PERU – 12
CUSCO
No final da crónica anterior aprazei para agora um relato sobre a nossa visita a Cusco mas, pensando um pouco mais, acho que os meus leitores ficam muito mais esclarecidos se forem à Internet e procurarem informação sobre essa cidade. Para já, sugiro que vejam em https://pt.wikipedia.org/wiki/Cusco e logo de início vão ver que o nome da cidade, em língua quéchua, significa «o umbigo do mundo». Confesso que já li descrições mais agradáveis como por exemplo, a «cidade das luzes» relativamente a Paris, uma outra qualquer a que chamam «a pérola do Adriático», etc. Mas umbigo… ná!
Sim, tem história que basta para encher um livro ou dois mas estejam tranquilos que não vos maço com isso. Maço-vos com outras coisas. Por exemplo…
… por exemplo com algo que consciencializei em Cusco mas de que ninguém me falou: a dicotomia étnica da sociedade peruana. Sim, há nitidamente dois Perus, o nativo - tanto genuíno como misto – e o de «pura raza española». O nacionalismo peruano é quéchua (e das demais etnias indígenas que erradamente misturo por completo numa só), seja ele puro ou misto; os «espanhóis» estão lá para ganhar dinheiro sem beliscarem a pele. Digo eu, mas sinto que estou a generalizar demais. O leitor dará um desconto a seu bel critério.
E porquê em Cusco? Porque esta é a capital do Império do Inca, não Machu Picchu que era apenas um local de contemplação religiosa (eis o grande templo ao Deus Sol) e de fuga das maldades profanas. A propósito, também de refúgio contra os espanhóis. E foi precisamente em Cusco que os invasores concentraram a sanha da sua maldade enquanto se limitaram a passar em frente pelo sopé da famosa montanha.
E o nacionalismo peruano é em Cusco que se concentra enquanto em Lima são os «de pura raza española» que se pavoneiam.
Bastaria a militância «cusqueña» dos nossos guias turísticos para dissipar quaisquer dúvidas. Mas é um nacionalismo positivo a favor da cultura nativa, não contra quem quer que seja. E isso só lhes fica bem, acho eu.
Como já referi em crónica anterior, foi-nos apresentada com algum detalhe a mitologia inca - que tiveram o cuidado de não identificar como teologia. E a pergunta que se impunha era a de saber se continua a haver fiéis dessa religião. A resposta foi dúbia, falaram de sincretismo entre a religião tradicional e o cristianismo, disseram que sim e mais que também… e eu fiquei na mesma, sem saber nada de concreto. Quero, contudo, acreditar que os antigos rituais de sacrifícios animais já não se realizem e muito menos os humanos. Haverá hoje um ensino daquela religião numa base meramente cultural, sem fé.
E o que fazem por lá os «espanhóis»? Fazem política e ganham dinheiro.
Finalmente, como na música, esta viagem concluiu-se com um «da fine al capo» ou, mais prosaicamente, como a pescadinha de rabo na boca: voltámos a Lima, almoçámos num restaurante no Bairro San Borja e isso permitiu-nos melhorar substancialmente a ideia inicial sobre Lima que, afinal, também é uma bela cidade.
No dia seguinte, 6ª feira, 13 de Outubro, voámos de regresso à Europa sem solavancos nem outros azares.
Outubro de 2017
Henrique Salles da Fonseca