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A bem da Nação

O IMPÉRIO DO MEIO

As conversas são como as cerejas: agarrada a uma vem sempre outra e assim por aí além…

Já não sei como começou mas lembro-me de termos passado pela polémica marca chinesa de telemóveis e termos chegado ao valor real do Yuan.

E a questão a que chegámos, afinal, centra-se no conceito mais inesperado, na palavra «real», não no «valor». Que valor algum há-de ele ter, quanto mais não seja o que o Decreto determina.

Mas centremo-nos no que está em causa: quanto vale o Yuan?

E aqui se dividem as opiniões entre os que dizem que…

… está sobrevalorizado porque, depois de ter absorvido toda a massa quase incalculável das «senhas» (não convertíveis) que circulavam entre os chineses comuns, deveria ter-se desvalorizado para níveis certamente muito mais baixos do que o definido por Decreto;

… está subvalorizado para facilitar as exportações e dificultar as importações.

Desde já me coloco do lado dos que acusam o Yuan de estar sobrevalorizado.

Porquê?

Porque uma moeda cujo valor é definido por Decerto, não representa certamente uma economia transparente em que os preços se formem livremente. E isto mantém-se válido apesar de, entretanto, o Yuan ter sido indexado a um cabaz de moedas credíveis como são o Dólar americano, o Euro, o Yen e o Won da Coreia do Sul. Só que o valor de base é duvidoso pois ninguém me faz acreditar que a absorção de toda a massa monetária não convertível (o Renminbi não convertível) pelo sistema de uma única moeda em toda a República Popular da China, não tenha provocado grande mossa no valor da moeda que já então era convertível, o Yuan. E mais ainda, o «gato escondido com rabo de fora», revela-nos o Yuan, o Dólar de Hong Kong e a Pataca com o mesmo valor. Tudo cheira a artificial e, por causa da tal absorção da moeda não convertível, cheira a falsidade no sentido da sobrevalorização – o Yuan deveria ter um valor muito mais baixo.

Mas, para além destas anormalidades, há ainda outra que tem a ver com o volume de dinheiro anualmente lançado no mercado quando os orçamentos do Partido Comunista Chinês e das Forças Armadas chinesas são segredo de Estado. Qual a política monetária que sustenta uma tal opacidade orçamental? Sim, tudo me cheira a falso.

Quanto à hipótese de o Yuan já estar subvalorizado para sustentar as exportações e dificultar as importações, tenho a recordar que as desvalorizações…

… ou são discretas e decretadas depois do encerramento das grandes praças financeiras, de preferência ao final da tarde de 6ªs feiras para dar tempo à digestão do novo câmbio (até à 2ª feira seguinte) pelos mercados, ou…

… são deslizantes – o chamado «crawling peg» - de modo a que os preços se vão adaptando ao ritmo anunciado da própria desvalorização deslizante.

Em ambas as desvalorizações, os operadores económicos são beneficiados com a informação suficientemente atempada para se poderem adaptar aos novos câmbios e na respectiva correspondência a nível dos preços no mercado doméstico. E na actual sociedade da informação, é inútil pensar que o efeito surpresa exista.

Ora, se o instrumento da competitividade cambial era o efeito surpresa, então ele nunca existiu e actualmente, com a globalização, menos eficácia tal efeito poderia ter. A menos que haja preços tabelados e respectivo controlo policial, nessa situação, a ruptura dos abastecimentos só será evitada pelos mercados paralelos.

Eis por que cada vez mais tenho a política cambial por decreto como um bluff que, para além do mais, tenta esconder os factores da incompetitividade da economia cuja moeda é sujeita a tais desvalorizações. E a China tem outros motivos de salvaguarda da sua competitividade internacional a começar pela inexistência de sindicalismo livre e, consequentemente, pela prevalência de um mercado esclavagista de trabalho.

Então, se eu não acredito na política cambial que possa ou não estar subjacente ao Yuan, para quê preocupar-me com o tema?

Muito simplesmente porque a República Portuguesa se empenhou não há muito tempo em Yuans e o valor dessa moeda deixou de me ser indiferente: quanto mais desvalorizada, melhor para nós, seus devedores. É que eu, ao contrário de um tal que por aí anda, acho que as dívidas devem ser pagas – mas, se pudermos beneficiar de alguma desvalorização da dívida, tanto melhor.

15 de Outubro de 2019

Henrique Salles da Fonseca-16AGO16-2

Henrique Salles da Fonseca

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