PELA MORTE
Pela morte, a família não se destrói, ela transforma-se, uma parte dela passa a invisível. Cremos que a morte é uma ausência, quando ela é uma presença discreta. Cremos que ela cria uma distância infinita, quando ela suprime todas as distâncias, trazendo ao espírito o que se localizava na cadeira.
Que laços ela renova, que barreiras ela quebra, que muros derruba, que nevoeiro dissipa, se nós verdadeiramente o quisermos.
Viver, é muitas vezes, abandonar; morrer é juntar. Não é um paradoxo afirmá-lo. Para os que foram até ao fundo do amor: a morte é uma consagração, não um castigo…
No fundo, ninguém morre, porque não sai de Deus.
Aquele que parece ter-se parado bruscamente na estrada, escrivão da sua vida, apenas virou uma página.
Quando mais seres abandonaram o lar, tanto mais os sobreviventes têm laços celestes.
O Céu não é mais apenas povoado de anjos, de santos conhecidos e desconhecidos e do Deus misterioso. Torna-se familiar, é a casa de família, o andar superior da casa, se assim o posso dizer, de alto a baixo, a recordação, os apoios, os apelos têm resposta. Assim seja.
Père Antonin Sertillanges
Dominicano francês
(1863-1948)