ODE À CIDADE
Dissolvo-me na cidade e mansamente
Tendo a neblina como manto
Sou granito, sou muralha Fernandina...
Mas sou gaivota e pomba e a menina
A por roupa a secar e aquele canto
De fado que se ouve, mais à frente...
Faço parte das ameias que me abraçam;
Sou a calçada onde passa toda a gente
Sou o rio que desliza até à foz...
E sendo eu, sou qualquer de nós
Que deixou um rasto diferente
Nas ruas, com vida, onde se enlaçam
Os pregões brejeiros do passado...
E sou a praça, a praceta, a avenida
A viela mais escura e mais torta
E sou janela e varanda e sou a porta
Por onde sempre entra e sai a vida
No passar dos dias, lado a lado...
Levanto o meu voo matinal!
E o aroma que me chega de oriente
É a prece pelas esquinas da cidade...
Deixo meu coração, tão sem idade
Na noite que adormece e de repente
Vejo-a toda luz, Universal!...
Maria Mamede