OS DEDOS E OS ANÉIS
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O presente escrito vem na sequência dos dois anteriores acima Identificados e respectivos comentários mas com uma anotação fundamental: aqueles foram escritos e comentados numa época em que não sabíamos que a pandemia estava a chegar e o presente é escrito depois de muitos milhares de mortos e antes de se dispor de uma vacina comprovadamente eficaz. Ou seja, num período em que o mundo está todo desorientado – tanto como os nossos antepassados medievais com a peste negra e os nossos avós com a tuberculose. Pouco melhor do que o empirismo e com alguma religiosidade a despontar em círculos de desespero. Como nos tempos de antanho, anteriores aos antibióticos, aos antinflamatórios e aos antipiréticos.
Às escuras científicas, dentre as medidas mais eficazes, ressalta o confinamento e o dilema que se coloca é precisamente entre esse confinamento das populações (o que significa o colapso económico) e a reabertura económica que passa pelo desconfinamento acarretando, por si só, (e antes da descoberta de um tratamento eficaz da virose e de uma vacina), um dramático recrudescimento da virose com fatalidades imprevisíveis.
Não tenho um mínimo de conhecimentos que me permita especular sobre a eventualidade de a vacina contra o Covid 19 chegar às prateleiras das farmácias já esse vírus desaparecido e, em sua substituição, estarmos a contas com um qualquer sucessor ao estilo de Covid 20, 21,…
Num condicionalismo deste género, creio fundamental rever a oportunidade de mantermos certos objetivos de equilíbrio orçamental e de atribuição da maior prioridade à redução do stock da dívida pública. Estes, os critérios que eu sempre mantinha no meu consciente como prevenção de insuportável serviço da dívida na qualidade de vida de todos nós, cidadãos.
E assim renasce a questão da coesão europeia com os frugais a quererem o regresso a uma política monetária protectora dos credores (da poupança) e os perdulários a quererem a manutenção da política deixada por Draghi dos juros baixos (negativos, de prteferência) e da prática das quantitative easings por parte do BCE.
Sabidos que são os argumentos de parte a parte (ver textos anteriores), dou por mim a dizer o que antes da pandemia tinha por certo nunca dizer: que não nos podemos agora preocupar com défices orçamentais nem com o nível do stock da dívida pública.
E digo mais: quem tenha fé, reze a todos os santinhos para que o BCE não mude de política até que uma vacina eficaz chegue às prateleiras das farmácias portuguesas.
Para já, em tempo de guerra, não estamos numa de limpar armas mas, logo que apareça a vacina, será tempo de travar a fundo o desequilíbrio a que, entretanto, tenhamos chegado nas contas púlicas de modo a retomarmos o caminho interrompido de saldos primários positivos e, de seguida, encaixarmos o serviço da dívida com alguma tranquilidade.
Antes que a mostarda chegue ao nariz de Lagarde fazendo com que o nosso leão perca a juba e nós fiquemos sem anéis e sem dedos.
E a grande mentira será: não haverá austeridade!
Junho de 2020
Henrique Salles da Fonseca