NÓS, OS FILHOS DOS VENTOS CÁLIDOS – 4
“Liberdade, igualdade, fraternidade”
Eis os valores que o Liceu Francês veio promover em Portugal.
“Libertinagem, vulgaridade, promiscuidade”, as acusações a que eram sujeitos os princípios republicanos franceses pela sociedade portuguesa mais conservadora.
Era entre estes dois limites que uma parte importante da minha geração se situava. No meu caso, com claro pendor para a liberdade contra a libertinagem, pela igualdade contra a vulgaridade, pela fraternidade contra a promiscuidade. Tudo, numa versão não jacobina nem maçónica. De tradição familiar republicana e democrática, era-me fácil absorver aquela liberdade não constrangida por grilhetas físicas ou intelectuais, a igualdade não condicionada por preceitos sociais de nascimento, a fraternidade como atitude natural numa sociedade mais virada para a compaixão do que para o egoísmo. Por que não? Porque o contrário seriam a escravatura, a prevalência da «pureza genética», o isolacionismo individualista.
E precisamente porque os meus pais não me queriam de sotaina, me queriam mundividente e liberal, mandaram-me para o “Charles Lepierre”. Este, o «homem novo» que eles queriam, não o fardado da “Mocidade Portuguesa”.
(continua)
Maio de 2019
Henrique Salles da Fonseca