«QUANTITATIVE EASING» EUROPEIA, A VERSÃO MÁRIO DRAHI E OS ETERNOS PROBLEMAS
O «Quantitative Easing», na versão Mario Draghi, não é a solução milagrosa que se pensa e, além disso, chega tarde e a más horas. À falta de outras soluções mais convencionais, a opção por esta via disponibilizando mais dinheiro (1,1 bilião de euros!) constitui uma opção de risco. As taxas de juro estão muito baixas e, neste quadro, os bancos vão guardar o dinheiro ou exercer um controlo muito apertado do crédito, só o concedendo aos "grandes clientes", com garantias de retorno certo. Resta saber se estes irão injectar o capital na economia real, gerando emprego e dinamizando as empresas, se vão optar pela via especulativa ou, se, pura e simplesmente, o vão aplicar (ou seja, no fundo, imobilizar) em operações de rendimento garantido. Muito provavelmente, o crédito ao cidadão vulgar de Lineu será concedido de forma muito restritiva e a conta-gotas. O(s) interessado(s) terá(ão) de esperar por melhores dias, ou seja pela recuperação económica plena - se, quando e como.
Mais. Para completar o quadro, é preciso não esquecer que se vive na austeridade sem tréguas, nem quartel, e será ilusório pensar que se sairá dela, como num passe de mágica. O populismo grego ficará para os gregos e, muito sinceramente, que lhes faça o melhor proveito possível.
Em suma, a reacção da banca será muito provavelmente a que se antevê, com a tonalidade descrita ou com outra muito parecida.
É preciso, em breves pinceladas, traçar o quadro actual repisando pontos estafadamente debatidos, mas que nunca é demais relembrá-los. O nosso grande problema (ou melhor, o nosso duplo problema) consiste no desregramento e "laissez aller" a Sul e o fundamentalismo financeiro a Norte. Depois há questões de ordem psicológica que também pesam: uma Alemanha que vive sob o espectro de uma nova República de Weimar, de que conhecemos as consequências trágicas e um Sul que precisa de oxigénio para respirar e que começa a desesperar (a Grécia é um bom exemplo, mas não é o único, nem sequer o mais preocupante). Por outro lado, o Euro, lançado por vontade expressa de Mitterrand que, aterrado, queria controlar ingenuamente uma Alemanha gigantesca, e avança, então, a todo vapor, para Maastricht, lança a moeda única, aceitando um novo marco e as regras germânicas do mesmo, todavia sem harmonização fiscal, sem concordância das políticas orçamentais, sem regulação bancária comum e sem convergência de políticas económicas, convencido que as diferenças entre Portugal e a Alemanha eram comparáveis às existentes entre o Arkansas e a Califórnia, que também utilizam uma moeda única (o dólar) dentro do mesmo espaço comum (os EUA). Estava dada a receita para o desastre e deu-se. As assimetrias naturalmente emergiram: a Norte, ficaram os beneficiários a Sul os sacrificados. Estou obviamente a condensar o discurso. Mas as coisas, grosso modo, passaram-se assim. Luz ao fundo do túnel? Pois, por ora, não se vê, apenas uma luminosidade espectral que nem sequer augura nada de bom.
Francisco Henriques da Silva