“PELLÉAS ET MÉLISANDE”
Enquanto se deixa encantar por Pelléas, Mélisande perde a aliança num ribeiro e quando chega ao castelo saúda Golaud, o marido, prostrado no leito após queda de cavalo. Notando a falta da aliança, Golaud ordena que Mélisande a vá procurar e só regresse quando encontrar o símbolo do seu casamento.
Ignorando a causa do desvario de Mélisande, Golaud pede a Pelléas que a acompanhe na busca. E lá foram os dois cumprir a ordem do Senhor do castelo… até que, enleados, se esquecem do regato onde a aliança caíra e entram pelo bosque onde rapidamente se perdem. Chega a noite e decidem entrar numa gruta para se resguardarem do frio e das feras. E eis que na escuridão se abre uma réstia de luz das brasas restantes de fogueira quase extinta. Descortinam então os vultos de três mendigos andrajosos…
… e a história poderia continuar assim: luxúria, alegria, assassinato, tristeza...
Trata-se de amores irresistíveis mas proibidos e quem quiser saber algo sobre o tema que não tenha sido tratado numa infinidade de outras peças teatrais, esqueça essa busca de novidade e contente-se com o trivial. Se quiser nacionalizar o tema, procure algo sobre os amores de Pedro e Inês, na certeza, porém, de que nunca as variações sobre o mote terão fim ad aeternum et per saecula saeculorum.
A novidade não está, pois, na peça de Maeterlinck mas tudo dá uma volta se o libreto passar a um plano mais esbatido e Claude Debussy assumir a partitura que, desta feita, se encontra sob a regência de Pierre Boulez. Quem tiver um tempinho (pouco mais de duas horas), assista em
https://www.youtube.com/watch?v=SZQ2Kjvu0i4
Então sim, encontra novidades no que até então era a música erudita. Basta dizer que Debussy tinha o seu homónimo Monet como expoente máximo da cultura francesa contemporânea para ouvirmos a sua música com outros olhos. Perdão, ouvidos.
Não vou ao ponto de afirmar que Debussy fez a “monetização”[1] da música mas quase...
Melodias inesperadas para ouvidos mais conservadores, historicamente inovador, o grande expoente do impressionismo musical. Levei anos e anos para aprender a gostar.
Fevereiro de 2016
Henrique Salles da Fonseca
[1] -Trocadilho com que pretendo fazer algum humor.