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A bem da Nação

OS SETE SOBREVIVENTES

 

Tubos de órgão.jpg

 

Órgãos de tubos em Goa



O seu som dominou outrora as grandes igrejas e a catedral de Goa.

 

Hoje, sete órgãos de tubos apenas sobrevivem nesta antiga colónia portuguesa. No entanto, a sua grandeza não é esquecida e várias são as tentativas em curso para restaurar os seus teclados e pedaleiras.

 

Os órgãos de tubos produzem som canalizando ar pressurizado através dos tubos seleccionados pelo teclado manual. Os mais pequenos podem ter apenas uma oiu duas dúzias de tubos e apenas um teclado; os maiores podem ter mais de 20 000 tubos e sete teclados. O teclado é tocado com as mãos e a pedaleira com os pés cada qual com os respectivos registos. Os órgãos têm origem hidráulica no 3º século a. C. na Grécia onde a água corrente era utilizada para provocar o vento necessário..

“Há sete dúzias de órgãos de tubos nas várias igrejas em Goa”, afirma Joaquim Loiola Pereira, Padre secretário do Arcebispo de Goa e que é conhecido pelas suas próprias capacidades musicais, particularmente na guitarra. “O de Rachol (Seminário situado no Sul do Goa, a cerca de 8 kms de Margão) é o único em condições de funcionamento”, disse-nos ele.

 

Natural de Sydney, o investigador David Rumsey produziu um papel de índole académica sobre Os Órgãos de Goa, Índia, em 1994 e referiu que os edifícios em que os órgãos estão instalados têm “excelentes condições acústicas para a música”. Lisboa governou Goa durante a sua idade de ouro da construção organeira portuguesa.


Cinco dos sete órgãos actualmente existentes são oriundos do organeiro Gebrüder Link de Wurtemburg, Alemanha. Os outros dois têm origem numa empresa organeira anglo-indiana de Calcutá, os Hurry Brothers. Todos eles datam da mesma época estilística tendo os Link provavelmente sido fabricados entre 1888 e 1907, de acordo com a opinião de Rumsey.


Mas manter os órgãos em funcionamento é hoje um desafio maior. “São necessárias afinações periódicas. Também são necessários vazamentos”, diz o Padre Romeu Monteiro, grande responsável pela manutenção do órgão de Rachol em funcionamento. O instrumento de Rachol usa um sistema “muito entediante” quando comparado com os electro-magnéticos. “O nosso usa uma grande roda manual”, diz o nosso entrevistado.

Certos tubos vazam sem sequer se tocar um botão. “Nós tocamos todos os Domingos. Os seminaristas (rapazes, futuros Padres), fazem-no eles próprios”, informa. “É bastante agradável tocar órgão”.

 

Os organeiros vêm todos de Inglaterra e cobram meio milhão de rupias por viagem. “O que chamámos prometeu vir em Outubro passado mas ainda não chegou. Esperamo-lo lá para o fim do ano”, disse o Padre Monteiro.

“Temos que treinar alguém de cá para fazer as reparações”, diz Monteiro. Refere Fernando Fernandes, o afinador de pianos em Goa, que consegue fazer algumas reparações. “Apelei a muitas instituições de caridade através da Net”, diz Monteiro.

 

Loiola, o Padre conhecido pela sua encantadora guitarra, vê três razões principais para os órgãos de tubos caírem em desuso. A quase total inexistência de organeiros em Goa ou em qualquer sítio próximo, o aparecimento de teclados electrónicos que imitam o som de um órgão de tubos, a música da Igreja tanto em inglês como em concani “já não é ao estilo clássico ocidental que exige o acompanhamento de um verdadeiro órgão de tubos”.

”Um dos órgãos em Velha Goa é tido como comparável ao da Catedral de S. Paulo em Londres. Mas não tem manutenção, embora gente como o (falecido maestro e Padre-músico) Lourdinho Barreto tenham mostrado grande interesse por esse instrumento”, diz o Prof. Antonio Peregrino da Costa, antigo professor de Linguística e Educação Musical na Universidade de Maringá, Paraná, Brasil, actualmente de volta a Pangim. Costa é também o Representante Honorário Local da Royal School of Music de Londres.

Sedeado no Reino Unido, diz o emigrado goês Gabe Menezes: “Os órgãos de tubos são de cara reparação. Reparámos recentemente o órgão da nossa igreja e o custo alcançou umas gritantes £500,000. Tivemos o financiamento de uma Herança no montante de £250,000 e o resto foi financiado pelos paroquianos”. A página Web da Arquidiocese refere que os “seminaristas são instruídos ... neste raro e impressionante instrumento”.

 

“O Inventário Arqueológico da Índia não considera prioritária a manutenção de um tão raro e único órgão (em Velha Goa), seguramente um dos mais antigos fora da Europa. A corrosão dos elementos metálicos e o caruncho podem empurrar o órgão para uma situação que ultrapasse qualquer hipótese de reparação”, argumenta João Paulo Costa, um dos promotores da Sociedade Musical Goesa baseada no Reino Unido.

Gabriel de Figueiredo, um emigrante goês na Austrália cujo pai desempenho um papel fundamental na promoção da educação musical na anterior geração goesa, afirma: “Talvez que a necessidade de uma pessoa para dar ao fole, o que é um trabalho pesado, mais a falta de um organista apropriado, provocaram o desuso dos órgãos de tubos de Loutolim e de outras localidades. De qualquer modo, a existência de teclados electrónicos há uma década significa que os órgãos de tubos estejam invadidos por traças e assim ficarão até que alguém surja a substituir os foles manuais por um equivalente sistema eléctrico silencioso”.

O órgão de tubos do Seminário Maior de Rachol (fundado em 1762) onde são educados os Padres Católicos em Goa, é virtualmente o único totalmente restaurado. Outro, na Sé Catedral de Velha Goa, a antiga capital colonial a cerca de 6 kms de Pangim, estava a trabalhar “antes de eu ir a Roma em 2000 pois eu tocava nele habitualmente”, diz Monteiro. No regresso, encontrou o órgão atolado de lixo e sem pedaleira.

O da Basílica do Bom Jesus, também em Velha Goa, é maior e melhor mas de um estilo diferente. Necessita de muitas reparações e o orçamento é de Rupias 20 milhões, o que “não é exequível” afirma Monteiro. Padres como Eufemiano Miranda, Bernardo Cota e Maurelio Cotta ganharam reputação pelas suas preocupações musicais, incluindo os órgãos de tubos.

Loiola, um Padre na casa dos 50 anos de idade, afirma: "Eu tive o privilégio de ter escutado os seguintes órgãos: o da Catedral, o da Basílica, o de Margão e o de Curtorim; e eu próprio toquei no do Seminário de Rachol. O que tinha o melhor som era, na minha opinião, o da Catedral”.

Loutulim, uma vila próxima de Margão e Curtorim, também consideradas centros culturais e musicais, têm os seus próprios órgãos de tubos, o primeiro relativamente pequeno.  O da Igreja do Espírito Santo em Margão está “em mau estado”. “O de Curtorim é um belo órgão e parece em bom estado. Quero pôr-lhe as mãos em cima (para tocar)”, diz Monteiro.

 

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Frederick Noronha
(goês, escritor e editor)

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