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A bem da Nação

QUEM DIRIA…

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Manuel Teixeira Gomes

(Portimão, 1862 – Argel, 1941)

(7ª Presidente da República – 6/10/1923 – 11/12/1925)

Principais obras literárias (in Wikipédia):

* * *

Membro de família abastada, Manuel Teixeira Gomes nasceu em Portimão no ano de 1862 e pelos 10 anos ingressou no seminário de Coimbra até que passou para a Universidade a fim de cursar medicina. Mas a boémia foi mais forte do que o rigor científico e assim foi que o jovem se passou a dedicar mais às artes, ou seja, à estroina.

O abastado pai convenceu-se então de que mais valia continuar a dar-lhe a mesada e deixá-lo viver a sua vida de rapaz, já então com mesclas de literatura, pintura e escultura. Mudando-se para Lisboa, optou pela literatura e passou a colaborar em revistas e jornais… até que o pai o conseguiu atrair para os negócios da família (frutos secos, nomeadamente algarvios) e o fez viajar pelo Mediterrâneo e Europa firmando contratos um pouco por toda a parte. O próprio escreveu na sua “Miscelânea”: Fiz-me negociante, ganhei bastante dinheiro e durante quase vinte anos viajei, passando em Portugal poucos meses.

Foi neste período que ganhou mais mundo do que aquele que já de cá levava, passou por experiências que lhe proporcionaram grandes recordações e nos facultaram a nós, seus leitores, páginas admiráveis. Senhor de vasta cultura, pôs no papel episódios rocambolescos e de muito outras ordens, por exemplo, aqueles que nos deixou intitulados “Duas novelas eróticas”. Quem diria…

Republicano, a sua vida política ao serviço do novo regime começou logo em 1911 e prolongou-se até 1918 no espinhoso cargo de Embaixador em Londres. Levar a Velha Albion a reconhecer a jovem e ainda pouco estável República Portuguesa não era tarefa fácil uma vez que os monarcas britânicos tinham laços familiares com os depostos monarcas portugueses que viviam exilados em Inglaterra. Mas conseguiu insinuar-se de tal modo que ao fim de alguns anos a família real o passou a convidar para o palácio com toda a naturalidade. Sabe-se, por exemplo, que a rainha Alexandra lhe pediu para lhe decorar o gabinete oriental no Palácio de Buckingham.

Normalizadas as relações diplomáticas entre Portugal e a Grã-Bretanha, foi a vez de em 1918 Sidónio Paes subir ao Poder demitindo o Embaixador em Londres que regressou ao Algarve para gerir directamente as suas propriedades.

Contudo, o fim do consulado sidonista fez com que logo em 1919 Teixeira Gomes fosse novamente chamado à diplomacia, desta feita em Madrid e em Londres.

Como Presidente da República, ocupou o cargo entre 5 de Outubro de 1923 e 11 de Dezembro de 1925 mas demitiu-se antes do fim do mandato deixando-nos com o seu conhecido desabafo: A política, longe de me oferecer encantos ou compensações, converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia-a-dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas; sinto uma necessidade, porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às minhas cadeiras e aos meus livros.

Com o advento do Estado Novo em 1926, auto-exilou-se em Argel onde retomou a escrita dos seus livros até que morreu em 1941. O seu corpo foi trasladado para Portugal em 1950 mas os seus escritos já cá estavam. Por exemplo, esses contos eróticos.

É de nos perguntarmos sobre o que será mais estranho: se um escritor do erotismo chegar a Presidente da República; se um Presidente da República divagar pelo erotismo.

Ainda estou na minha: quem diria…

Claramente, uma personalidade sobre que falamos de menos e que lemos de menos. Pela minha parte, sinto que devia lê-lo mais se houvesse onde encontrar os seus livros. Na falta de novas edições, penso nele de cada vez que sobrevoo Argel e faço o gesto simbólico de o cumprimentar levando a mão esquerda ao chapéu (que não uso nos aviões) libertando a direita para um aperto de mão a «quem a levou bem levada» e deixou uma ou duas filhas pela calada das noites algarvias…

Henrique Salles da Fonseca

 

BIBLIOGRAFIA:

Manuel Teixeira Gomes, DUAS NOVELAS ERÓTICAS – Contexto Editora – Lisboa, 1995

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