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A bem da Nação

PORTUGUESES QUASE ESQUECIDOS – 3

 

 

Filipe de Brito e Nicote nasceu em Lisboa cerca de 1566 e morreu em 1613 na Birmânia onde chegou a ser Rei com o nome de Nga Zingar.

Filho do francês Jules de Nicot (naturalizado português como Júlio de Nicote) e de Marquesa de Brito ("Marquesa" sendo aqui apenas um nome e não um título de nobreza), Filipe era fidalgo da Casa Real de Filipe II de Portugal. Cavaleiro da Ordem de Cristo, serviu na Índia e, na Birmânia, na conquista dos Reinos do Pegu e da Fortaleza de Sirião que reconstruiu, defendeu e sustentou.

Já na Birmânia pelos anos de 1590, dedicou-se ao comércio do sal na ilha de Sundiva mas passou de seguida ao serviço do rei de Arracão nas lutas pela defesa da capital, Pegu, contra as investidas dos siameses (tailandeses, actualmente).

Desejando o Rei, em 1599, mostrar a sua gratidão aos portugueses Salvador Ribeiro de Sousa e Filipe de Brito e Nicote que o tinham assistido, deu-lhes o porto de Sirião para "receber dobaixo da sua protecção os fugitivos que tivessem vontade de voltar."

Filipe de Brito convenceu o Rei a construir uma Casa de Alfândega para aumentar os seus rendimentos no comércio de Pegu. O seu intento era que, levantada a feitoria, se levantassem os portugueses com ela e, «melhorando-se de Fortaleza», a partir dali conquistassem mais terras. Mas estava tal ideia bem longe da astúcia do Rei e acabada a obra entregou-a a um vassalo seu chamado Banhadala.

Banhadala, suspeitando das intenções de Nicote, fortificou o lugar e não permitiu que nenhum português pudesse entrar. Nicote, "vendo que não o segundava a esperança conforme à sua imaginação, quiz executá-la antes que, crescidas as fortificações, lhe impossibilitasse mais a Empresa”. Assim, com os capitães João de Oliva, Paulo do Rego e Salvador Ribeiro de Sousa bem como com mais cinquenta portugueses, fizeram um ataque súbito ao forte. Vitoriosos, “alcançaram o nome de Fundadores do Domínio Português naquele Reino."

Salvador Ribeiro de Sousa também obteve uma vitória sobre o Rei Massinga na província de Camelão, na qual “o Rei foi morto e grande dano feito ao seu país, tanto por terra como por mar”. Devido a essas vitórias, a reputação dos portugueses foi tão grande junto da gente do Pegu que rapidamente quis ser empregada por eles, até que dentro de um tempo curto puderam receber os serviços de 20 mil naturais. Esses, em consideração ao êxito alcançado por Filipe de Brito e Nicote e o seu bom temperamento (por causa do qual eles o chamaram "Changá", ou "Homem Bom "), proclamaram-no Rei. Como ele estava ainda ausente, Salvador Ribeiro de Sousa aceitou a coroa em seu nome. Mas logo que voltou, Nicote recebeu o reino. Corria o ano de 1600.

 Nicote parece que teve muito sucesso com o Vice-rei da Índia que o casou com sua filha, Luísa de Saldanha, que tinha nascido em Goa de uma mulher javanesa. Também lhe concede os títulos de "Comandante de Siriam” e de “General das Conquistas do Pegu". Nicote voltou então a Siriam com reforços e seis navios. Chegado a Siriam, refez o forte, construiu uma igreja e enviou um presente rico ao Rei de Arracão que tinha enviado uma delegação para o cumprimentar. Emitiu então ordens quanto à Casa da Alfândega conforme as instruções que tinha recebido em Goa directamente do Vice-rei: todos os navios que comerciavam na costa de Pegu devendo fazer as suas entradas lá. Como certos navios da costa de Coromandel recusaram obedecer a essas ordens, Nicote enviou seis navios para forçar a obediência, o que foi realizado com eficiência. Além disso, foram capturados dois barcos de Asseh com rica carga a bordo.

Anaukpetlun, filho do Rei d Alta Birmânia, lançou ua invasão da Baixa Birmânia apoderando-se de Prome em 1607. Em 1610 sitiou a cidade de Taungû que estava então nas mãos de Filipe de Brito e Nicote mas de que só se conseguiu apoderar em Setembro de 1613. Consumada a conquista, fez empalar Brito e escravizar os sobreviventes portugueses e euro-asiáticos (chamados bayingyi) que foram transferidos para duas aldeias perto de Shwebo onde ficaram a formar um corpo hereditário de artilheiros ao serviço dos reis da Birmânia. Ainda hoje, os bayingyi continuam a viver à volta do vale do rio Mu.

Eis como um português foi Rei da Birmânia entre c. 1600 e 1613 e ainda hoje por lá existem «portugueses abandonados» que bem poderíamos tentar contactar.

 

Março de 2014

 

 

Henrique Salles da Fonseca

 

PARA SABER MAIS SOBRE ESTES «PORTUGUESES ABANDONADOS», VER P. EX. EM: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.484300948269156.117333.438099366222648&type=1#!/pages/Thai-Portuguese-Descent-Community/438099366222648

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

 

  • A Birmânia mudou de nome?”, Luís Filipe F. R. Thomaz, BROTÉRIA, Fevereiro de 2014, pág. 121 e seg.
  •  Wikipédia

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