POR TORDESILHAS ALÉM… - 12
Vão-se os anéis mas fiquem os dedos. Prescindimos das excursões e de mais uns dias de hotel mas conseguimos antecipar o regresso: de início, previsto para 22 de Março, antecipado pela própria companhia aérea para 21 e, finalmente, antecipado pela nossa agência de viagens em Lisboa para 18.
Mas como nestes tempos que correm, o que é verdade agora pode não o ser amanhã, só acreditávamos que viríamos no dia 18 depois de sentirmos os motores do avião a trabalhar. Significaria isso que tinha sido dada autorização para aterrarmos no destino, Madrid. Portanto, na dúvida, fui informando a nossa Embaixada no México de que, eventualmente, poderíamos vir a necessitar de ajuda oficial para o repatriamento. Tudo correu como desejávamos e não foi necessário incomodar a Embaixada.
Vôo sem história aeronáutica – apenas uns ligeiros tremeliques horizontais – mas em que apenas foi servido o jantar; quem quisesse pequeno almoço, que o pagasse.
Pesado, o ambiente a bordo: silêncio de quem não sabia o que iria encontrar no destino; parecia um vôo de resgate de refugiados, a evacuação de sobreviventes de um cataclismo. Nós os quatro sabíamos que tínhamos um carro à nossa espera numa determinada empresa de aluguer de automóveis em Barajas. Mais: carro com matrícula portuguesa para facilitar a passagem da fronteira no Caia, com capacidade para quatro adultos que gostam de comodidade e bagageira capaz de conter oito malas. Aluguer sem condutor, eu sem visão para poder guiar, o Pepe, mal dormido no avião, teve que alinhar com mais seis horas ao volante. Heróico!
Autoestrada contínua de Barajas a Lisboa, diziam-nos que haveria controlos policiais cada 10 kms e que no Caia a fronteira fechava às 8 da noite para só reabrir às 6 da manhã com fila interminável. Tudo mentira, tenho por terroristas as pessoas que lançam essas atoardas. Pouco trânsito de pesados e menos ainda de ligeiros, não houve um único controlo policial, no Caia não havia qualquer fila, exibimos os passaportes através dos vidros fechados e, sem delongas e com uma certa cordialidade, fomos mandados entrar no nosso país. Viemos a saber que a fronteira está aberta 24 horas por dia. Eram quase 7 da tarde do dia 19 de Março quando metemos a chave à porta de casa.
Para desgosto dos dependentes das negatofinas (as endorfinas negativas) que, sob a capa da amizade e da protecção, fazem a vida dos mais sensíveis num inferno, chegámos sem dramas nem outro constrangimento que não o cansaço físico, não psíquico.
Como dizem os franceses, «tout va bien quando fini bien».
FIM
Março de 2020
Henrialles da Fonseca