O JOGO É UMA PARÁBOLA DA VIDA!
PORTUGAL CAMPEÃO EUROPEU 2016
PORTUGAL 1 – FRANÇA 0
A equipa campeã do Euro 2016 teve um “líder carismático”, Fernando Santos. O treinador convenceu até os seus mais críticos através da organização estável da equipa e da sua eficiência. Da expressão do seu rosto transmitiu a mensagem que no trabalho sério não se ri e, mesmo no caso de um golo bem marcado, os músculos faciais do riso ficam congelados enquanto a missão não estiver cumprida!(1)
No jogo do campeonato concretizou-se o sonho de Ronaldo, o sonho da equipa, o sonho de Portugal: ganhar o europeu: Portugal 1 – França 0, com o golo de Éder no 109º minuto do prolongamento.
A defesa e com ela o seu expoente Ricardo Patrício, tornaram a bola insegura. Parece que reuniram em torno da baliza o anjo de Portugal e todos os espíritos da lusofonia a dar-lhe força e determinação.
No Estádio de Paris que reunia 92.000 espectadores, pulsavam, em tensão alta, o coração de Portugal e de França. Na sequência de alguns cantares galeiróses da imprensa francesa, os fãs de França pareciam ter-se tornado seus altifalantes no estádio; no decorrer do jogo, pouco a pouco, iam baixando o pio, à medida que os fãs portugueses iam levantando as asas. Foi um banho de água fria para a França; a claque francesa do estádio de Paris, que assobiou a saída do Ronaldo do relvado na sequência de um ferimento grave causado por Payet, vê-se também ela obrigada a sair do estádio, mas de cabeça baixa em acto de penitência pela injustiça praticada.
Os franceses tinham começado o jogo com a mesma mexa com que tinham começado o jogo contra a Alemanha. Mas, a estratégia de Fernando Santos desorientou-os de tal modo que a equipa francesa acabou por se adaptar ao jogo de Portugal. A partir daí Portugal dominou! Parabéns a todos e em especial a Ronaldo, Éder, Quaresma, Nani, Pepe, Patrício, e a Fernando Santos com toda a equipa.
Apesar dos complexos de superioridade e de inferioridade em jogo, a França revelou-se uma grande equipa e Portugal também. Importante é manter-se um espírito comedido que não fira susceptibilidades de portugueses nem de franceses.
Jogo é vivência da criação que inebria
O jogo da Selecção Nacional mostrou-se como um resumo da vida: uma vivência em convivência sempre condimentada com o sal do suor e das lágrimas geradas e derramadas, ora na tristeza ora na alegria.
No jogo, como na vida constata-se o esforço dos contraentes; no relvado e no banco dos espectadores, juntam-se vencedores e vencidos numa acção conjunta de contradizer o destino. No jogo, a vida brinca e nela nos jovializamos se fizermos dele uma brincadeira. A bola, a ambição, a fantasia, a magia, o afecto, atrás de que corremos, são tentativas de nos reinventarmos no jogo do estádio da vida.
Ronaldo, nas bancadas, ao lado de Fernando Santos, revelou-se como possível treinador. Onde há fé e vontade surge sempre um caminho, neste caso, o da vitória. A Selecção Portuguesa foi crescendo no campeonato, afirmando-se à medida dos adversários.
Fernando Santos conseguiu construir uma defesa tão eficiente que nem os melhores adversários conseguiram bater. Mostrou que tinha um conceito e uma estratégia eficiente: prevenção de golos. Ficará na memória pela defesa com o guarda-redes Rui Patrício.
A presença de filhos de jogadores no campo a festejarem a vitória deu uma nota muito humana e familiar à festa.
Com a vitória de 2016, Portugal superou o trauma da derrota contra os gregos de 2004, de recordações menos felizes.
No futuro, o Campeonato Europeu já não se realizará num só país. Em 2020 o campeonato europeu será realizado em treze países da Europa.
Uma lição para a política?
Ronaldo esteve sempre presente e o seu ferimento fortaleceu a abertura de espírito para o trabalho de equipa. O espírito comunitário é mais importante que a confiança num homem milagroso.
A vitória é o tema que coloca o resto na sombra e que pode levar muitos a uma perda da visão da realidade em relação à política. A euforia mobiliza forças semelhantes às da esperança que provocam milagres se forem positivamente canalizadas. A futebolite, embora nos subisse à cabeça, não pode ser mais que um momento de pausa e de reflexão no campeonato do Estado. O mesmo Portugal que é grande em futebol poderá ser grande em economia e em política.
E, em matéria de economia, a Selecção do Governo está a perder com a UE, como se expressa no défice público: Europa 2,1% e Portugal 4,4 %. Quem não cumpre as regras, perde-se em conversa de balneários e em campo coloca-se em fora de jogo.
Para se chegar mais longe não é suficiente ter-se a liderança nos pés ou na cabeça; para se qualificar como vitorioso é preciso (como Fernando Santos e a sua equipa) ter-se a consciência de uma missão a cumprir, ter uma vontade, um conceito e uma estratégia definidas; no campo da Nação, não chega ter jogadores ou grupinhos a fazer o seu jogo. Se a nossa política aprender a lição da nossa equipa, Portugal, em pouco tempo, tornar-se-á num modelo para a Europa. Uma ideia peregrina: contratação de Fernando Santos para treinador do Governo!
De resto, c’est la vie! Au revoir! Estão todos de parabéns, vencedores e vencidos!
António da Cunha Duarte Justo