OS ALCATRUZES
Por tradição, o povo é a maior fonte cultural.
A cultura popular, sobretudo sensitiva, primária, com a tradição oral a anteceder a escrita das «lendas e narrativas», a música e as danças folclóricas a antecederem formas mais elaboradas de acordes e «ballets», a pintura rupestre a anteceder Rembrant e Picasso…
Ou seja, o primitivismo sensitivo a assumir cada vez mais formas elaboradas, espiritualizdas num processo evolutivo das mais baixas classes sociais, as do trabalho braçal, para as mais elevadas, as da aristocracia intelectual.
Assim se estabelece o domínio cultural, político, económico e social das elites pois a intelectualidade é a génese do elitismo. O «chico espertismo» é uma corruptela deste processo.
Mas, a partir de certo momento, a estabilidade social permite que a juventude popular desperte intelectualmente (universitários oriundos do analfabetismo familiar) e assuma funções que os instalados e adormecidos filhos de «boas famílias» deixaram de conseguir assumir.
Já Platão se queixava (ou era Aristóteles?) de que a juventude não respeitava os valores dos anciãos.
Eis o que se está a passar actualmente no âmbito de um processo pacífico mas outros processos foram menos sossegados. Refiro-me, por exemplo, à Revolução Francesa e à russa de 1917 mas outras houve que engrossaram rios de sangue.
E, então, é assim: pacífica ou revolucionariamente, as bases cansam-se das elites e derrubam-nas. Eis ao que assistimos nos telejornais.
Contudo, os que sobem hoje serão derrubados dentro de cinquenta anos (ou menos) com a repetição das lamúrias platónicas (ou aristotélicas?).
Jovens, estudem mais e brinquem menos se não quiserem ser obrigados a cumprir a sina dos alcatruzes quando ficam debaixo de água.