OS TÁVORAS
Uma história de sexo, sangue e luta pelo Poder que horrorizou Portugal e o mundo
Foi em 3 de Setembro de 1758, por volta das onze da noite, que…
… quando o Rei voltava ao paço da Ajuda vindo de um encontro amoroso clandestino, surgiram três cavaleiros no lugar onde está hoje a Igreja da Memória. Soaram tiros. D. José foi atingido no braço e na anca direita mas salvou-se. E encarregou o ministro Sebastião José de Carvalho e Melo de descobrir e castigar de forma exemplar quem tentara matá-lo.
Todos na Côrte sabiam que o Rei, então com 44 anos, era amante de Teresa de Távora e Lorena, 35 anos, mulher do 4° Marquês de Távora, Luís Bernardo, da mesma idade e de quem também era tia.
Os casamentos entre familiares próximos eram comuns na nobreza, bastando para isso obter dispensa papal.
Teresa era conhecida como a "Marquesa nova" para se distinguir da sogra, D. Leonor, então com 58 anos, a "Marquesa velha".
O patriarca dos Távoras era o 3º Marquês, D. Francisco de Assis, 55 anos, ex-Vice-rei da Índia. Quando soube da relação adúltera do soberano com a sua irmã e nora, ficou magoado. Mas seria isso suficiente para tramar um regicídio?
Aos motivos dos Távoras juntavam-se os do Duque de Aveiro, D. José de Mascarenhas, 50 anos, também ligado à família pelo casamento com outra irmã de D. Francisco de Assis.
O Duque odiava o Rei e o ministro Sebastião José por o terem prejudicado numa questão de heranças e por impedirem o casamento de um filho seu com a filha do Duque de Cadaval.
A investigação do atentado manteve-se secreta até que, numa madrugada de Dezembro, houve dezenas de prisões.
O interrogatório dos réus, submetidos a tortura (como era costume na época), esteve na base da sentença, dada a 12 de Janeiro de 1759. Os acusados foram condenados por "crime de lesa-majestade, alta traição, rebelião e parricídio". Parricídio? Sim, porque o Rei era considerado «o pai da Nação».
No dia seguinte, foram executados onde hoje está um pelourinho, a dois passos da casa dos pastéis de Belém. O massacre, encenado ao pormenor por Pombal, prolongou-se por todo o dia. A sentença foi impressa em folhetos ilustrados com os tormentos para que todos vissem e ficassem gelados de horror.
Subiu primeiro ao cadafalso a Marquesa D. Leonor. Mostraram-lhe os instrumentos do suplicio e descreveram-lhe pormenorizadamente o martírio que em breve iriam sofrer o marido, os filhos e o genro. Depois foi decapitada.
Um por um, seguiram-se: o Távora mais jovem, José Maria, de 22 anos; o Marquês novo, Luís Bernardo; o Conde de Atouguia, Jerónimo de Ataíde, cunhado dos anteriores; os plebeus Manuel Álvares, João Miguel e Brás Romeiro. Os três carrascos partiram-lhes os braços e as pernas, torturaram-nos na roda e estrangularam-nos.
O Marquês velho mal conseguiu arrastar-se até ao patíbulo, tal o efeito das torturas a que fora sujeito. Também ele teve os braços e as pernas partidos à mocada antes de ser passado pela roda e estrangulado. O mesmo destino foi reservado ao Duque de Aveiro.
O último supliciado foi o criado António Álvares Ferreira, queimado vivo por ter sido ele a disparar os tiros que atingiram o Rei. O único condenado que conseguiu fugir, José Policarpo de Azevedo, foi queimado em estátua. Os corpos de todos foram queimados e as cinzas lançadas ao Tejo. No local das execuções foi espalhado sal para que nada ali voltasse a crescer. O local ainda hoje se chama «Beco do chão salgado». O nome Távora foi banido.
Outros membros da família foram presos no forte da Junqueira e as mulheres fechadas em conventos, incluindo a amante do Rei, Teresa, encerrada nas trinitárias do Rato. Depois de subir ao trono, D. Maria I mandou reabrir o processo. Os juízes concluíram que os Távoras estavam inocentes mas a culpa do Duque de Aveiro foi mantida.
(adaptação de texto recebido por e-mail)