OS PREÇOS DA MODA
DOS PREÇOS DA MODA
Os preços têm quatro modos principais de formação:
- Por Decreto à moda autocrática;
- Pela especulação, «à la Diable»;
- Pelo confronto anónimo da oferta e da procura, à moda dos mercados transparentes;
- Pela distorção da transparência (monopólios, oligopólios, monopsónios, oligopsónios).
Nesta síntese, não estou a considerar alterações no valor da moeda, tanto discretas como deslizantes.
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O actual processo de subida generalizada dos preços (pactuemos com os jornalistas chamando-lhe inflacionista) resulta da redução dos fornecimentos russos de petróleo e gás natural e de cereais ucranianos. Todos sabemos das causas desta redução da oferta, escuso-me de repetir o que é do domínio público.
Estas novas condições dos mercados geram a busca de fornecedores alternativos e, com preços mais elevados, viabilizam jazidas até agora inexploradas e permitem o cultivo de terras até agora consideradas marginais. David Ricardo a saltar dos compêndios para a vida real. Só que a rigidez da oferta não acompanha as necessidades da procura e as consequências aí estão. Os preços continuarão a subir até que se restabeleça o equilíbrio num patamar de preços ainda desconhecido.
Admito que nós, em Portugal, possamos agora aumentar a produção de cereais mesmo que continuemos a não mexer uma palha no sentido da introdução da racionalidade na formação dos preços praticados no mercado doméstico.
E esta é a grande oportunidade para levarmos por diante a formação de preços sobre futuros e seus derivados ultrapassando com coragem as actuais condições de oligopsónio se não mesmo de monopsónio há muito vigentes.
Só que Ministro não entende esta conversa e pretende continuar a «gerir» a máquina de distribuição de subsídios mesmo que essa prática mais não seja do que um beco sem saída em que apenas se tenta assegurar a sobrevivência, mas não o progresso.
Nos nossos (portugueses) mercados alimentares, o risco está maioritariamente concentrado na oferta com a procura sempre a ameaçar que se o produtor nacional não aceitar o seu preço, há a oferta estrangeira sempre ávida de cá entrar. Ou seja, a oferta nacional tem custos nacionais e receitas ao nível do permitido pela concorrência externa. Urge criar condições que permitam a distribuição equitativa do risco por todos os intervenientes nos mercados – os da oferta e os da procura. E isto consegue-se com as Bolsas de Mercadorias, inexistentes entre nós, mas antigas de séculos nos mercados transparentes europeus e americanos.
Soluções necessárias:
- Instalação de Bolsa de Mercadorias, nomeadamente para cereais e carnes, com operações sob futuros e seus derivados – distribuição equitativa do risco e introdução da lógica na formação dos preços;
- Constituição de organismos reguladores dos preços que intervenham (comprando) e garantam preços mínimos evitando o aviltamento de mercado, combatendo picos de alta e comprando evitando picos negativos.
E assim se garantiria a transparência dos mercados com livre formação dos preços e defesa contra as grandes oscilações quer resultantes de sazonalidades quer de especulações domésticas.
O problema está em que se trataria de mexer no actual pentopsónio e, vai daí… venha a China e outros que tais.
CONCLUSÃO: Em Portugal, é urgente e oportuno mudar a «moda dos preços», ou seja, o método da sua formação.
Nota final – Sobre o funcionamento das Bolsas de Mercadorias há muita informação na Internet pelo que me escuso de a repetir aqui.
30 de Junho de 2022