POR QUE SE ESCREVE
Três costumam ser os fins por que se escreve: ou por virtude, ou por vaidade ou por interesse.
Os que escrevem por virtude não podem ter mais nobre fim pois é o de mostrar aos pecadores a torpeza dos vícios que erradamente seguem e dar-lhes os documentos necessários para a eternidade.
Os que escrevem por vaidade são aqueles que podem justamente conciliar a atenção dos Leitores com a delicadeza dos pensamentos que, quando eu era moço e se falava outra língua, ouvia chamar conceitos com a propriedade das vozes e com a constância harmónica dos períodos.
Os que finalmente escrevem por interesse, são os que sem eleição de assunto nobre tratam somente de agradar ao povo, a que só parece bem o que se conforma com a grosseria dos seus juízos.
Sou da terceira classe mas com certa distinção porque o interesse que me persuade a escrever não é o do lucro, é o interesse da glória da Pátria tirando do esquecimento, a que tudo está sujeito por fatal decreto da natureza, as memórias daqueles homens que por todas as razões a mereceram.
Dom José Barbosa
In «Elogio Fúnebre (MDCCXXXVIII)», Biblioteca Nacional
SOBRE O AUTOR: Dom José Barbosa nasceu em Turquel, Concelho de Alcobaça, em 1674 e faleceu em Lisboa em 1750. Padre, foi co-fundador da Academia Real da História Portuguesa, sócio da Academia Ericeirense, Cronista da Casa de Bragança, Examinador do Patriarcado e das três Ordens Militares. Por testamento, deixou a sua biblioteca à Ordem de S. Caetano que, com a extinção das Ordens, foi integrada na Biblioteca Nacional.
Alcobaça, 29 de Setembro de 2013
Domingos José Soares Rebelo

