PENSANDO…
Numa época em que os juros estão a subir nos mercados financeiros internacionais, lembro-me do tal «figurão» que dizia que as dívidas não são para pagar.
E apesar do título do presente escrito inspirar racionalidade, começo com um dogma que, por definição, dispensa racionalidade:
Uma pessoa de bem, paga o que deve
Este dogma aplica-se tanto na dimensão micro como na macro, ou seja, às pessoas e aos Estados. Porque, ao contrário do que disse esse tal «figurão», as dívidas são mesmo para pagar.
Então, deixando a questão da dívida micro ao cuidado dos contabilistas, a nível macro a dívida global tem duas componentes: a pública e a privada, ambas com as vertentes interna e externa.
A dívida pública é a que vem sendo mais referida pela comunicação social mas a privada também tem que se lhe diga – e muito.
A dívida pública, constituída para financiar os défices públicos, só pode ser reduzida na medida dos superávites públicos; a dívida privada externa– a que mais me preocupa - só pode ser reduzida na medida dos saldos positivos da balança de transacções correntes.
Enquanto não tivermos saldos positivos nas contas públicas, não reduziremos o stock da dívida pública; se não tivermos saldos positivos na balança de transacções correntes, o sistema bancário nacional continuará a endividar-se sobre o exterior persistindo na via da falência ou, no mínimo, da absorção pela banca estrangeira.
Temo que o Orçamento de Estado para 2019 nada tenha muito a ver com este tipo de preocupações. É claro que se trata de um Orçamento folclórico para entreter a esquerda caviar e a ferrugenta na certeza, porém, de que as «centenárias» cativações o vão pôr nos conformes com as necessidades da redução do stock da dívida pública. Sim? A ver vamos por causa das eleições…
E quanto à dívida externa privada? Ah! Aí pia muito mais fininho e o problema só se resolve com mais falências bancárias. Qual será o próximo?
19 de Outubro de 2018
Henrique Salles da Fonseca
(Setembro de 2018, algures na Indonésia)