O DESESPERO DE VAROUFAKIS
Publiquei há dias nestas andanças internéticas por que habitualmente deambulamos uma imagem de Varoufakis sentado no chão do Parlamento grego enquanto decorria uma qualquer discussão sobre a gravíssima situação negocial a que o Syriza conduziu o país. Ironicamente, legendei a foto com a pergunta sobre se se tratava de desespero perante a hipótese de um acordo entre a Grécia e a UE.
Mas, na verdade, não fui irónico pois estou convencido de que os syrizados gregos e de todas as outras nacionalidades não querem que a Grécia chegue a qualquer acordo com os seus credores.
Porquê?
Porque, para eles, os capitalistas devem ser castigados, as dívidas não têm que ser pagas, os juros são sempre uma forma pecaminosa de agiotagem, porque é aos ricos que cumpre pagar a crise, porque...
Mas se a meio do percurso a UE cedesse em algo decisivo que transformasse o acordo num facto inultrapassável, não seria desta que os syrizados conseguiriam blasfemar contra os credores, contra os mercados, contra o capital, contra os juros, em suma, contra o establishment que eles querem afrontar.
O Syriza só pode imaginar-se sobrevivente se puder atirar as culpas para cima «das Instituições». Quando os gregos forem confrontados com a existência de senhas de racionamento a que eufemisticamente chamarão «Novo Dracma», terão por certo que lidar com cifras enormes para os escassos bens que consigam chegar às bancas dos mercados. Fome? Sim, muito provavelmente porque a agricultura grega sempre foi paupérrima e porque o pouco que se chegou a produzir se revelou incapaz de competir com o homólogo importado. E depois, era muito mais fácil importar do que dar-se à trabalheira da produção. Mas é claro que de todos esses desastres serão culpabilizadas as Instituições e respectivos especuladores.
É, pois, imprescindível para a esquerda mundial que a Grécia não chegue a acordo com os credores sob pena de se lhe rasgar definitivamente a bandeira da contestação.
Junho de 2015
Henrique Salles da Fonseca