NO DIA DE TODOS OS SANTOS
Invocar todos os Santos duma só vez, exige por certo um grande poder de síntese fazendo incluir todos numa só prece.
Não partilhando de opções colectivistas nem de preces à molhada, fico-me pelo meu onomástico, Santo Henrique. E qual não foi o meu espanto quando, há anos, procurei saber de quem se tratava e… em vez de um, encontrei dois Santos com o meu nome.
De memória, cito que um deles se distinguiu pelo bem que praticou e o outro, pasme-se, pelo mal que fez a gente de bem.
Então, terá sido mais ou menos assim:
- O primeiro do nome foi «Imperador» na Alemanha e ter-se-á distinguido pela boa governança, pela boa justiça que administrou, pela protecção dos desvalidos;
- O segundo, também alemão, foi cruzado e, embarcando no norte da Alemanha, rumou a Sul até que, passando pelo Porto, se integrou na frota que zarpava para a conquista de Lisboa aos mouros que, afinal, eram maioritariamente cristãos moçárabes e que ele ajudou a chacinar até que alguém o trespassou. Jaz algures no cemitério dos teutões sob a igreja de S. Vicente de Fora.
A propósito, como seria culturalmente interessante estudar a exegese e os ritos moçárabes, os quais eram herdeiros dos homólogos visigóticos.
Com ironia, pergunto-me se nas veias deste Santo Henrique ainda correria sangue de algum seu antepassado visigodo. Mas a história deve então ter sido contada de outro modo e ele foi mesmo canonizado. E os que ele matou?
Amanhã, Dia de Finados, vou lembrar-me dos cristãos martirizados na conquista de Lisboa, moçárabes.
Lisboa, 1 de Novembro de 2021