O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 – 6
Qualquer crítica – e qualquer defesa – que se baseie sobretudo em chamar nomes aos defensores e aos críticos, não é crítica nem defesa: é mero desabafo, auto- regozijo pela certeza que transborda da alma de cada um. Não vale nada.
Por isso não me atrevo a ser contra a adopção do Acordo Ortográfico de 1990 sem
apresentar as razões em que me baseio.
Os argumentos que se seguem são de ordem operatória, fonológica, morfológica, de linguística histórica, sociológica, diplomática, económica e de preservação histórica.
Há mais, porém fico por aqui.
- Argumento sociológico
Por volta de 1990 já existiam duas principais formas de escrever em Portugal: a norma de 1945, muito bem destrinçada e explicada em Prontuários Ortográficos; e uma “norma” difusa, sempre em reconstrução e evolução – a das mensagens juvenis – caracterizada pela simplicidade extrema, minimalista, com consoantes isoladas representando palavras, sem pontuação, nem cedilhas, nem tiles. Esta tendência não fez senão acentuar-se com a generalização do uso electrónico.
É nesta escrita dicotómica que se insere uma terceira norma, a do AO 90.
Os defensores da norma de 45 agridem verbalmente os defensoras da 90 e vice-versa.
E os jovens?
Alguns são prejudicados nas notas por escreverem à antiga algumas palavras-ratoeira; outros são menosprezados porque escrevem à sua, deles, moda; e os que escrevem “à moderna” deixam de respeitar as edições existentes na biblioteca da sua Escola e inclusive invocam o pretexto da “confusão gráfica” para deixarem completamente de ler.
Se o AO 90 não é um erro sociológico, não sei o que será.
(continua)
Manuela Barros Ferreira
Campo Arqueológico de Mértola