «barricada». E o que me causa maior espanto foi ter havido troca de informações entre os Regimes do «ultrarradical de esquerda» Jivkove do «ultra radical de direita» Salazar. Só consigo entender esta realidade como uma tentativa de cada um dos autocratas se manter no poder garantindo o máximo de «status quo». Ou seja, algo como uma solidariedade estabelecida sobre um estilo de exercício do poder – neste caso, o autocrata - e nada tendo a ver com as causas estratégicas, económicas ou sociais defendidas por cada um. Ainda admito uma outra hipótese: que exista uma solidariedade corporativa mundial entre os agentes secretos de modo a que todos tenham as «barbas de molho» quando o seu lado ruir. Será então verdade que, na queda de Ceaucescu, os chefes da «Securitate» se passaram directa e rapidamente para os serviços secretos de um país levantino amigo do Ocidente?
Diz-se, diz-se… mas se, por acaso, tiverem alguma ponta de verdade, imaginemos a distância que deve existir entre as conversações que realmente existem entre a Rússia e a Ucrânia e aquilo que nos é transmitido pelos noticiários, os que se dizem defensores da verdade. Quem tal diria…???
Mas, nesse espaço entre a verdade e a fantasia do que os «negociadores» atiram cá para fora, morre muita gente.
Lisboa, 19 de Abril de 2022