PENSANDO…
Dúvidas? Sou um poço profundo de dúvidas e nem todas são construtivas. Mas, não é que não admita as construtivas; as construtivas têm, intrinsecamente, conselhos e os conselhos são, normalmente, desdenhados por pessoas que estão convencidas que já sabem tudo, principalmente, já a sabem toda. Então não há um sindicato que introduziu uma greve na ordem política portuguesa, usando o direito constitucional que lhe é conferido pelo legislador constituinte de 74, como direito inalienável dos trabalhadores desvirtuando o objectivo das greves que é a defesa dos direitos dos trabalhadores face ao comportamento antissocial e ditatorial dos patrões.
Este sindicato introduziu uma novidade no corporativismo sindical que é usar as suas prerrogativas constitucionais para abocanhar um negócio para os seus associados que é ficar com 20%, à borla, de uma empresa que, por enquanto, continua a ser de todos nós. Mas, ainda mais, o tal sindicato, sendo de trabalhadores de elite, comporta-se em defesa de umas dúzias de suseranos e ignora os direitos dos outros trabalhadores da empresa, os servos da gleba. Um sindicato que pretende praticar capitalismo selvagem. Isto é uma novidade, para quem há quarenta saiu de um capitalismo monopolista de Estado, por força de um movimento militar que fez valer a regra de todos determos os mesmos direitos e deveres e os privilégios serem devidamente controlados. “…para certezas que nunca deixe de ver como provisórias, excepto uma, a de que é capaz de compreender tudo o que for compreensível; ao resto porá de lado até que o seja, até que possa pôr nos pratos da sua balancinha de razão. A tudo pese. Pense.”[1] E eu, seguido o conselho do autor, que idêntico no final do texto, estou a pensar, usando a balancinha da razão, e pesando tudo. Mas, já pesei quase tudo usando a razão. Um sindicato destrói uma empresa que ainda é nossa para que os seus sócios sejam considerados parte de um negócio sem pagar nada e com uma montanha de exigências capitalistas, antissociais e antidemocráticas. E, depois, vangloria-se de ter provocado um prejuízo de milhões. O desbocado, para não lhe chamar outra coisa, que fez esta afirmação vangloria-se de uma vitória pírrica. Se a estupidez pagasse imposto já devia ter sido posto sob a vigilância do fisco.
Mas, parafraseando o autor citado acima, sou incapaz de compreender o incompreensível, (Serei burro!) e por isso não ponho de lado esta incompreensão e por isso penso:
Que os novos legisladores acrescentem na Constituição, numa futura alteração, que as greves que forem iniciadas por sindicatos para defesa de direitos individuais de classes privilegiadas em prejuízo de interesses colectivos, na mesma empresa, serão consideradas ilegítimas e responsáveis pelos prejuízos.
Se o Governo tiver Homens de antanho, por exemplo, com a força dos de 1640, devia pôr-lhes uma acção cível de indemnização pelos prejuízos provocados a todos nós.
Mas, atenção que fique claro que não concordo que se proceda a privatizações de jóias da coroa nacionais, no entanto, se o Primeiro-ministro do PS não tivesse deixado o país no estado caótico em que o deixou; o Primeiro-ministro da coligação do PSD/CDS, não teria sido obrigado a vender quase tudo e proceder a uma política de austeridade, enfim, mais trotskista, perdão troikista, que a própria troika.
Ad impossibilia nemo tenetur[2].
Pensei, pesei e disse!
[1] Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'
[2] Ninguém é obrigado a fazer o impossível.