OS INTELECTUAIS E A ESQUERDA
ou
OS INTELECTUAIS E A MENTIRA
Reformistas ou reformadores opõem-se aos revolucionários, aos que querem não melhorar o capitalismo mas sim suprimi-lo. O revolucionário esforça-se, destruindo o seu meio, para se reconciliar consigo próprio, visto que o homem só está de acordo consigo se estiver de acordo com as relações sociais de que é, quer queira quer não, prisioneiro… O revolucionário não tem outro programa a não ser o demagógico. Digamos que há uma “ideologia”, ou seja, a representação de outro sistema, transcendente ao presente e talvez irrealizável. Mas só o sucesso da revolução permite discernir entre a antecipação e a utopia. Por conseguinte, se ficássemos nas ideologias, juntar-nos-íamos espontaneamente aos revolucionários que normalmente prometem mais do que os outros. É forçoso que os recursos da imaginação levem a melhor à realidade, mesmo desfigurada ou transfigurada pela mentira. Assim se explica o preconceito favorável dos intelectuais a favor dos partidos avançados.
Raymond Aron
In “Memórias”, Raymond Aron, ed. GUERRA & PAZ, 1ª edição portuguesa, Fevereiro de 2018, pág. 129