O GES e o BES
Henrique Salles da Fonseca pediu:
Prezado Dr. Palhinha Machado, pode esclarecer-nos sobre a questão do GES e do BES?
António Palhinha Machado respondeu:
M/ Caro Dr. Salles da Fonseca,
Tudo o que havia para dizer sobre o caso GES/BES já tem aparecido nos media com os mais variados tons, do róseo ao negro carregado.
Escrever que os Bancos portugueses estão há muito muito frágeis? Seria repetir-me.
Escrever que os Supervisores (BdP e CMVM) não sabem o que andam a fazer? Não tenho feito outra coisa.
Escrever que todo o plano da troika foi mal parido e condenado ao insucesso porque não começou por pôr os Bancos portugueses no são? Já ouço os Leitores do blog a dizer entre dentes: "Lá vem este caturra, de novo".
Escrever que o modelo de mercado tem um pecado original (tem outros, mas é este que se manifesta agora) que é depender fundamentalmente da liquidez sem ter como fixar-lhe o volume desejável? Já o fiz de várias maneiras.
Escrever que no modelo de mercado (tal como hoje existe por esse mundo fora) a liquidez que o faz funcionar é passivo dos Bancos (Bancos Centrais e Bancos Comerciais) e que para emiti-la há que pôr o sistema de pagamentos em contacto directo com os mais diversos riscos financeiros (mais um defeito de origem)? Talvez fosse um pouco assustador.
Escrever que o BdP, logo que começou a entrever a verdadeira situação do GES, deveria ter exigido a limpeza do Balanço do BES, e a inevitável capitalização (com o saldo que ainda existe no empréstimo da troika) para cortar o mal pela raiz? Acusar-me-iam de estar a preencher o Totobola à 2ª fª - e com razão.
Escrever que o BdP e a CMVM não deveriam ter permitido o último aumento de capital do BES antes da referida limpeza, pelo que também eles estão expostos a responsabilidade extra-contratual (mais uma via para chegar ao bolso dos contribuintes)? E lá estaria eu "a malhar nos pobrezinhos", uma vendetta que ninguém compreenderia.
Escrever que o anunciado agravamento da exposição do BES ao GES, nestes últimos meses, só foi possível com a complacência (ou graças à negligência) do BdP? E escreveria o óbvio.
Escrever que passaríamos bem sem a tormenta que aí vem? Lá estaria o profeta da desgraça.
Escrever que tudo isto que nos caiu em cima nos últimos 5 anos, mais o que está vai-não-vai para cair, é uma bênção se nos levar a arrepiar caminho e a comportarmo-nos como uma sociedade civilizada (o que duvido profundamente)? Olha o moralista que só agoira.
É claro que sei mais uns detalhes que ainda não vieram - e, provavelmente, nunca virão - a público. Mas nem seria preciso recordar-me do dever de sigilo profissional para "guardar de Corrado o prudente silêncio".
No fim de tudo, só uma coisa me surpreende, por ir muito para lá do que eu alguma vez imaginei: então, após tantos testes de stress, e já com o fumo negro no ar (pelo menos, desde o momento em que a troika passou as contas dos Bancos portugueses a pente fino), o BdP ainda ignora os números exactos da exposição do BES ao GES, quer no Balanço, quer nas fianças informais? E ninguém por lá é responsabilizado? Isto excede a m/ compreensão.
Como vê, não tenho nada de interessante para publicar. Até porque estou longe, e longe andarei pelos tempos mais próximos.
Abraço