NÓS, OS FILHOS DOS VENTOS CÁLIDOS – 10
Foi pouco depois da consolidação do pluripartidarismo que os Partidos políticos portugueses se definiram como clubes de pertença, mais do que como centros de discussão política.
Alienadas as cabeças das bases, ficaram os dirigentes com pulso livre para administrarem com folga os temas que mais lhes interessavam. Política feita «de cima para baixo» ao invés da Democracia representativa apregoada; representativa dos dirigentes, sim, não das bases. Viveu o clubismo, feneceu a formação política, cresceu o desinteresse, a abstenção transformou-se no maior «partido» português.
É a Democracia que periga, não por outra golpada militar mas sim endogenamente pelo desencanto do eleitor que de um momento para o outro passa a dar ouvidos a um qualquer gauleiter que por aí se apresente como «salvador da Pátria enganada». E esses já andam por aí a farejar e a alçar a perna nas urnas de voto ou apenas exibindo carismáticas «carinhas larocas» com discursos populistas de esquerda.
Só que os dirigentes dos Partidos estruturais ou não percebem ou – pior ainda – fingem que não percebem.
Sim, Caro Leitor, sou de opinião que se torna imprescindível dizer aos políticos profissionais portugueses que estamos fartos deles, que queremos uma democracia muito mais directa, a «de baixo para cima» e que o sentido ascendente deve começar dentro dos Partidos mesmo antes de chagar à rua. E mais do que uma escolha democrática de representantes, trata-se da identificação dos temas a debater e sobre que cada Partido se deve pronunciar depois de democraticamente definido o sentido da pronúncia.
Para já, até prova em contrário, a minha geração prepara-se para mais um balde de água fria, o terceiro sonho a ruir, mais um.
(continua)
Junho de 2019
Henrique Salles da Fonseca