PERU – 5
MITOLOGIA E TEOLOGIA
«Mitologia» vem de mito que é algo que não existe, que é ficcional; «Teologia» tem a ver com «teo», Deus.
Só a nossa religião é teológica; todas as demais são mitológicas.
Inti é o nome quéchua do Sol, tido pela divindade mais significativa da mitologia quéchua, a do Inca.
Culturas anteriores à quéchua tinham Viracocha como sendo a suprema divindade. A definição completa do seu poder absoluto passava pela enumeração da sua superioridade sobre a água, a terra e o fogo mas evoluiu para um conceito mais complexo que acabou por se tornar no Deus único e criador universal, Inti.
Até aqui, parecia que estávamos a falar do nosso Deus mas este novo e muito poderoso Deus do Sol não estava sozinho, estava casado com a sua irmã, a Lua, com quem compartilhava uma posição igual no tribunal celestial. A Lua era conhecida por Mama Quilla.
Inti era representado por uma elipse ou disco de ouro; Mama Quilla, por uma figura de prata.
Como criador do Universo, Inti era adorado e reverenciado, mas também concedia (ou não) favores e ajudava (ou não) a resolver problemas e a aliviar as necessidades; só ele podia dar boas colheitas, curar doenças e providenciar a segurança exigida pelo homem. E no meio de Natureza tão agreste com desertos tão áridos, com chuvas diluvianas, com tremores de terra e tsunamis tão devastadores, bem se compreende como esta (e qualquer outra) divindade era importante para acalmação das gentes da sua fé.
A Mama Quilla competia a gestão do fervor religioso das mulheres, nomeadamente das Mama Conas, que formavam o núcleo de fiéis seguidoras que eram as sacerdotisas encarregadas pela Deusa de guardarem e instruírem as vestais que residiam no templo anexo aos aposentos do Inca e cujas funções eram não só de índole puramente religiosa mas também a de garantirem a descendência do próprio rei. Em resumo muito erudito, «orare et coierit».
Com a chegada dos espanhóis em 1532, chefiados por Francisco Pizarro, tudo isto foi desbaratado, templos arrasados e gentes insubmissas passadas a fio de espada.
O objectivo era o de destruir a mitologia e impor a teologia. Sim, sim… e o de obter o ouro e outras preciosidades que os quéchuas possuíam.
E quem era esse tal Francisco? Já lá vamos…
Outubro de 2017
Henrique Salles da Fonseca