NÚCLEOS CEREBRAIS
O núcleo do tracto solitário e o núcleo parabraquial recebem sinais que descrevem o meio interno de todo o corpo. Nada lhes escapa. Chegam-lhes sinais da espinal-medula e do núcleo trigémeo e até mesmo sinais de regiões cerebrais tal como da área prostrema, bastante próxima, desprovidas da barreira protectora entre o sangue e o cérebro e cujos neurónios reagem directamente a moléculas que se deslocam na corrente sanguínea. Os sinais formam um panorama global do meio interno e das vísceras, tratando-se essa imagem da componente principal dos nossos estados de sentimentos. Estes núcleos estão ligados abundantemente uns aos outros tal como estão interligados abundantemente à substância cinzenta periaquedutal (periaqueductal gray, PAG), situada na proximidade. A PAG é um conjunto complexo de núcleos, com múltiplas subunidades, e é aí que tem origem uma vasta gama de reacções emocionais relacionadas com a defesa e com a agressão e ainda com a dor. O riso e o choro, as expressões de aversão ou de receio bem como as reacções ao frio extremo ou a fuga em situações de medo, tudo isso é desenvolvido a partir da PAG. O emaranhado de ligações entre estes núcleos adequa-se bem à produção de representações complexas. O diagrama básico destas regiões qualifica-as para um papel de criação de imagens e os sentimentos constituem o tipo de imagens criadas por estes núcleos. Além disso, como estes sentimentos representam passos fundamentais na construção da mente e são também essenciais para a manutenção da vida, faz sentido, a nível da «engenharia evolutiva», que a maquinaria de apoio se baseie em estruturas alojadas, literalmente, ao lado das que regulam a vida.
In António Damásio, “O LIVRO DA CONSCIÊNCIA”, ed. Círculo de Leitores (1ª edição, Novembro de 2010), pág. 107