PERU – 7
E MAIS QUÊ?
Fechei a crónica anterior com esta pergunta «E mais quê?» para logo de seguida me auto-responder «Já lá vamos…». Eis-nos, então, no sítio em que a resposta implicaria estarmos: aqui, na crónica seguinte e, mais especificamente, no Peru integrando um grupo de turistas tão portugueses como eu, muito afáveis e que criaram um ambiente magnífico, a não esquecer. Gente com que é fácil criar amizades.
Saímos de Lisboa de avião com destino a Madrid e vá de acelerar o passo em Barajas para apanharmos o avião com destino a Lima. Vôo sem história, chegámos ao destino na manhãzinha seguinte para uma visita ao centro histórico da cidade. Só rumaríamos ao hotel pelo meio da tarde.
Depois de saber que a História do Peru tem sido uma panóplia de violência e descaminhos (a começar pelos sacrifícios humanos aos Deuses quéchuas até à ladroagem de Fujimori e Toledo, passando pelo terrorismo do «Sendero Luminoso» e do «Túpac Amaru» e sem esquecer os terramotos, os tsunamis, as secas extremas e o «El Niño»), não me admirei com a primeira impressão que nos foi servida, algo depressiva, da periferia da cidade entre o aeroporto e a zona mais central na qual havíamos de nos alojar.
O que mais me impressionou foi o ar de desmazelo dos prédios pois a maior parte deles não está rebocada dando a impressão de cópia das favelas brasileiras. E porquê? Porque se o edifício não estiver concluído, a taxa municipal é muito mais baixa do que se o reboco alindar o imóvel. E como não deve haver «licenças de utilização», tudo está habitado e a funcionar numa base precária. Mais: é corrente ver os prédios inacabados em altura pois à medida que os proprietários vão tendo disponibilidades financeiras, aumentam mais um piso e não se preocupam com o alindamento dos pisos de baixo. Sim, um verdadeiro espectáculo terceiro-mundista.
Mas à medida que nos aproximamos do centro, tudo melhora pois as municipalidades sucessivas por que se passa têm legislações diferentes e nas zonas nobres não há desleixo. Pelo contrário, há esmero.
O ajardinamento sistemático dos separadores centrais nas avenidas, nos jardins públicos, nos jardins privados das moradias, quase nos fazem esquecer de que estamos num deserto que a Mãe Natureza ali plantou, o que continua o de Atacama, mais a sul… Pensei mesmo em escrever um livro cujo título fosse «O jardineiro de Atacama». Mas acho que tenho mais que fazer.
Foi neste primeiro dia que visitámos o centro histórico e reconheço magnificência ao palácio presidencial e a diversos edifícios que por ali estão. A Catedral, afinal, é quase toda de madeira coberta de estuque como consequência dos abalos telúricos que a destruíram diversas vezes e que acabaram por convencer os responsáveis de que mais vale edificar algo que abane mas que se aguente do que algo que resista, parta e se desmorone.
Visitámos também uma casa senhorial duma família muito conhecida lá no burgo mas cujo nome me escapou por completo. Vivem lá mas têm uma parte que nós, os forasteiros, podemos visitar. E de vez em quando vê-se uma ou outra pessoa a passar por ali com ar de quem está em casa. E está mesmo! Senti-me como um penetra numa festa para que não tivesse sido convidado. Pelos vistos, as despesas de manutenção do palacete são ajudadas pelos bilhetes que as agências de viagens pagam pelas nossas visitas (e que nos são debitados no preço total da viagem, claro está). Relativamente àquela família, dizem-me que a base da fortuna é a exploração mineira de… não sei quê.
A propósito, a economia peruana tem uma fortíssima componente mineira mas não vos maço agora com esse tema tão pouco turístico. O Google informa quem se interesse por isso.
E amanhã há mais… Até amanhã, durmam bem!
Outubro de 2017
Henrique Salles da Fonseca