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A bem da Nação

NA RUA DOS NAVEGANTES - 1

NOTAS PRÉVAS

  1. Navegante é todo aquele que se faz transportar numa nave (navio); navegador é aquele que comanda e dirige uma nave (navio). Ou seja, todos os navegadores são navegantes mas nem todos os naveganfes são navegadores.
  2. A Rua dos Navegantes é em Lisboa, ali à Estrela, no centro da Capital do Império que foi.
  3. Tendo sido desafiado para dissertar sobre navegadores, logo me lmbrei de o fazer enquanto passeava ao longo da Rua dos Navegantes.

* * *

Então, é assim que…

…qQuando pensamos em navegantes, logo nos vêm à memória «os nossos egrégios avós que nos hão-de levar à vitória» mas eu creio que outros há que não se incluem nos hinos da glória e que merecem a nossa evocação.

Sugiro que não esqueçamos o Almirante Gago Coutinho que foi o navegador do avião «Lusitânia» pilotado pelo Comandante Sacadura Cabral e que não passemos em falso por Paulo da Gama, esse, sim, homem de mar e não o seu mano Vasco que era homem de sequeiro.

Mas neste introito pretendo ensaiar uma correcção histórica evocando um injustiçado pela memória.

Assim, da tripulação da frota da grande viagem de Fernão de Magalhães, poucos foram os que chegaram à História: para além do próprio Magalhães, saltaram para a glória dos tempos o cronista António Pigafetta e o contabilista da expedição Juan Sebastian del Cano. O cronista chegou à História pela sua própria mão pois editou profusamente a sua importante crónica ao longo dos muitos anos que viveu confortavelmente na sua Génova natal; o contabilista chegou à História porque era espanhol. Mas…sigamos Pigafetta…

Emboscado e morto Fernão de Magalhães, seguiu-se-lhe na mesma «sorte» Duarte Barbosa, Contramestre da expedição e cunhado de Magalhães. Afastada a liderança portuguesa, ficava livre o caminho para a glória castelhana e, vai daí, urgia nomear novo comandante. Instalada a disputa entre os espanhóis de mar, acabaram por assentar na escolha do que nada sabia de mar nem de azimutes. Eis como o comando foi para o Cano. Mas o orgulho marinheiro dos auto preteridos ter-se-á evaporado e todos começaram a sofrer de maleitas incapacitantes para a pilotagem. A melancolia terá sido contagiosa pelo que sobrava o piloto português Francisco Rodrigues que, saudoso da namorada que deixara em Sevilha, assumiu a pilotagem da única nau que restava de toda a frota, a carraca «Victória». Indo o comando «de facto» parar às mãos do português e deixando o «de jure» ao contabilista, Francisco Rodrigues teve que tomar imediatamente algumas decisões fundamentais pois já Magalhães concluíra (à custa da própria vida) que as Molucas se situavam no hemisfério português conforme Tordesilhas. E a decisão mais importante foi a de se esconder o melhor possível de navios portugueses e das suas rotas habituais.

Assim, ziguezagueando pelo resto ocidental das Filipinas, correu pelo Estreito de Torres deixando a bombordo a ilha dos coelhos gigantes, serpenteou pelas Molucas e Celebes, deixou Java a estibordo e tomou o Índico em diagonal por mares de ninguém no rumo constante de sudoeste. Deixou a Ilha de S. Lourenço a estibordo para lá do horizonte assim chegando à vista da curva índica africana. Aí chegados, conta Pigafetta com detalhes tenebrosos, apanharam ondas de dezasseis metros que conseguiram passar porque a «Victória» era uma carraca a cujo comando ia o formidável Rodrigues. Afinal, o temível «mar das tormentas» até lhes pareceu sereno.

Chegados ao Atlântico, rumo a Norte, vento pela ré, já todos se sentiam em casa.

Mas nem assim os ânimos esmorecidos se reanimaram e quando finalmente a «Victória aportou a San Lúcar de Barrameda, parecia um cangalho desprezível e a população demorou tempo a ovacionar o contabilista.

E o Rodrigues?

Mistério…!!!

Agosto de 2022

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