«PRR & Cª Ldª» - 2
As expedições marítimas portuguesas eram sempre atribuídas pelo Rei à responsabilidade de alguém da sua confiança, um Senhor, que se fazia assessorar por cientistas, cronistas e profissionais da marinhagem. O resto da tripulação era composto por soldados, marinheiros e carregadores, gente rude e disciplinada a chicote. Havia também alguns religiosos que encomendavam as almas e, como médicos e enfermeiros, por amor a Deus, tratavam das moléstias físicas de enfermos e moribundos. O método disciplinar do chicote manteve-se pelos séculos aquém enquanto as condições permitiam. A rudeza das tripulações era essencial ao cumprimento das funções e isso era incompatível com finuras da educação. Rudeza, sim; educação, não. A educação seria ministrada apenas a alguns, quase sempre homens da Igreja. Ler e escrever eram «coisas» da maior raridade, incompatíveis com o chicote. Assim era nos mares porque nos campos a rima era entre ruralidade e boçalidade.
Não foi por acaso que chegámos à República com quase 90% de analfabetos.
A calamidade ainda era de 25% em 1974 e em 2021 ainda eram uns vergonhosos 3,08%.
De acordo com a mais recente informação do PNUD, a maioria absoluta da nossa população em idade activa (18< < 70 anos), não completou o ensino obrigatório e só ~20% dos maiores de 25 anos possui alguma formação pós-secundária.
Este, pois, o resultado do longuíssimo período de oito séculos de desprezo pelo mais valioso recurso de qualquer país, o factor humano.
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Comparem-se os níveis de desenvolvimento global de países sem riquezas naturais como a Suíça e o Japão com países ubérrimos como a Guiné Equatorial e o Congo ex-belga.
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CONCLUSÃO PRÉVIA
* A essência do desenvolvimento reside nas pessoas; Planos de Fomento e PRRs são necessários, sim, mas claramente insuficientes.
NOTA INTERCALAR
Se com recursos humanos tão desprezados temos no curriculun nacional um Presidente da Comissão Europeia, um Secretário Geral da ONU e um Presidente do Conselho Europeu, imagine-se o que seria(mos) caso não tivesse havido desprezo humano. Se todos soubéssemos ler e escrever, se a maioria absoluta dos portugueses em idade activa tivesse concluído o ensino obrigatório e se os licenciados fossem, pelo menos, o dobro dos actuais.
CONCLUSÃO INTERMÉDIA
- Há que humanizar os PRRs.