NAS SALSAS ONDAS
Dizia-me há dias um amigo que nas férias, sem nada que fazer, lhe dá para escrever. Ao que lhe perguntei: - E do que mais gostamos do que de pensar? O texto que então me enviou acabava com a informação (cont.) que para mim significa que o prazer da aprendizagem não cessa ali. Aguardo os próximos…
Quanto a mim, já não distingo as férias das não-férias, os dias úteis dos outros (que, por exclusão de partes, devem ser inúteis), todas as horas de todos os dias são iguais e, como sou dono da minha agenda, tanto posso estar a estudar e a escrever às quatro ou cinco da manhã como a dormir às seis ou sete da tarde. Parece que o Doutor Salazar também fazia isso de estar a descansar (as pessoas importantes não dormem) a qualquer hora e estar a trabalhar quando todos os outros à sua volta estariam a dormir. De vigília? Não. Relativamente ao Doutor Salazar, quem estava de vigília era a PIDE; ele estaria a pensar e a decidir.
E cada vez mais me convenço que todas as horas são boas para aprender e que é frequente aprender alguma coisa quando menos se espera. Mas porque esse inesperado momento é isso mesmo, inesperado, todos os momentos em que descanso são putativamente perdidos no ganho de saber ou, no mínimo, de alguma sabedoria. Só que, dormir é necessário e não há que dormir menos do que o imprescindível para não se agarrar alguma moléstia cardíaca. Mais do que isso, é mândria. Vai daí, alguma aceleração atípica de um aposentado, o que também pode fazer mal ao coração.
Contudo, se todos estes argumentos aconselham ao abrandamento do ritmo, é um ditado popular que me alerta contra a aceleração: - Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo.
E lá vem a aprendizagem inesperada. As últimas linhas do romance «A brasileira de Prazins» de Camilo Castelo Branco citam uma frase de Voltaire que me faz pensar redobradamente na volatilidade de todas as nossas preocupações: «Deixaremos este mundo tolo e mau tal qual ele era quando cá entrámos». Não sei se é verdade mas faz-me pensar.
E pensar é do que gosto tanto no alto da montanha como aqui onde estou, junto das salsas ondas.
Tavira, Agosto de 2016
Henrique Salles da Fonseca