O FORTE DA AGUADA, VELHA GOA E MEMÓRIAS
Com a visita do primeiro-ministro à Índia, torna-se oportuno recordar variados factos que fazem parte da memória colectiva do povo português, dando nova vida aos acontecimentos, às aventuras e desventuras que levaram ao domínio dos mares do Oriente. À chegada a Goa, pelo oceano Índico, como fariam os marinheiros portugueses, ao entrar no rio Mandovi, vê-se do lado esquerdo o Forte da Aguada, erigido para a defesa contra os holandeses e os ingleses. Do lado direito está o Forte dos Reis Magos, reconstruído recentemente, com o apoio de uma ONG inglesa. Este fora erigido em 1551 e mais tarde, em 1707, ampliado, para em conjunto com o Forte da Aguada poder defender-se das agressões inimigas. Na base do forte está a Igreja dos Reis Magos, aberta ao culto e visitada por multidões de turistas.
O Forte da Aguada é imponente, foi construído em menos de sete anos, ficando terminado em 1612, de acordo com o projecto e a orientação do arquitecto militar Júlio Simão. Foi decidido pelo vice-rei da Índia, Aires de Saldanha, e ficou pronto no tempo do vice-rei Rui Lourenço de Távora.
A movimentação e a colocação das pedras obrigariam a utilizar mecânicas que estariam bastante dominadas, dada a quantidade de fortalezas construídas nessas zonas do Oriente. Num local assolado por fortes monções com chuva abundante e grandes amplitudes térmicas, a erosão é inevitável e por isso muito impressiona ver que as fortalezas construídas na Índia, com alguns restauros, continuam a aguentar as investidas da natureza.
Na parte inferior da fortaleza, as embarcações aproximavam-se para se abastecerem de água potável, de uma fonte escavada na rocha, que jorrava abundante água. Daí também o nome do forte. Na parte superior está um farol seiscentista; completam o dispositivo de defesa do Mandovi o Forte de Nossa Senhora do Cabo e o de Gaspar Dias, ainda por terminar, na margem oposta, junto ao Forte dos Reis Magos.
Hoje, boa parte do espaço da fortaleza da Aguada está ocupada por dois hotéis de cinco estrelas do grupo Taj, com belos jardins e vistas amplas para o Índico. Próximo do local está um terceiro hotel do mesmo grupo.
Além das fortalezas citadas, em Goa há ainda a da ilha de Angediva, na parte sul, que teve a sua função de defesa, mas já há muito tempo desguarnecida. Há também o Forte de Mormugão, a proteger o rio Zuari, hoje em precário estado de conservação.
De grande beleza e imponência são as construções que ainda restam da Velha Goa, que foi a capital do Estado da Índia, nos primeiros tempos, até ao surto de uma peste, no século XIX, que levou as populações a buscarem refúgio na actual Nova Goa (ou Pangim, a cidade capital de Goa), ficando os edifícios de Velha Goa abandonados; muitos terão desabado cedendo à força das chuvas das monções.
Na fase final da presença portuguesa, alguns dos edifícios foram aquartelamentos e casernas de militares e apenas depois da anexação pela Índia foram reconstruídos uns e escorados outros, sendo hoje amplamente publicitados como uma grande atracção para os turistas, referidos em folhetos que mostram as belezas e a monumentalidade de Goa. É, pois, um local obrigatório de visita para qualquer português, para reviver o passado e ver muito especialmente a sala que alberga os retratos de todos os vice-reis da Índia, completados pelos dos governadores-gerais, da última fase da Goa colonial.
A UNESCO agrupou sob a designação de igrejas e conventos de Velha Goa um conjunto de monumentos de carácter religioso, para o declarar Património Mundial, no ano de 1986. Os monumentos e as igrejas mais importantes, que subsistem e estão abertas ao culto, são a Basílica do Bom Jesus, que conserva o corpo incorrupto de São Francisco Xavier; a Sé Catedral de Santa Catarina, a Igreja e Convento de São Francisco de Assis, a Igreja de São Caetano, a Igreja de Santo Agostinho... além de muitas outras que desapareceram.
Apesar da concentração de edificações de tipo religioso nesta cidade, abundam ao longo de toda a Goa igrejas de grande porte, de uma presença digna, todas caiadas de branco, de alto a baixo. A fé que moveu os missionários a irem instruir as populações locais também fez construir, com a sua ajuda, igrejas de traça nobre e de grande dignidade. A mensagem cristã ficou assim também gravada em pedra.
14 de Janeiro de 2017
Eugénio Viassa Monteiro
Prof. da AESE Business School e Dirigente da Ass. Amizade Portugal-Índia